Foto: Ricardo Stuckert / PR

O recente acordo entre Brasil e França no setor de energia nuclear representa um marco significativo na cooperação bilateral, com implicações profundas tanto para o avanço tecnológico quanto para o equilíbrio geopolítico global. O Memorando de Entendimento firmado entre o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) e o Serviço Geológico Francês (BRGM) abre caminho para a exploração conjunta das vastas reservas de urânio brasileiras, ao mesmo tempo em que posiciona a França como um parceiro estratégico na segurança energética e no desenvolvimento da indústria nuclear brasileira.

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A Geopolítica do Urânio em Foco

Neste cenário, o Brasil, detentor da oitava maior reserva de urânio do mundo, emerge como um jogador chave na “geopolítica do urânio”, enfrentando o desafio de equilibrar seu papel como fornecedor de recursos estratégicos com o de protagonista na cena nuclear global. A França, por sua vez, busca diversificar suas fontes de urânio para reduzir a dependência de fornecedores em zonas de instabilidade geopolítica, como o Niger, e vê no Brasil um parceiro potencialmente estável e confiável.

Potencialidades e Preocupações

A parceria promete injetar vitalidade no setor nuclear brasileiro, com a expectativa de atrair investimentos franceses, gerar empregos e promover o desenvolvimento de tecnologias limpas de geração de energia. Contudo, as lições do passado, onde acordos internacionais nem sempre traduziram-se em benefícios duradouros para o país, suscitam uma reflexão crítica sobre como o Brasil pode assegurar que esta colaboração fomente um crescimento sustentável e inclusivo.

O Desafio da Autonomia Tecnológica

Diante deste contexto, surge a questão da autonomia tecnológica brasileira. A história do país no que tange à exploração de recursos minerais — como nos casos do manganês na Serra do Navio e do lítio em Minas Gerais e no Espírito Santo — serve de alerta para a necessidade de um planejamento estratégico que contemple não apenas a exportação de urânio, mas também o desenvolvimento de uma indústria nuclear robusta e autônoma. Isso inclui capacidades em todo o ciclo do combustível nuclear e avanços nas tecnologias de baterias e outras aplicações de energia limpa.

Uma Análise Crítica para o Futuro

O acordo nuclear Brasil-França, portanto, deve ser analisado sob uma ótica que transcende a mera propaganda ou o entusiasmo imediato. É fundamental que as partes envolvidas garantam que os termos do acordo reflitam um compromisso com o desenvolvimento sustentável, a transferência de tecnologia e a geração de valor de longo prazo para a sociedade brasileira. Somente assim, será possível utilizar os recursos naturais do país como verdadeiros instrumentos de progresso e de fortalecimento da soberania nacional.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).