Imagem: SAAB

Por Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior

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Ao longo da história, a evolução da ciência, da tecnologia e da engenharia militar impactou muitos aspectos dos conflitos. Atualmente, esse impacto permanece, com a diferença no escopo e na velocidade de tal evolução. Os desdobramentos dessa evolução tecnológica são imprevisíveis e representam uma revolução no modo de condução das guerras.

Em um mundo que valoriza cada vez mais os dados digitais, a diversidade das questões se multiplica. Qual será o papel da Inteligência Artificial aplicada à tomada de decisão? Como as forças militares vão empregar veículos cada vez mais autônomos? Como será a proliferação dessas novas tecnologias? Perante o Direito Internacional dos Conflitos Armados, quem seria o responsável por uma ilegalidade causada pela decisão de um robô? Novos materiais, impressão 3D, biotecnologia, nano satélites, baterias e diversos outros fatores também são variáveis importantes.

Para lidar com esses desafios, a Marinha do Brasil tem investido nos estudos dessas mudanças de forma rigorosa e ao mesmo tempo criativa, escapando das armadilhas de paradigmas que possam se ancorar. Ao mesmo tempo, em que é necessário seguir com os planejamentos da Força Naval fundamentados nos conhecimentos disponíveis, é necessário criar um fórum onde as análises e discussões sejam o mais livre possível e considerem todas as possibilidades das perspectivas navais.

Visto isso é importante estarmos atualizados quanto às possibilidades e tendências dos avanços exponenciais da tecnologia e da engenharia militar-naval. Ainda, realizar exercícios sobre a Guerra Naval do Futuro, gerando insights que poderão ser do interesse da Marinha do Brasil e de outras instituições relacionadas à defesa.

A Escola de Guerra Naval (EGN) é uma OM importante nesse processo, visando sempre aprimorar os estudos sobre os conflitos, não somente aqueles do passado e da atualidade, mas também as possibilidades no futuro.

Como parte desse processo de reduzir as incertezas do futuro, a EGN por meio do Centro de Jogos de Guerra, testa e exercita todas as possibilidades de atuação do Poder Naval e como obter as melhores formas para o seu emprego.

Um exemplo de fator de futuro já presente são os testes de “navios mercantes autônomos”, que implica em novas necessidades de aplicação do Poder Naval e impacta no tráfego marítimo comercial. Junto a esse futuro o e-Navigation – que tem como propósito a redução de erros, tornando a navegação nas áreas marítimas e nas vias navegáveis interiores mais confiáveis e mais simples – não é um tipo de equipamento, mas sim um “conceito” que contempla uma ampla gama de sistemas e serviços integrados de informação, relacionados à navegação. É necessário, portanto, que os usuários de bordo e de terra, responsáveis pela segurança da navegação, sejam equipados com ferramentas atuais, assim como otimizadas para a tomada de decisão.

Impactos do Futuro

impactos futuro

Os impactos do futuro nos remete aos combates da Guerra Naval, visto que o sucesso de uma Operação Naval depende fundamentalmente da troca de informações de forma robusta e segura.

Os navios interligados por redes que utilizam o Protocolo de Internet (IP) necessitam de alta capacidade de transferência de dados utilizando comunicação por satélite, para troca de informações entre navios e centros de comando e controle. Assim, considerando a “guerra da informação”, são exigidos marinheiros e fuzileiros altamente qualificados e motivados.

As tecnologias e a engenharia militar modernas mudaram o Ambiente Operacional. Neste novo ambiente, as imagens de satélites dificultam a ocultação de Forças Navais e a Guerra Cibernética é uma nova realidade. Sofremos ataques, tanto em setores do governo como na iniciativa privada.

Os satélites e a Internet conectaram o planeta, tornamo-nos dependentes dessa tecnologia e de sua engenharia, o que nos oferece novas oportunidades a serem exploradas e novas vulnerabilidades a serem protegidas. Os cabos submarinos de fibra ótica são fundamentais para a comunicação. Eles interligam seis dos sete continentes da Terra. Apenas a Antártica, ainda não conta com uma ligação do tipo. Esses cabos atravessam os oceanos e fazem com que a troca de informações entre os países seja rápida e eficiente. São milhares de quilômetros de fibra óptica, que respondem por cerca de 99% das conexões do nosso planeta. Até 2019, oito novos cabos submarinos vão entrar em operação no Brasil, mais do que dobrando a capacidade de tráfego dos seis, que existem atualmente.

