Paz, palavra proveniente do latim pax ou pacis, que significa ausência de guerra. De fato, corresponde ao objetivo precípuo da humanidade e à condição da qual não se pode prescindir para que outros direitos fundamentais sejam assegurados. Traduz-se pela possibilidade de viver sem temor, sob a luz da esperança, da ordem, da justiça e da civilidade.

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A paz, tão celebrada e tão almejada, mas que, por vezes, é ameaçada por conflitos armados que trazem a dor da perda de pessoas queridas, a fome e os abusos contra os direitos e a dignidade humana. A paz, meta tão abstrata, mas tão valiosa.

Hoje o mundo comemora o Dia Internacional dos Mantenedores da Paz, também conhecidos como peacekeepers. Essa data rememora o dia 29 de maio de 1948, quando os boinas-azuis, sob a bandeira da ONU, foram enviados para monitorar o acordo de cessar-fogo árabe-israelense.

Reconhecer o valor dos soldados da paz transcende a simples celebração de uma data especial. Devotamos a eles admiração e orgulho, convictos de que, graças aos seus esforços, temos a esperança de habitar um mundo mais fraterno e seguro.

Na primeira metade do século XX, a humanidade vivenciou conflitos de dimensão global. Milhões de pessoas sofreram as consequências decorrentes das guerras. Nações inteiras foram devastadas e um imenso esforço foi necessário para a reconstrução da sociedade contemporânea. Após esses lastimáveis episódios da história, foi criada a Organização das Nações Unidas e, sob sua tutela, iniciaram-se as missões de paz, visando à mitigação dos efeitos de novos conflitos.

Desde o advento desse esforço global, o Brasil participa, de forma ativa e exitosa, com a presença de observadores militares, oficiais de estado-maior, policiais, contingentes de tropas, viaturas, aeronaves e navios, que estiveram presentes em 42 das 71 operações de paz que foram conduzidas.

O contínuo envolvimento nessas iniciativas pela paz reflete os preceitos constitucionais que orientam o Brasil, no âmbito de suas relações internacionais, quanto à prevalência dos direitos humanos, à defesa da paz, ao respeito à soberania das nações e à busca da solução pacífica para os conflitos. A tradição brasileira defende, ainda, a cooperação para o progresso da humanidade, a autodeterminação dos povos e o princípio da não-intervenção.

Nesse sentido, releva mencionar a atuação dos mais de 3.600 militares da Marinha do Brasil na Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), entre 2011 e 2021, empregando navios e aeronaves, em revezamento, destacando-se, entre esses, as Fragatas Constituição, Liberal, Independência e União, além do Navio-Patrulha Apa e da Corveta Barroso, que operaram por longo período a mais de 8 mil milhas de suas bases.

Tendo à frente o Exército Brasileiro, a atuação na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) foi outro destacado exemplo do empenho dos militares brasileiros pela paz. No Haiti, mais de 37 mil boinas azuis da Marinha, do Exército, da Força Aérea e das Forças Auxiliares revezaram-se, levando àquela nação amiga a segurança, o apoio e a solidariedade.

A Força Aérea Brasileira participou, entre 1960 e 1964, da Missão de Paz da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (ONUC), com quatro contingentes que operaram aeronaves de asa fixa e rotativa no cumprimento das missões de transporte e resgate em região hostil.

Em várias situações, o Brasil desempenhou missões de liderança do componente militar em operações de paz. No período em que o País participou da UNIFIL, coube a dez almirantes brasileiros comandarem a Força Tarefa Marítima da missão. Na MINUSTAH, o Brasil ocupou o comando do componente militar por treze anos consecutivos, tendo onze generais como Force Commander, naquele que se tornou o mais relevante emprego de tropas brasileiras no exterior desde a 2ª Guerra Mundial.

Na Missão da Organização das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo (MONUSCO), de 2013 a 2016, e a partir de 2018, o Brasil ocupa a liderança do componente militar com um general do Exército Brasileiro, atuando como Force Commander. Há, ainda, a Chefia do Estado-Maior da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, que é exercida por um oficial-general do Exército Brasileiro. Todas essas evidências ratificam a aptidão dos militares brasileiros para liderar e conduzir esforços pela paz mundial, atuando em ambientes complexos e instáveis.

Atualmente, entre as operações de paz em curso, no Chipre, no Iêmen, no Líbano, no Mali, na República Centro-Africana, na República Democrática do Congo, no Saara Ocidental, na Somália, no Sudão, no Sudão do Sul e em Abyei, o Brasil emprega 88 militares que desempenham missões individuais ou integrando tropas multinacionais, sendo 70 homens e 18 mulheres.

