Reprodução: Jornal da USP

Antes de explorarmos está ideia um tanto (talvez) utópica, que em um primeiro momento pode parecer muito distante da realidade; mas, possui uma importância enorme para o futuro, visto as transformações geopolíticas atuais.

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Tal artigo NÃO leva em consideração a posição política de momento dos países citados, bem como, crise de guerra, conflitos, sanções econômicas e outros.

Primeiro, vamos fazer um breve resumo do que são os BRICS, para entender sua composição.

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Reprodução: Jornal da USP

A sigla BRICS são as iniciais dos países que formam uma coordenação de apoio político/ econômico entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa). Segundo o próprio grupo, a sua intenção é “manter uma aliança que ajude a alavancar a influência geopolítica destes países no mundo” – “Fortalecer as economias dos países, Estabelecer cooperação nas áreas técnica, científica, cultural e no setor acadêmico.” O bloco é uma entidade político/ diplomática.

Juntos, os atuais países dos BRICS ocupam 26,46% da área total da Terra, reúnem 42,58% da população mundial e respondem por cerca de 22,53% do PIB do planeta.

O termo BRIC surgiu pela primeira vez em 2001 em um artigo publicado pelo economista do Goldman Sachs, Jim O’ Neil, que defendeu a ideia de que Brasil, Rússia, Índia e China seriam as economias do futuro e em 2006, os chanceleres dos quatro países deram início aos diálogos com uma reunião informal. Aconteceu na Rússia em 2009, a Primeira Reunião de Cúpula dos BRIC com a presença dos chefes de Estado dos 04 países. Em 2010, a África do Sul passou a ser membro do grupo, tendo seu nome oficial modificado para BRICS. Hoje, a cooperação entre os países envolve mais de 30 setores, entre energia, educação, ciência e tecnologia…

Apesar da “união” destes países; há falta de consenso entre as partes em alguns assuntos, como é de esperar em parceria entre Estados. No campo político, podemos citar os desafios bilaterais entre China e Índia por disputas territoriais históricas e no campo econômico, é ainda mais notável o desequilíbrio financeiro entre os países.

Por causa deste último e outros motivos; em 2014, na 6º Cúpula dos BRICS, foi decidido a criação do NDB – Novo Banco de Desenvolvimento, que teria como objetivo: dar apoio financeiro a projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável aos países do agrupamento, além de outras economias emergentes; entrando em vigor em 2015. Hoje (AGO 2023), a presidência do Banco dos BRICS está a cargo da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

Os protagonistas do bloco no momento são China e Rússia, pois os dois controlam política e economicamente os Brics. O Brasil ainda é um sócio menor na comparação a estes, mas, é geopoliticamente estratégico em inúmeros aspectos.

EXPANSÃO DOS BRICS

Foi anunciado no dia 24 de agosto de 2023 um processo de expansão do bloco, que a partir de 1º de janeiro de 2024, a entrada de novos 06 membros, sendo: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia.

O movimento de expansão era publicamente liderado pela China e, em menor grau, pela Rússia. Talvez, tal expansão tenha como um dos objetivos, diminuir o isolamento dos dois referidos membros, em relação aos Estados Unidos e à Europa Ocidental.

Outro ponto de destaque, é a inclusão de uma menção à pretensão brasileira de ingressar no Conselho de Segurança da ONU na declaração final da 15ª Cúpula do Bloco em Johanesburgo, África do Sul. Apesar do trecho ser um tanto vago; é satisfatório, devido a constante resistência da China sobre tal assunto.

Os novos membros estão em 03 continentes (Ásia, África e América do Sul). Em termos econômicos, temos em tela o maior exportador de óleo cru do mundo (Arábia Saudita) e o dono da maior reserva de gás natural do planeta (Irã). Segundo o presidente brasileiro, Lula: “Agora, o PIB dos BRICS eleva-se para 36% do PIB global em paridade de poder de compra e 46% da população mundial”.

Foi ainda, ressaltado a manifestação de mais de 40 países que possuem interesse em aderir aos BRICS, sendo 22 com pedidos formais.

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A GUERRA UCRÂNIA X RÚSSIA E SEU REFLEXO OTAN X BRICS

Estamos acompanhando desde fevereiro de 2022, a guerra Ucrânia X Rússia; com inúmeros desdobramentos até hoje; entre elas, sanções de países membros da OTAN à Rússia e países do BRICS, evitando uma escalada do conflito, aludindo sempre a uma solução diplomática.

