No dia 4 de novembro, foi inaugurado, na Avenida do Exército, em frente ao 55º Batalhão de Infantaria, em Montes Claros (MG), um monumento para homenagear o Cabo Geraldo Martins Santana, militar da Força Expedicionária Brasileira, morto na Segunda Guerra Mundial e, na manhã dessa sexta-feira, 6 de novembro, o local foi apresentado oficialmente à família do homenageado.

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O espaço já se encontra aberto para a visitação do público.

O Conjunto Memorial ao Cabo Geraldo Martins Santana é o maior memorial da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em Minas Gerais e um dos maiores do Brasil.

O projeto arquitetônico foi elaborado pela arquiteta Viviane Câmara Medeiros, que projetou um pilar de quatro metros de altura para receber a estátua de 3,2 metros representando o Cabo Santana com o uniforme da FEB. No local há também uma praça circular com a estrela de cinco pontas do Exército feita em jardinagem, com inscrições das batalhas da FEB nos ladrilhos do chão. Cinco pilares recontam a história da FEB.

BIOGRAFIA

Nascido em 29 de março de 1923 em Montes Claros – MG, filho de Antônio Martins Santana Primo e Josefina Cândido Santana, assentou praça no 10º Regimento de Infantaria em Belo Horizonte, em 1° de março de 1941. Promovido a Cabo em 5 de setembro de 1942, com a formação da Força Expedicionária Brasileira em agosto de 1943, incorporado ao 11º Regimento de Infantaria (11° RI), em São João Del Rei, em 11 de janeiro de 1944. Foi transferido, juntamente com todo o contingente do 11° RI, para a Vila Militar do Rio de Janeiro naquele mês, passando a realizar todo o treinamento físico em conjunto com o restante da divisão.

Em seguida, foi transferido para o 6º Regimento em 22 de junho de 1944, embarcando para a Itália junto ao 1º Escalão, em 2 de julho de 1944, desembarcando em Nápoles no dia 16 de julho. Pertencia à 5ª Companhia do II Batalhão (comandado pelo Major Abílio Cunha Pontes), e com essa unidade participou da Campanha do Vale do Serchio, a partir de 15 de setembro.

No dia 2 de novembro, o II Batalhão deslocou-se para o Vale do Reno, ocupando posições em frente à Torre di Nerone. Enquanto guarnecia a linha de frente numa trincheira na localidade de Palazzo d’Affrico no dia 9 de novembro, o Cabo Santana foi mortalmente ferido por um estilhaço de morteiro alemão, tornando o primeiro e único filho de Montes Claros a morrer em combate na Segunda Guerra Mundial. Foi sepultado no cemitério americano em Vada, sendo trasladado para o cemitério brasileiro em Pistoia, em 1945.

Foi agraciado com a Medalha de Campanha, Medalha Sangue do Brasil e a Cruz de Combate de 2ª Classe, por “ação de feito excepcional na campanha da Itália”. Em 1961, seus restos mortais foram trasladados para o Brasil, descansando hoje no Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro – RJ.

Ainda nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial na Europa, no dia 1° de maio de 1945 em Montes Claros, em emocionante cerimônia, a antiga Rua 15 de Julho foi rebatizada “Cabo Santana”.

Em 1959, o vereador Robinson Crusoé de Macedo, apresentou projeto de resolução para erigir um monumento ao Cabo Santana, com os seguintes dizeres: “Como homenagem póstuma aos heróis expedicionários falecidos nos campos de batalha do antigo continente, fica o senhor Prefeito Municipal autorizado a erigir um monumento em uma de nossas praças públicas, representada com o busto do montesclarense Cabo Geraldo Santana”. Essa se tornou a Resolução Nº 40, de 28 de dezembro de 1959, que aprovou o texto do vereador, sendo assinada pelo presidente da câmara, Dr. João do Valle Maurício, e pelo secretário, Prof. Pedro Martins de Santana – irmão do homenageado.