A crescente participação feminina brasileira nas missões de paz reflete o alinhamento com a agenda “Mulher, Paz e Segurança” e com a “Estratégia de Paridade de Gênero da ONU”. As militares brasileiras têm se destacado por sua valorosa contribuição.

Para a preparação de seus contingentes e de missões individuais para as operações de paz, o Brasil dispõe de dois centros de referência internacional: o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) e o Centro de Operações de Paz de Caráter Naval (COpPazNav). Os cursos conduzidos nesses estabelecimentos contam com a certificação do Serviço de Treinamento Integrado do Departamento de Operações de Paz da ONU.

Também destacamos a participação brasileira em variados fóruns, destinados à troca de experiência e à ampliação da interoperabilidade nessas ações. No corrente ano, o Brasil exerce a presidência da Associação Latino-Americana dos Centros de Treinamento para operações de paz.

Neste período em que o Brasil celebra 200 anos de independência, seguindo-se dos eventos históricos que ocorreram após o grito do Ipiranga e levaram à consolidação de nossa emancipação política, destacamos que somente os fortes têm a capacidade de garantir a paz. Com esse foco, o governo federal, por meio do Ministério da Defesa e do esforço conjunto da Marinha, do Exército e da Força Aérea, empenha-se no fortalecimento da estrutura de defesa nacional e trabalha no sentido de manter a capacidade militar para emprego nesse tipo de operação quando necessário.

A busca pela capacidade operacional plena e a conquista da autonomia tecnológica pelas Forças Armadas são objetivos permanentes do Ministério da Defesa. Aliados a eles, o preparo das unidades operativas e a capacitação do pessoal militar visam sempre ao melhor emprego de recursos, em prol do pronto atendimento das demandas que acorrem ao Estado brasileiro.

Como resultado desse esforço, recentemente, o Brasil obteve uma certificação inédita. Um efetivo brasileiro foi elevado ao nível 3 no Sistema de Prontidão da ONU, como Força de Reação Rápida de Fuzileiros Navais, ocupando o grau máximo de avaliação para emprego em missões de paz. Ademais, o Exército Brasileiro possui certificados, além da Força de Reação Rápida, uma Companhia de Engenharia, dois Batalhões de Infantaria e um Hospital de Campanha.

Dotado de tropas aprestadas, capacidade de liderança, equipamento militar compatível e motivação profissional, o Brasil, busca continuamente o aprimoramento do preparo do componente militar à disposição do Estado brasileiro. Isso proporcionará ao País a possibilidade de integrar, a qualquer tempo e em qualquer lugar, uma nova missão de paz, em consonância com o sistema de prontidão de capacidades de manutenção da paz das Nações Unidas e alinhado à estatura geopolítica nacional.

Hoje, o mundo está novamente numa corrida armamentista. Mas, além de se manter em permanente atualização de suas capacidades militares e na constante busca do estado da arte na defesa nacional, com Forças Armadas adequadamente equipadas e preparadas para conflitos, contamos também com as armas mais fortes que nós temos e que realmente podem evitar o flagelo da guerra, que são o diálogo e a fraternidade, características do povo brasileiro.

Comprometido com a paz mundial e com a solução pacífica de conflitos, o Brasil mostra a sua força, representado por mantenedores da paz que, até mesmo com o risco de vida, empenham-se pela busca de um mundo mais seguro e estável.

Assim, a tradição brasileira de 75 anos de muito trabalho e sacrifício a serviço da paz mundial nos dignifica o direito de hoje prestarmos o nosso reconhecimento aos mais de 53 mil militares que atuaram como capacetes azuis da esperança.

Por fim, manifestamos a nossa gratidão e o nosso respeito aos 41 brasileiros que partiram deste mundo durante o cumprimento de operações de paz. Reconhecemos o seu extremo sacrifício e prestamos-lhes a nossa homenagem, ao mesmo tempo em que nos sensibilizamos perante as suas famílias.

A paz começa em cada um de nós.

Brasília (DF), 29 de maio de 2023.

José Mucio Monteiro Filho
Ministro de Estado da Defesa
Almirante de Esquadra General de Exército Tenente-Brigadeiro do Ar
Marcos Sampaio Olsen Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva Marcelo Kanitz Damasceno
Comandante da Marinha Comandante do Exército Comandante da Aeronáutica
Marcelo Barros, com informações do Ministério da Defesa
Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).