Existem dezenas de diferenças entre OTAN e BRICS, mas, podemos salientar dois pontos:

1º. Os Estados Unidos estão tentando manter sua posição de liderança diante o globo, enquanto os países do BRICS estão procurando desafiar tal liderança.

2º. A OTAN é uma aliança baseada na solidariedade entre seus membros e na cooperação em questões de defesa e segurança, já os BRICS, a cooperação entre os países membros são baseadas em interesses nacionais, com uma ênfase na soberania e no desenvolvimento econômico, aspirando em um futuro, o domínio econômico e político, hoje, pertencentes aos Estados Unidos e Europa.

O Brasil tem se beneficiado do comércio com países do grupo, sobretudo com a China. Desde 2009, esta tem sido a nossa principal parceira comercial, substituindo os Estados Unidos de uma posição ocupada por praticamente um século. Atualmente, os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil.

Diante disso e das mudanças motivadas pela guerra na Ucrânia – as maiores transformações na geopolítica global desde a dissolução da União Soviética (1991); alguns analistas têm defendido um maior alinhamento do Brasil com os BRICS. Em termos econômicos e comerciais, esse alinhamento pode ser benéfico, já militarmente; devemos (Brasil), estarmos muito atentos.

MUDANÇAS GEOPOLÍTICAS

Estamos observando que o mundo está se tornando mais multipolar, com o aparecimento de países emergentes que começam a desafiar o domínio das potências já estabelecidas no globo. Além disso, a preocupação com a Segurança e Defesa da Soberania aumenta cada dia mais, ao passo, que vemos inúmeros conflitos se desdobrando.

Com isso, por que não termos um pensamento a longo prazo?! Ou até mesmo, não tentar seguir tendências que parecem que serão o futuro, haja vista que grandes potências já possuem tal pensamento e/ou já estão as executando.

Hoje, creio, que estamos vivendo uma espécie de guerra fria ou até mesmo armamentista, de forma velada e silenciosa, que se bem observada, tem-se inúmeros sinais. O que talvez hoje possa ser considerado uma utopia ou desperdício do dinheiro do contribuinte, será, talvez, o diferencial para um país se tornar ou se manter como potência.

A NOVA CORRIDA ESPACIAL

Como é sabido, a corrida espacial foi um dos episódios que marcaram a segunda metade do século XX e foi resultado direto da Guerra Fria (1957/1975), ficando caracterizada pela intensa exploração no espaço realizada por americanos e soviéticos.

Um dos momentos de maior relevância foi a chegada do homem à Lua.

Depois disso, cada país, a sua maneira, investe na área aeroespacial, tendo em vista as aspirações de em um futuro não distante, a dominação de outros planetas, como Marte e “controle” do espaço-terra.

Hoje, nota-se uma corrida um tanto velada para o “domínio” da lua, tendo países que até então, não se apresentavam como potência aeroespacial; como é o caso da índia; que se tornou no dia 23 de agosto de 2023, o primeiro país a pousar no polo sul da Lua (região inexplorada que fica no lado escuro do satélite); em missão histórica chamada de Chandrayaan-3; comemorada pelo Primeiro-Ministro do país, Narendra Modi, que disse: “Este é um momento sem precedentes. Este é o momento para uma nova Índia em desenvolvimento”. Entre os objetivos da Índia, é explorar a Lua com o menor custo possível.

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Modelo de como seria uma base na Lua (Reprodução: ESA)

Sabe-se que há água no polo sul da Lua, então, aspira-se ter hidrogênio e oxigênio, que podem, no futuro, serem usados para reabastecer naves para viagens a Marte e outros planetas. Será que quem chegar primeiro poderá reivindicar esta água ou algum espaço?

Creio, que o uso da lua, no futuro será nos moldes do que acontece hoje no Continente Antártico. A Antártica não pertence a nenhum país. Há no local bases de várias nacionalidades, incluindo uma brasileira, (o Brasil aderiu ao Tratado da Antártica, em 1975 e em 12 de janeiro de 1982 foi criado o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) tem por objetivo a promoção de pesquisa científica diversificada e de alta qualidade na região); mas o Tratado Antártico garante que ninguém possa declarar soberania sobre qualquer um desses territórios.

