Autores: Filipe Porto e Thayná Fernandes, Boletim Geocorrente

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Em março último, outro movimento marcou as tensões entre Austrália e China: junto às Ilhas Salomão, Pequim negocia um Acordo de Segurança que lhe permitiria empregar forças militares para proteger seus projetos e cidadãos nas ilhas; fazer passagens com navios, escalas e realizar abastecimento logístico. Em contrapartida, O governo salomonense poderia solicitar apoio chinês em ações de garantia da Lei e da Ordem. O rascunho da proposta foi “vazado” nas redes sociais e causou preocupação nas nações do entorno, especialmente as alinhadas ao Ocidente. Nesse sentido, caso seja oficializado, o que tal acordo poderia representar no jogo de influências do Pacífico?

Em primeiro lugar, reforça a maior influência da China em relação à Taiwan: após 36 anos de relações diplomáticas estáveis, em setembro de 2019, mesmo com promessas de investimentos australianos e estadunidenses, as Ilhas Salomão romperam os vínculos com Taipei, passando a reconhecer apenas Pequim. A grande diáspora chinesa no país, a proximidade de Guadalcanal com a província de Guangdong e a China como principal parceiro comercial — somou US$ 40 milhões em importações das Ilhas em 2021, crescimento de 115%, além de diversos investimentos —, influenciaram nesta decisão.

Em segundo lugar, demonstra a crescente preocupação com um “estrangulamento” ao “eixo de segurança ocidental” na região. Nos últimos anos, a Austrália vem buscando estreitar relações com as nações insulares para conter a influência chinesa e, no caso das ilhas Salomão, além do apoio tradicional, o país pretende investir US$ 45 milhões no país (2021 a 2027). Ainda, não por acaso, o Acordo Quadrilateral de Segurança (QUAD, sigla em inglês) foi reativado e a construção do submarino de propulsão nuclear australiano com apoio norte-americano e britânico (AUKUS, siga em inglês) foi firmada. Em contrapartida, é logisticamente vantajoso para a China estar presente no arquipélago em questão, pois acessaria com maior facilidade suas bases na Antártica, sem precisar do apoio da Austrália.

Por último, outro aspecto de tensão é a segurança das linhas de comunicação marítima: diversas empresas chinesas desenvolvem projetos tecnológicos de alto nível que ligam as ilhas às regiões altamente industrializadas, aumentando as tensões com Canberra, que em 2017 contrapôs a oferta da Huawei para a construção de cabos submarinos no país.

Em suma, a grande preocupação das potências aliadas, como Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia é a construção de uma base naval chinesa nas Ilhas Salomão. Essas nações somam esforços para a contenção de Pequim, que parece arriscar a tradição de sua política externa orientada pelos cinco princípios da coexistência pacífica.

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Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).