Os algoritmos das empresas digitais é o que as diferenciam dos concorrentes (Imagem: Free-Photos/Pixabay)

A China pretende controlar o uso de algoritmos no país nos próximos três anos. Ao menos é isso que dá a entender o documento publicado pelo Cyberspace Administration of China (CAC), o órgão estatal responsável pela gestão da internet no país. Este seria o último passo do governo de Pequim para controlar a indústria de inteligência artificial, algo que incomoda os políticos do país.

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Segundo a entidade, embora os algoritmos tenham desempenhado papel fundamental na economia digital e promovido o desenvolvimento social, a sua “aplicação inadequada” ajudaria a disseminar informações que impactam na justiça social e atentam contra o direito dos internautas.

As diretrizes do CAC foram seguidas por oito reguladores locais: o Departamento de Propaganda do Partido Comunista, o Ministério da Educação, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, o Ministério da Segurança Pública, o Ministério de Cultura e Turismo, a Administração Estatal de Regulação do Mercado e a Administração Nacional de Rádio e Televisão.

Os algoritmos são o coração de muitas empresas de tecnologia chinesas: desde plataformas de vídeos como o TikTok, da ByteDance, até as propagandas sob medida do e-commerce da Alibaba. Em geral, o que essas inteligências artificiais fazem é recomendar conteúdos ou produtos com base no interesse do usuário para aumentar a conversão ou manter as pessoas amarradas aos serviços.

Empresas devem reagir

Em razão dessa importância, é pouco provável que as empresas abram mão dos seus sistemas de inteligência artificial para satisfazer o governo local. No caso do TikTok, por exemplo, o algoritmo de entrega de conteúdo personalizado é o que o diferencia do Instagram, do Snapchat e do YouTube Shorts, que também possuem recursos de vídeos curtos.

O CAC publicou um conjunto de normas preliminares que devem ser aplicadas aos algoritmos atuantes no país. Essas regras estavam sob consulta pública até a semana passada e estabelecem punições para os descumpridores, inclusive por quaisquer consequências produzidas por seus sistemas, o que pode afetar a operação de serviços noticiosos, pesquisas na web, jogos online, comércio eletrônico e redes sociais.

A justificativa oficial é dar ao usuário mais controle sobre a navegação, mas opositores garantem ser só uma forma de evitar o acesso a conteúdos considerados subversivos no país. Uma das ideias era permitir que os algoritmos sofressem interferências humanas para corrigir eventuais desvios, o que abriria obviamente brechas para censura.

Mais controle no ambiente online

O governo chinês tem se mostrado preocupado com o trânsito de informações online, potencializado pelas redes sociais e aplicativos de bate-papo. Neste tipo de aplicação, o controle estatal é mais difícil e os algoritmos tendem a mostrar cada vez mais interesses do usuário, o que poderia potencializar insatisfações e alimentar movimentos contra o regime. Essa não é uma manobra governamental exatamente nova, afinal os provedores sempre foram submetidos a pressões para omitir conteúdos, mas se intensificou de meses para cá.

Essa movimentação é vista com ceticismo pela comunidade internacional, principalmente em decorrência da proximidade dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, a ser realizado em Pequim. A ideia pode ser vender uma imagem unificada de “país perfeito” quando todas as atenções estiverem voltadas para a China, mesmo sem ser verdade.

Resta saber como esse impasse será solucionado: se as companhias vão ceder aos anseios do governo ou se precisarão mudar suas bases para outros países, um imenso retrocesso para a população local.

Fonte: South China Morning Post e Canaltech