A Rússia tentou tal feito; mas a missão Luna-25 saiu do controle e se chocou contra a Lua e o Japão com sua sonda Ispace; que perdeu a comunicação minutos antes.

Já que estamos citando nosso satélite natural; não podemos nos esquecer da Missão Artemis II, da NASA, que levará astronautas a órbita da Lua em 2024/2025 e a Missão Artemis III em 2025/2026, que levará astronautas a caminhar na Lua, sendo este último feito realizado em 1972, na última missão Apollo, da NASA. O Brasil faz parte do Projeto Artemis.

Além desses, outras Nações investem e muito na exploração aeroespacial; muitas vezes, em cooperação com outros países, como é o caso da Agência Espacial Europeia (ESA), que é apoiada por 22 países europeus; e outras Nações, como o Brasil que aspiram envio de sonda à Lua, como por exemplo a Garatéa-L, entre outros projetos aeroespaciais.

DEFESA AEROESPACIAL

Quando tomamos a teoria do poder marítimo do almirante norte-americano Alfred Mahan, cujos trabalhos focavam na defesa do Poder marítimo; ele resumiu um simples silogismo, “Quem dominar o mar domina o mundo”; inspirado no famoso corsário inglês e colonizador da América do princípio do século XVII, sir Walter Raleigh e no escritor inglês, John Evelyn.

É sabido que hoje, o espaço está repleto de sondas, satélites, materiais, lixo… e inúmeros equipamentos que estão sobre nossas cabeças que não possuímos conhecimento de fato, como por exemplo; satélites espiões; que não sabemos seus quantitativos, mas, temos conhecimento de algumas Nações que os detêm. Será que existem armas em órbita? E aeronaves não tripuladas? A exemplo da nave espacial X-37B de projeto desenvolvido inicialmente pela NASA e, posteriormente, repassado para os militares estadunidenses, que hoje não se sabe quais são todos os seus objetivos. Vale lembrar que a China está desenvolvendo veículos espaciais reutilizáveis.

Vigilância Espacial parece até uma expressão de filmes, porém, já são realidade. E quando pensamos em uma força de defesa aeroespacial, parece uma ideia distante, porém, já existe.

Em 1992 na Rússia, foi estabelecido um setor independente conhecido como Tropas Espaciais da Rússia, situado dentro das Forças Armadas russas, embora não constituindo um ramo militar separado. Ao longo dos anos, passou por mudanças, chegando à sua configuração final em 2015. Nesse sentido, ocorreu uma fusão entre a Força Aérea Russa e as Forças de Defesa Aeroespacial da Rússia, resultando na criação das Forças Aeroespaciais da Rússia. Essa reorganização levou a reintegração das Tropas Espaciais da Rússia como um dos seus três subgrupos, embora tenha perdido sua autonomia anterior.

Nos Estados Unidos, a trajetória do desenvolvimento da capacidade militar no espaço teve início através das Forças Aéreas do Exército em 1945. Em um marco significativo, em dezembro de 2019, o Congresso norte-americano deu a aprovação para a formação da Força Espacial dos Estados Unidos. Essa nova entidade de defesa foi oficialmente estabelecida em 20 de dezembro de 2019. O processo envolveu a reformulação do Comando Espacial da Força Aérea, transformando-o na Força Espacial dos EUA e concedendo a ela o status de um ramo independente das Forças Armadas, representando a única força espacial autônoma do mundo.

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Reprodução: Formaspace.com

Há muito o que pode ser explanado sobre segurança e Defesa Aeroespacial; podemos citar os mísseis intercontinentais que são testados cada vez com maior intensidade; lançamentos espaciais ocorrendo em todo o globo, e com isso, temos sim, que ficarmos em alerta e, a exemplo da China e Índia que se tornaram potências espaciais nos últimos anos, ficando ao lado dos EUA, Rússia e Europa; por não quererem ficar atrás destes últimos no desenvolvimento e “corrida para o espaço”.

 

COALIZAÇÃO AEROESPACIAL DOS BRICS

Sob a égide dos desdobramentos mundiais; pode-se pensar em uma parceria forte, pensando no futuro aeroespacial; tanto na exploração, pesquisa e segurança do espaço, trazendo, com a parceria de Nações parceiras, perspectivas únicas e contribuições para o campo aeroespacial global.

