Bagé (RS) – Poucos conhecem a história de Bagé pela pujança no agronegócio, mas já ouviram falar que o município gaúcho não tem água. A cidade fica localizada no Pampa Gaúcho, a 60 quilômetros da fronteira com o Uruguai e vivencia, a mais de cem anos, a falta d’água. Em 1989, dizem os moradores mais antigos, quando o município virou um deserto, vacas, bois e touros tombavam famintos nos campos. Na cidade, creches cerraram suas portas, o comércio diminui seu horário de funcionamento, piscinas públicas tornaram-se grandes cisternas para abastecer a população, com estimados 112 mil habitantes na época.
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Estabeleceu-se um período de 12 horas sem fornecimento de água para cada metade da cidade, o que ocasionou um natural desabastecimento para os bairros mais afastados. O centro da cidade lembrou lugarejos do sertão nordestino, com longas filas para obter-se água. Os que vivenciaram a década de 1940 dizem ainda que aquela seca fora muito pior. No entanto, o primeiro racionamento de que se tem notícia remonta ao ano de 1922.
O episódio de seca em Bagé ocorre anualmente, com início no verão, e aflige aproximadamente 122 mil habitantes. As famílias mais pobres, por não possuírem cisternas e dependerem única e exclusivamente da água fornecida pelo Departamento de Águas e Esgotos de Bagé, são as mais atingidas. Neste ano, o racionamento é realizado com 15 horas de falta d’água. Ainda em consequência da seca, que interfere não só no consumo, mas também na higiene, há a proliferação de doenças, dentre elas a hepatite.
Nesse contexto, em 2020, foi iniciado um programa de ampliação da Barragem da Arvorezinha com a gerência do Exército na sua consecução. Uma obra hercúlea, que pretende elevar a capacidade da barragem para 180 milhões de metros cúbicos de água, o que garantirá o abastecimento para mais de 120 mil pessoas. Desde 2022, o Exército vem empregando 70 militares e maquinário pesado para concluir a obra em 48 meses.
Essas ações são conduzidas pelo 1º Batalhão Ferroviário de Lages, com o apoio das unidades da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada. A Brigada também apoia a cidade com distribuição de água, por meio de carros pipas. Só em 2021, foram distribuídos mais de 6,8 milhões de litros d’água a Bagé e aos municípios vizinhos. Atualmente, já foram distribuídos 620 mil litros.