Navio utilizado para instalar o cabo de telegráfico transatlântico - Domínio Público, via Wikimedia Commons

Você pode não perceber ao navegar na internet, mas, muito provavelmente, os dados que você está acessando fizeram uma longa viagem submarina. Surpreendentemente, cerca de 99% de todas as comunicações digitais globais são transportadas através de enormes cabos que repousam no fundo dos oceanos. Esta saga subaquática de informações começou em 1858, quando o primeiro cabo submarino intercontinental, ligando o Canadá à Irlanda, foi instalado.

Nos siga no Instagram, Telegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias de nossas forças armadas e indústria da defesa.

Samuel Morse e a Atlantic Telegraph Company

samuel morse
Retrato de Samuel Morse / Crédito: Domínio Público, via Wikimedia Commons

A ideia dos cabos submarinos nasceu em 1840, apenas dois anos após Samuel Morse ter demonstrado seu revolucionário sistema telegráfico. Quem assumiu o desafio de colocar a ideia em prática foi a Atlantic Telegraph Company, uma empresa criada pelo magnata americano Cyrus Field em parceria com os britânicos John Watkins Brett e Charles Tilston Bright. O desafio não era apenas tecnológico, mas também logístico. Precisavam-se de cabos isolados do ambiente, capazes de conduzir eletricidade por milhares de quilômetros e com alta resistência.

Guta-Percha: O Segredo do Sucesso

A solução para esses desafios veio de um lugar inusitado: a Índia, que se juntou oficialmente ao Império Britânico em 1858. Lá, crescia uma planta conhecida como guta-percha, que produzia uma borracha mais resistente que a da seringueira brasileira. O cabo ideal seria formado por sete fios de cobre trançados, cobertos por três camadas de guta-percha, enrolado com fibra de cânhamo e piche e fechado com uma malha de fios de ferro. Foram produzidos 4 mil quilômetros deste cabo.

As Primeiras Mensagens Intercontinentais

rainha vitoria
Rainha Vitória / Crédito: Alexander Bassano (1829–1913) / Domínio Público, via Wikimedia Commons

Depois de duas tentativas fracassadas, as duas extremidades do cabo finalmente se conectaram em 4 e 5 de agosto de 1858. Uma semana depois, a primeira mensagem intercontinental da História foi transmitida, anunciando timidamente a era da comunicação global. Mas foi quatro dias depois, com a mensagem de congratulações da Rainha Vitória, que o significado do feito foi verdadeiramente sentido. A mensagem de 98 palavras levou 17 horas para ser transmitida, mas o tempo de transmissão logo se tornaria irrelevante.

Em 18 de setembro do mesmo ano, o cabo ficou mudo, uma seção no meio do mar queimou, e o reparo era impossível. Um segundo cabo foi instalado em 1866 e, na virada do século, o planeta inteiro estava conectado através de rotas muito semelhantes aos atuais cabos de fibra óptica. As notícias que antes levavam semanas agora chegavam quase instantaneamente. Era o começo do mundo em que vivemos hoje.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).