Quando analisamos os 07 países com as maiores capacidades aeroespaciais e cruzamos com os países dos BRICS, temos Rússia (02); China (03) e Índia (05); que somados aos demais países do Bloco; pode se ter muitos frutos. Dentre os atuais; o Brasil, apesar de não possuir investimentos devidos ao setor, possui uma boa presença; além de inúmeros órgãos de referência mundial no setor, além de possuir bases de lançamentos. A África do Sul tem um programa espacial mais limitado em comparação com os outros membros, porém, tem investido em pesquisa aeroespacial e tecnologias associadas.

Colocando em tela os futuros novos 06 membros; soma-se capacidades e expertises variadas; onde destaca-se o desenvolvimento de mísseis balísticos de médio alcance do Irã; o histórico de tecnologias de defesa e aeroespacial do Egito e entre eles, se sobressai os Emirados Árabes Unidos que lançaram com sucesso a sonda “Hope” em direção a Marte (2020), marcando um marco significativo em seu programa espacial; além de estarem investindo em educação espacial e pesquisa, visando um futuro promissor no setor.

Dentro do bloco, já existem parcerias “mirando” o espaço, que é o caso de China e Rússia, que possuem planos para estabelecer uma base conjunta na Lua até 2035, porém, aspiram adiantar o cronograma em 05 anos, para superar os Estados Unidos (segundo documentos vazados em 2022, indicavam que a NASA tinha o ano de 2034 como meta para a instalação da sua base lunar).

Sim! China e Rússia querem deixar suas pegadas na Lua.

O projeto deverá começar em 2026, com o envio da missão Chang’e 7 para estudar o polo sul da Lua. Pelo cronograma oficial, em 2028, a Chang’e 8 iniciará a construção da estação lunar internacional, que poderá ser usada por outras nações. Já a NASA indicou que as primeiras missões para começar a construir uma base na Lua serão Artemis VII, VIII e IX; possivelmente na mesma época da chinesa Chang’e 8.

A Agência Espacial Europeia almeja também a construção de instalações na Lua.

Pode se estar perguntando: Por que este interesse na exploração da lua? Entre muitas justificativas, destaca-se por ela ser um futuro “trampolim” para missões longas a outros planetas; como Marte, por exemplo.

Diante do exposto; as Nações que compõem e vão compor os BRICS poderiam se juntar à esta empreitada. Por que não? Por que não se unirem para parcerias de vigilância espacial?

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Reprodução: Agência Espacial Brasileira

Repetindo a citação do próprio Bloco no início do artigo; a sua intenção é “manter uma aliança que ajude a alavancar a influência geopolítica destes países no mundo” – “Fortalecer as economias dos países, Estabelecer cooperação nas áreas técnica, científica, cultural e no setor acadêmico.” Citação essa que serve como uma base de aspirações aeroespaciais conjuntas.

Como citado no artigo deste autor: A UCRÂNIA NOS DÁ UMA LIÇÃO: O Brasil deve se preparar para a guerra:

Não é porque o Brasil não está em guerra que não precisa se armar e proteger. O investimento em Segurança Nacional é muitas vezes invisível, mas que traz impactos positivos à sociedade e a Soberania. Infelizmente, o Brasil possui um pensamento que “a Defesa Nacional não é importante” … até precisarmos dela. O Brasil é gigante e com uma imensa importância global. Todos (sociedade e governo) devem levar a Segurança e Defesa a sério em nosso país, para que em breve ou não; se necessário for, termos meios competitivos, aptos e suficientes para a defesa plena de nossa Soberania Nacional.

Desta forma, soma-se a ideia de expandir tal investimento no setor aeroespacial brasileiro e na Defesa Aeroespacial (É o conjunto de ações destinadas a assegurar o exercício da soberania no espaço aéreo da nação, impedindo seu uso para a prática de atos hostis ou contrários aos objetivos nacionais).

No dia 22 de agosto de 2023, relembramos a memória dos “21 Heróis de Alcântara” que perderam suas vidas no maior acidente da história do Programa Espacial Brasileiro na Base de Alcântara, há 20 anos atrás. Que a memória destes pioneiros continuem sendo inspiração para nosso Programa Espacial Brasileiro, trazendo investimentos em todos os setores que o compõe.

Desta forma, quem sabe, um dia, veremos nossa Bandeira Nacional estampada em inúmeras missões espaciais ao longo da história.

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Reprodução: Cosmonauta russo Oleg Artemiev a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS)