Reprodução: “Twice Upon a Time

Na época do Natal uma dúvida que pode persistir entre militares em confrontos, bem como os seus familiares, é se está previsto algum tipo de interrupção dos conflitos, seja por razões religiosas ou sob amparo do Direito Internacional Humanitário. Nas guerras as tréguas natalinas são fatos históricos episódicos e, sobretudo, notáveis, se comparados com o caos das atrocidades cometidas, a partir das determinações emanadas pelos altos escalões políticos envolvidos nas contendas. No âmbito do sistema internacional, em ocasiões variadas foram verificadas ações bélicas, contínuas ou descontínuas, decorrentes da data em que é reverenciado o nascimento de Jesus Cristo.

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Como exemplo atual, no conflito com os ucranianos, as tropas de Vladimir Putin,presidente russo, receberam ordens para promoverem um cessar-fogo na linha de frente docombate em 6 de janeiro de 2023, por 36 horas, em razão das comemorações do Natal ortodoxo, o que foi negado em dezembro de 2022 mesmo sob apelo internacional. No mesmo sentido, outros fatos mundiais similares podem ser assinalados para ilustrar apropriadamente situações peculiares, certamente inopinadas nos planos de batalha e nas ordens de operações dos chefes militares.

Na segunda metade do século XX, durante a guerra no Vietnã, os militares estadunidenses foram surpreendidos em suas bases com a presença de uma aeronave alusiva ao natal. Um C-7 Caribou foi customizado com pinturas próprias do papai noel e pousou em diversas partes do conflito, muito possivelmente no intuito de elevar o moral das tropas. Em 1971, como singelos presentes de Natal, um tripulante trajado de papai noel, com os seus respectivos ajudantes caracterizados, realizaram entregas de bebidas e sanduíches para os combatentes, além de cartas enviadas por crianças de escolas estadunidenses com dizeres incentivadores aos seus compatriotas.

Por outro lado, anteriormente, no período final da Segunda Guerra Mundial, correspondentes de guerra brasileiros foram alçados ao teatro de operações da Itália, com a missão de realizarem a cobertura dos feitos heróicos da Força Expedicionária do Brasil. Ressalta-se que, em 1944, o natal dos pracinhas foi celebrado com música, regado com vinho italiano, rabanada, peru, castanhas e, obviamente, bombas do inimigo. Desse modo, entre as muitas atividades registradas, esses atos dos bravos febianos são propagados nas rotinas da caserna nacional e, rotineiramente, comemorados no presente pelas Forças Armadas (FFAA) brasileiras.

No transcurso da Primeira Guerra Mundial, militares alemães, franceses e ingleses realizaram uma trégua natalina e cessaram as hostilidades no front belga. Esse evento foi não oficial, durante seis dias de 1914, por iniciativa dos próprios soldados, que inclusive ornamentaram as trincheiras com luzes, comeram, fumaram, brindaram o Natal, cantaram Noite Feliz e saudaram os seus inimigos. De forma destemida, contrariando ainda mais os seus oficiais superiores, eles promoveram uma partida de futebol de confraternização entre os que eram, até então, combatentes rivais.

Nesse contexto, constata-se que o cessar-fogo no período de Natal é um caso simbólico de respeito e humanidade entre os oponentes em combate. Costumeiramente, nas FFAA do Brasil, as festividades de final de ano contam com períodos de dispensas para a tropa, com datas estipuladas e o prejuízo das escalas de serviço, em que pese não ser um direito coletivo assegurado. Assim, os militares deixam de cumprir expediente nos seus aquartelamentos, seja na semana do Natal ou do no Ano Novo, e podem realizar as suas celebrações conforme queiram durante a concessão da dispensa.

Por fim, o sofrimento, a destruição, a violência, a morte e o ódio deixam de ser protagonistas e perdem espaço para a tolerância, a reconciliação, o amor e a compaixão. Sem dúvida, nas festas natalinas, seja na Europa, no Oriente Médio ou em qualquer parte do mundo, se tivessem alternativas, os contendores prefeririam estar em seus lares, trocando presentes e comemorando com os seus familiares, ao invés de estarem sob ordens de realizarem ataques sob bombardeios e hostilidades de inimigos. Portanto, respondendo ao questionamento , convém frisar que armistícios em razão do Natal não são usuais na história contemporânea dos conflitos entre Estados, mas ocorreram, demonstrando que o espírito natalino ainda pode prevalecer sobre os povos.