Foto: Edwirges Nogueira

Nos últimos dez anos, o Brasil registrou um aumento significativo na produção de carros híbridos e elétricos. Entretanto, um estudo realizado pela Universidade Veiga de Almeida (UVA) aponta que a falta de logística reversa para baterias de carros elétricos no país pode trazer grandes riscos ambientais. Atualmente, mais de 100 mil veículos híbridos e elétricos foram vendidos no Brasil, com um peso total de 34 mil toneladas de baterias elétricas. Cerca de 30 mil toneladas dessas baterias já estão em final de vida útil, segundo o professor Carlos Eduardo Canejo, coordenador do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da UVA.

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Desafio no gerenciamento ambientalmente adequado

Carros elétricos trazem benefícios para o meio ambiente, como a redução significativa na liberação de gases de efeito estufa. Contudo, o gerenciamento das baterias em fim de vida útil representa um desafio iminente que demandará integração público-privada. Devido ao número crescente de veículos elétricos, haverá um desafio proporcionalmente maior no gerenciamento ambientalmente adequado dessas baterias. As baterias de veículos elétricos pesam entre 200 e 300 kg, com vida útil de 10 a 15 anos, enquanto baterias de veículos a combustão pesam, em média, 14,4 kg.

Rejeitos perigosos e logística reversa

O estudo da UVA estima que, até 2030, o Brasil poderá receber toneladas de baterias de veículos elétricos inservíveis como rejeitos, apresentando potencial risco ambiental devido à presença de substâncias tóxicas e alta probabilidade de explosões e incêndios. A logística reversa desses equipamentos exigirá políticas regulatórias adequadas e envolvimento das montadoras de carros para avançar no gerenciamento ambientalmente adequado dessas baterias ao longo do tempo.

Responsabilidade compartilhada e iniciativas internacionais

A Lei 12.305/2010, o Decreto Federal 10.936/2022 e o Decreto Federal 11.043/2022 indicam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a logística reversa dos resíduos sólidos, incluindo pilhas e baterias usadas e inservíveis. Em países como a Noruega, automóveis elétricos ou híbridos já representam cerca de 40% da frota veicular total devido à iniciativa governamental de proibir a venda de veículos movidos a combustíveis fósseis até 2025. Iniciativas semelhantes foram conduzidas pela União Europeia e Reino Unido, com prazos finais em 2030 e 2035, respectivamente.

A busca por soluções eficientes

A regulamentação e o estabelecimento de um sistema de logística reversa para baterias de carros elétricos no Brasil são fundamentais para garantir que esses resíduos sejam devidamente reciclados e inseridos na economia circular. A principal alternativa atualmente é a devolução aos fabricantes ou importadores, porém, há o risco de gerenciamento inadequado dessas baterias, o que pode levar a riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

Uma possível solução apontada pelo estudo é o Acordo Setorial para Implementação de Sistema de Logística Reversa de Baterias Chumbo Ácido, que já atende à demanda de destinação adequada das baterias de carros elétricos. Esse acordo possui escalabilidade e está presente em 80% dos municípios brasileiros, ao contrário do sistema de logística reversa de pilhas e baterias, que atua em apenas 560 municípios.

Educação e conscientização da população

Além das políticas públicas e do envolvimento das montadoras, a educação e a conscientização da população sobre a importância do descarte correto das baterias de veículos elétricos são cruciais para minimizar os impactos ambientais. Campanhas de informação e pontos de coleta voluntários podem ser implementados para facilitar o acesso a serviços de reciclagem e incentivar a adoção de práticas sustentáveis.

Futuro do gerenciamento de resíduos

As informações obtidas no estudo da UVA estão sendo consolidadas para integrar um capítulo de livro sobre gerenciamento de resíduos que será publicado até outubro deste ano. O livro abordará as questões-chave no gerenciamento de resíduos e oferecerá uma visão abrangente das soluções e estratégias necessárias para enfrentar os desafios impostos pelo crescente mercado de veículos elétricos.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).