“Nossa vitória final que é a mira do meu fuzil, a ração do meu bornal, a água do meu cantil, as asas do meu ideal, a glória do meu Brasil”. O trecho da “Canção do Expedicionário”, música lançada em 1944 e que se tornou popular entre as tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, traduz bem a coragem, o sacrifício e o patriotismo que moveram os militares brasileiros durante os confrontos. Embalados por esses valores, milhares de jovens rumaram à Europa com a missão de garantir a soberania nacional ameaçada pelas potências do Eixo – Alemanha, Itália e Japão. Entre eles, estava um marinheiro cearense de 17 anos, Melchisedch Afonso de Carvalho, que logo após formar-se na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Angra dos Reis, extinta em 1950, foi designado para ir à guerra a bordo de um dos navios cedidos pela US Navy (Marinha Norte-Americana), por meio do Programa Lend & Lease. O acordo garantia novos meios e equipamentos à Marinha do Brasil (MB), para que pudesse efetuar ações de patrulha e guerra antissubmarino, e proporcionou a criação da Força Naval do Nordeste, sob comando do Capitão de Mar e Guerra Alfredo Soares Dutra, subordinada operativamente à 4a Esquadra norte-americana.

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Hoje, aos 94 anos o Segundo-Tenente Melchisedch lembra com detalhes o dia do embarque. “Ao sair da Escola não sabíamos que iríamos para a guerra. Ninguém acreditava que o Brasil entraria no conflito. Vivíamos um clima de brincadeira, tínhamos entre 16 e 17 anos. Mas, embarcamos com felicidade, nos empenhamos e fomos muito bem. Aprendemos na Marinha que o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever e assim fizemos”, conta. O jovem marinheiro auxiliou na missão da MB na Segunda Guerra, que consistia em patrulhar a área do Atlântico Sul e proteger os comboios que trafegavam entre o Caribe e o litoral sul brasileiro. Os números reforçam o êxito das operações: dos 3.164 navios comboiados pela MB, 99% chegaram a seus destinos.

Entretanto, o sucesso exigia um trabalho árduo de todos os militares. Seja em terra, no mar ou no ar, o perigo era constante. “Permanecíamos 24 horas em regime de prontidão e sempre estávamos preparados para qualquer anormalidade. Assim foi quando um submarino alemão tentou furar o comboio que estava sob nossa proteção. Lançamos cargas de profundidade e o submarino não foi mais detectado”, relembra o Oficial da Marinha. Além da parte operativa, a logística também demandava esforços e atenção da tripulação. “Tudo era muito bem planejado pela Marinha. Atracávamos em segurança para reabastecer o navio com mantimentos e armamento e seguíamos com exatidão as ordens que recebíamos. Nunca nada nos faltou”, relata  Melchisedch.

O trabalho incansável na proteção dos comboios

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Exercício de lançamento de bombas de profundidade, no Navio Caça-Submarino “Guaporé”, em 1944 – Crédito: Marinha do Brasil

A Marinha do Brasil (MB) desempenhou um papel fundamental na proteção dos comboios que trafegavam entre o Caribe e o litoral sul brasileiro. Durante a guerra, dos 3.164 navios comboiados pela MB, 99% chegaram a seus destinos. Entretanto, esse sucesso exigia trabalho árduo e constante vigilância. O Segundo-Tenente Melchisedch, hoje com 94 anos, relembra a época com detalhes, desde o embarque até as operações de patrulha e guerra antissubmarino no Atlântico Sul.

A importância da liderança na motivação dos tripulantes

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Desfile em comemoração ao retorno da Força Naval do Nordeste e da Força Naval do Sul ao Rio de Janeiro, que defenderam as linhas de comunicação marítimas com os portos nacionais

O veterano destaca a liderança do Capitão de Mar e Guerra Alfredo Soares Dutra, comandante da Força Naval do Nordeste, como um fator crucial na motivação dos jovens tripulantes. Sua atenção e respeito aos militares levantavam o ânimo, mesmo em momentos de incerteza e perigo. Após a guerra, Melchisedch seguiu carreira na MB, contribuindo com seu conhecimento adquirido durante o confronto ao longo de 18 anos de serviço ativo.

O legado dos militares brasileiros na Segunda Guerra

Passados 78 anos do fim da Segunda Guerra, o sentimento de orgulho prevalece entre os veteranos. As ações da MB, da FEB e da Força Aérea Brasileira (FAB) durante os confrontos marcaram a história e demonstraram a capacidade, coragem e patriotismo dos militares brasileiros em momentos de adversidade.

Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).