CARTA PARA UM FILHO

Às vésperas do falecimento do Cabo Geraldo Santana, seu pai Antônio Martins Santana Primo, escreveu uma carta para o filho, que nunca chegou a ser lida.

Na carta, que encontra-se no acervo pessoal da família, de acordo com o professor de História Júlio César Guedes Antunes, o pai nos dá uma lição de cidadania e patriotismo, reforçando para o filho os valores do soldado e da família brasileira.

Veja a carta na íntegra, no arquivo abaixo.

Carta de Antônio Martins Santana Primo ao seu filho no front, Geraldo Martins Santana

Montes Claros, 28 de outubro de 1944
Querido filho Geraldo:
Saudades…
Recebi do Quartel-General do Rio de Janeiro comunicação que foste incorporado à Força Expedicionária Brasileira.
Não foi pra mim nenhuma surpresa, porque o soldado está sempre sob as ordens dos seus superiores e deve acatar essas ordens com todo o respeito.
Foste incorporado porque era necessário que a Pátria insultada respondesse à agressão dos corsários Nazistas que agiram debaixo de espesso nevoeiro, matando nossos irmãos.
Aqui, em casa, todos receberam com imenso orgulho essa notícia. Filho, jamais surja em teu cérebro o pensamento de um homem covarde. Seja firme no cumprimento do dever, principalmente quando a nossa Pátria foi traiçoeiramente atacada pelos vilões de além-mar.
Não importa que o intenso inverno dificulte a nossa marcha ou que o sol abrasador faça demorar o avanço, o certo é que precisamos chegar até o fim do nosso itinerário ombro a ombro com as FORÇAS ALIADAS.
Ainda me recordo daquela bela poesia que diz em uma de suas estrofes:
Para a frente que importa a invernada,
Temporal, inclemência de sois.
Quem for fraco, que fique na estrada,
Que a vanguarda é o lugar dos heróis.
Pedimos a Deus para conservar tua pessoa ilesa das balas assassinas dos Nazistas; porém, se for do agrado do Altíssimo que o teu corpo tombe no campo de batalha, para que muitos outros vivam, seja feita a vontade de Deus.
O ataque deve ser repelido embora sucumbam alguns dos nossos. Que papel faríamos se permanecêssemos de mãos cruzadas quando o inimigo comum tentou ultrajar a nossa soberania?
Seremos por ventura alguma estátua onde o sangue não circula?
É legal trair nossa tradição?
Não, isto não.
Dos túmulos de Caxias, do Tenente Antônio João, de Camisão e outros mais, ouviríamos o grito da dor do insultado dizendo-nos:
Irmãos, hoje mais do que nunca o Brasil precisa vingar os seus filhos.
Levai em resposta à agressão a esses Nazistas o brilho de uma baioneta empunhada para que os nossos sejam vingados.
E, assim, acalmarão as ondas tempestuosas do mar furioso, e a bonança reinará para todos os povos do mundo, que foram vítimas dos sutis ataques do Eixo.
Portanto, filho, não queiras ter maus pensamentos e jamais haja em tua pessoa o desespero.
Seja também calmo. Porque todos nós temos que morrer um dia; logo, é desnecessário e mesmo indecente o desespero.
Muitos se enganam com a morte.
Ela não causa assombro a ninguém, porém enobrece a muitos. Se for preciso, morre em honra da Pátria e viverás eternamente. A tua lembrança ficará sempre conosco.
Um conselho: conserve sempre a tua fé em Deus e jamais a deixe seduzir por outrem. Todos nós estamos indo bem graças a Deus.
O que sentimos são saudades tuas, mas esperança de que em breve estarás aqui em Montes Claros conosco.
Terminando, pedimos a Deus por tua pessoa e pela honra e glória do Brasil e o cabal êxito da FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA.
Queira aceitar a benção de teu pai e os abraços que teus irmãos, tias e cunhados lhe mandam.
Teu pai,
Antônio Martins Santana Primo

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Fonte: 4ª RM

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).