A geógrafa, pesquisadora e professora da Escola Superior de Defesa (ESD), Selma Lúcia de Moura Gonzales tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF), na cadeira de número 22, que tem como patrono Djalma Polli Coelho, geógrafo e engenheiro militar que teve efetiva participação na escolha de Brasília como nova capital do país.

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A cerimônia foi aberta pelo presidente Paulo Castelo Branco e a nova acadêmica do IHGDF, Selma Gonzales, foi homenageada pelos acadêmicos Carlos Eduardo Vidigal e Telmo Armand Ribeiro. O diretor Administrativo do Instituto, Hugo Studart, também compôs a mesa. O evento reuniu importantes autoridades de diversos segmentos, acadêmicos, familiares e amigos.

O presidente do IHGDF, Paulo Castelo Branco, enalteceu as qualidades da nova acadêmica e disse que Selma Gonzales irá fazer significativas contribuições culturais e educacionais e na preservação da memória dos grandes vultos da História de Brasília e do Brasil.

Em discurso, Selma Gonzales destacou a carreira do patrono da cadeira 22, que agora passa a ocupar: “o General de Divisão Djalma Polli Coelho é uma figura notável que merece ser celebrada e reverenciada por suas contribuições significativas em diversos campos, especialmente as voltadas aos estudos cartográficos e geográficos. Sua vida é um exemplo inspirador de inteligência, dedicação, acrescidos de crença e ação”.

Destacou também o trabalho realizado pelo Gen Polli: “entendia a necessidade de escolher a região inicialmente indicada pela Comissão Crulls, usando a justificativa da centralidade do local, a distância entre os pontos extremos do território brasileiro e a necessidade de integração e ocupação territorial. Contrariando argumentos que defendiam a localização da capital em regiões mineiras e goianas, o Gen Polli insistia que a escolha do quadrilátero de Cruls era, antes de mais nada, uma condição geopolítica”.

“Foi como engenheiro geógrafo militar que lhe permitiu assumir diversas funções relacionadas à cartografia e aos estudos geográficos, áreas fundamentais para os estudos da guerra e da paz. O conhecimento do território, a cartografia e a geografia andam juntos, como base aos estudos da geopolítica, da geoestratégia e, em última instância, da estratégia militar. Um país que não conhece a sua geografia e não traduz esse conhecimento em uma apurada cartografia, não tem parâmetros críveis para a tomada de decisão em diversos âmbitos, especialmente, em políticas públicas voltadas à redução das desigualdades sociais, à educação, ao desenvolvimento, à defesa, à segurança e à política externa”, considerou ainda.

Selma Gonzales encerrou seu discurso salientando: “O legado do Gen Polli para a cartografia, a geografia e para os estudos relativos à transferência da capital do Brasil para o Planalto Central deve ser sempre lembrado e exaltado”.

A nova acadêmica, Selma Gonzales é Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), e atualmente é coordenadora acadêmica do curso de Geopolítica e Defesa (CGEOD), professora e pesquisadora da Escola Superior de Defesa (ESD).

A carreira de Selma Gonzales é extensa como docente, pesquisadora e analista em cenários prospectivos da Geografia, da Geopolítica e da Metodologia da Pesquisa Científica para diversos Núcleos, Centros de Estudos Estratégicos, de Segurança e de Defesa. Integrou como docente do Instituto Rio Branco (MRE) e do Laboratório de Pesquisa em Segurança, Desenvolvimento e Defesa da Escola Superior de Defesa com Pesquisa sobre os seguintes temas: geopolítica e crises internacionais, forças armadas e sociedade e inserção feminina em instituições militares. A Profª Drª foi agraciada em primeiro lugar, no III Concurso de Teses sobre Defesa Nacional no ano de 2008.

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O IHGDF conta com 120 membros e cada um tem um patrono correspondente a sua história. Atualmente, o presidente do instituto é Paulo Castelo Branco. Desde a fundação, em 1964, o espaço recolhe material histórico referente à região Centro-Oeste, com ênfase à História do Brasil. O foco também é na formação das populações regionais do Centro-Oeste, o que o torna um repositório e guardião da história e da memória da capital brasileira.

A entidade é uma casa de cultura onde os estudos domina a preocupação permanente com a defesa dos valores de Brasília, primeira cidade moderna a receber o honroso título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

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O evento reuniu importantes autoridades de diversos segmentos, acadêmicos, familiares e amigos.

O patrono da cadeira 22

Djalma Polli Coelho nasceu em Curitiba, no Paraná, no dia 17 outubro de 1892. Estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ). Ascendeu na carreira militar ao posto de General de Divisão (Gen Div), em 1952.

Necessitando de um detalhado mapeamento do território nacional, em abril de 1890 o Exército Brasileiro (EB) cria “serviço geographico”, atividade exercida por militares com especialização em engenharia, oriundos da tradicional Escola Polythecnica do Rio. Os membros que fariam parte desse serviço e não tinham essa formação, realizavam cursos junto aos cientistas do Observatório Nacional, também no Rio, com foco em atividades de levantamento geográfico.

A criação desse serviço pelo Exército estava no contexto da busca de modernização da força terrestre, o que exigia, também, um adequado mapeamento do país, situação precária até então, haja vista que o conhecimento geográfico do território nacional era muito limitado. “Havia muitos erros nos mapas disponíveis, gerando incertezas sobre as localizações de limites de fronteiras com outros países e nos próprios estados brasileiros, além do traçado dos rios e até a localização de capitais e cidades”. (Medeiros, 2022)

Gen Polli dirigiu o Serviço Geográfico do Exército entre os anos de 1946 e 1951, e por sua iniciativa, foi criado o “Quadro de Topógrafos do Serviço Geográfico do Exército”, em 1946 e instalado o Curso de Topografia para Oficiais das Armas na Escola Técnica do Exército, hoje Instituto Militar de Engenharia (IME). Como diretor da Escola de Geógrafos do Exército, representou o Ministério da Guerra, na função de Membro do Diretório Central do Conselho Nacional de Geografia.

Polli Coelho dedicou-se ao serviço do Exército por mais de 43 anos, tendo sido responsável pela primeira edição do “Anuário da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército”, em 1948.

Por seu notório saber em Geografia, o presidente Eurico Gaspar Dutra nomeou a “Comissão de Estudos para a Localização da Nova Capital do Brasil” sob a presidência do Gen Djalma Polli Coelho, então chefe do Serviço Geográfico do Exército, com a finalidade de ratificar os levantamentos efetuados no final do século XIX, pela Missão Cruls. Chegou ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como presidente de maio de 1951 a setembro de 1952.

Na sua atarefada agenda como um técnico respeitado, militar e engenheiro geógrafo, foi autor de obras consistentes: “As Primeiras Lições de Cálculo Vectorial”; em 1934; “Elongações Máximas, em 1940; Subsidio ao Problema da Determinação do Azimute”; “História da triangulação do Distrito Federal”; “Espigão mestre do Brasil e “Conceito geopolítico do Planalto Central”, em 1948; esta última obra, inclusive, consta da Resolução nº 388, da Assembleia Geral do Conselho Nacional de Estatística, de 21 de julho de 1948; e os artigos “O ponto mais oriental do Brasil” e “Geógrafos, cartógrafos e demarcadores”, em 1952.

O Gen Polli Coelho faleceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de outubro de 1954, um dia antes de completar 62 anos e sem ter visto o seu sonho de transferência da capital do Brasil realizado.