A informação, seja por meio de imagem, texto ou vídeo, circula, em alta velocidade, livremente pela Internet, permitindo que cada indivíduo funcione como um vetor de propaganda no conflito pelas mídias sociais, propiciando a influência de novos atores no desenrolar das ações militares, como as Organizações Não Governamentais, Organizações Internacionais etc.

Para nos adaptarmos a essa nova realidade, surgem novos desafios para a proteção cibernética de nossas Forças e para o recrutamento e capacitação de pessoal capaz de operar nos novos domínios do Ambiente Operacional: o espacial e o cibernético.

Abordando, ainda, as evoluções tecnológicas no Ambiente Operacional, vemos uma presença cada vez maior dos drones no campo de batalha, passando de poucas dezenas, no início do século, para milhares atualmente, conforme mencionado por Peter Singer em seu livro “Wired for War”, e ocupam os três ambientes: terra, mar e ar.

As armas a laser e eletromagnéticas são uma nova alternativa para sistemas de armas. No entanto, apesar de há pouco inseridas como ficção científica, estão equipando navios da Marinha dos Estados Unidos da América, tendo como alvos todos aqueles, que estiverem dentro do alcance desses sistemas de armas.

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Em que pese a importância dos desafios estratégicos apresentados, temos que considerar que a capacidade das Marinhas cumprirem os objetivos pretendidos está relacionada com o desenvolvimento científico, tecnológico e da engenharia dos respectivos países. Dessa maneira, posicionar a Marinha do Brasil entre as Marinhas de maior destaque no cenário mundial é o maior desafio, que só poderá ser alcançado se houver avanços significativos nas áreas prioritárias indicadas na Estratégia de CT&I, elaborada no âmbito da nossa Marinha.

A definição de estratégias para colocá-las no mesmo nível com as Marinhas mais desenvolvidas depende da capacidade da Marinha do Brasil em identificar fatos portadores de futuro e propor ferramentas, que contribuam para a tomada de decisão sobre os investimentos a realizar. É necessário aumentar o dispêndio em pesquisa e desenvolvimento (P&D), incluindo parcerias com as academias e a base industrial de defesa, e ser capaz de atrair e manter os recursos humanos necessários.

A inovação tecnológica acrescenta valor aos produtos e ganho nos processos produtivos de uso dual. O desafio de promover a capacidade de converter idéias em valor é preponderante para o sucesso das nossas atividades. Gradualmente, é necessário transferir parcela de investimentos em importação de tecnologia e serviços especializados (com a transferência de tecnologia) para os setores de pesquisa e desenvolvimento.

A consolidação do Sistema de CT&I da Marinha resulta da garantia de continuidade das ações, a fim de que não sejam interrompidos Programas e Projetos fundamentais para o desenvolvimento da CT&I no âmbito da Marinha do Brasil.

Devemos buscar financiamento nos Fundos e Programas Governamentais e também na iniciativa privada; formar, atrair e fixar profissionais qualificados e comprometidos com o avanço do conhecimento científico e participar dos programas de inovação tecnológica.

Para atender as Marinhas do Amanhã e do Futuro, as necessidades do Poder Naval na Amazônia Azul, o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha do Brasil enfrenta grandes desafios, além da obtenção continuada de recursos financeiros, de modo a dar prosseguimento aos projetos em desenvolvimento; e, o que reitero como mais importante, termos recursos humanos da carreira de engenharia para o amplo conhecimento sobre os diferentes ambientes operacionais de interesse da Marinha do Brasil.

Outro importante desafio é a redução do gap tecnológico e a obtenção da independência tecnológica da Marinha e do Brasil em produtos de defesa. O investimento em meios navais atualizados representa buscar a capacidade técnica e gerencial para usar e operar tecnologias existentes. Daí, a necessidade de uma maior participação do setor de ciência, tecnologia e engenharia nos contratos de offset, de modo a:

– manter a capacitação de recursos humanos na área de Propriedade Intelectual (PI);

– desenvolver tecnologias, notadamente as “Tecnologias-Chave”, que possam contribuir para a soberania tecnológica do País;

– domínio da Inteligência Tecnológica; e

– contribuição para a tomada de decisão do Conselho de Ciência e Tecnologia da Marinha (CONCITEM).

 

Fonte:

BARBOSA JUNIOR, Ilques. Aula Inaugural dos Cursos de Altos Estudos Militares da Escola de Guerra Naval do ano de 2018. Revista da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, v. 24, n.1, 2018.

Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).