O Projeto Manhattan foi o projeto desenvolvido pelos Estados Unidos da América com a finalidade de construir as primeiras bombas atômicas da história. Cientistas, engenheiros, militares e diversos outros profissionais estiveram mobilizados em torno desse empreendimento de 13 de agosto de 1942 a 15 de agosto de 1947. A primeira bomba atômica construída recebeu o nome de Trinity, e foi testada em 16 de julho de 1945, no deserto de Los Alamos, Novo México – onde se situava a base secreta do Projeto Manhattan. Um mês depois, outras duas bombas semelhantes à primeira foram lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, vitimando mais de 240 mil pessoas.

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Energia nuclear como arma de guerra

O Projeto Manhattan nasceu de uma preocupação levantada pelo físico nuclear Leo Szilard, em agosto de 1939. Esse cientista húngaro, radicado nos EUA, convenceu outro cientista, AlbertEinstein, também radicado nos EUA (sendo alemão de nascimento), a assinar, em conjunto, uma carta endereçada ao presidente americano de então, Franklin D. Roosevelt. Nessa carta, Szilard alertava o presidente sobre a possibilidade de a Alemanha nazista construir armas nucleares, já que foram cientistas desse país, notadamente Otto Hahn, Fritz Strassman e Lise Meitner, que fizeram a descoberta da fissão nuclear, reação física que permitiria a explosão de uma bomba atômica.

Iniciada a Segunda Guerra Mundial, por iniciativa nazista, em setembro do mesmo ano, Roosevelt cuidou em acolher o alerta de Szilard e, junto a outros políticos dos EUA, militares e cientistas, decidiu pelo desenvolvimento do Projeto Manhattan. A liderança do projeto então foi confiada a duas personagens de destaque: o físico americano Robert Oppenheimer e o general Leslie Groves. O objetivo mais patente era se antecipar à provável bomba atômica alemã. Szilard e outros cientistas acreditavam que se os EUA se dispusessem de um artefato como esse, antes dos países inimigos, não apenas a Segunda Guerra teria fim, mas outra guerra da mesma magnitude não seria possível, dada a possibilidade de autodestruição da humanidade como um todo. Como pontua o historiador P. D. Smith, em sua obra Os homens do fim do mundo: o verdadeiro dr. Fantástico e o sonho da arma total:

Para Oppenheimer e Weisskopf, assim como para muitos outros cientistas, inclusive Leo Szilard, embora a bomba atômica fosse um instrumento definitivo de destruição, ela também encerrava a possibilidade de criar a paz duradoura. Eles esperavam que a superarma atômica seria tão terrível que os países renunciariam à guerra e abraçariam a paz. Mas será que a bomba atômica tinha o tamanho necessário? – Niels Bohr perguntou a Oppenheimer ao chegar em Los Alamos. O cientista visionário esperava que a arma fosse tão destrutiva que a guerra deixaria de ter sentido, resumindo-se tão somente a um ato de suicídio mútuo. [1]

Trinity: a primeira bomba atômica

Com os recursos materiais e humanos aplicados ao Projeto Manhattan, os Estados Unidos conseguiram construir o primeiro reator nuclear da história, concluído em 1942, no Met Lab, em Chicago. Além dessa sede em Chicago, o projeto ainda contou com mais três: a Oak Ridge, no Tennessee, onda era feita a separação de urânio-235 do urânio 238, a de Hanford, no estado de Washington, onde se produzia plutônio, e a já citada base de Los Alamos, onde se projetava e construía as bombas.

O primeiro resultado do projeto foi a bomba Trinity, que foi detonada em 16 de julho de 1945, no deserto de Los Alamos. A explosão teve a potência de 20 quilotons, isto é, 20 quilotoneladas de TNT (trinitrotolueno), dinamite convencional. O teste foi gravado, à época, e pode ser visto no vídeo abaixo:

YouTube video

A realização do teste com a Trinity dividiu a opinião dos cientistas. Um deles, Joseph Rotblat, envolvido no projeto, abandonou seu posto após, já avançada a guerra, perceber que a Alemanha não tinha a mínima condição de chegar a construir uma arma nuclear. Como conta o pesquisador Fernando de Souza Barros:

Joseph Rotblat foi o único cientista que saiu do Projeto Manhattan por questões morais. Isso ocorreu quando tomou conhecimento, no final da 2ª Guerra Mundial, que a Alemanha nazista já não tinha condições de fabricar bombas atômicas. Enfrentando a reação oficial contrária à sua decisão, Rotblat retornou à Inglaterra, onde havia trabalhando antes do início da guerra, e iniciou sua campanha contra as armas atômicas, fundando a Associação dos Cientistas Atômicos (ASA, em inglês). [2]

Em 6 e 9 de agosto de 1945, outras duas bombas do Projeto Manhattan foram lançadas pelo avião bombardeiro B-29, Enola Gay, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Respectivamente, os nomes dados às bombas lançadas foram Little Boy e Fat Man – sendo a primeira com conteúdo de urânio e a segundo, polônio.

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O físico Robert Oppenheimer foi o diretor-geral do Projeto Manhattan

NOTAS

[1] SMITH, P.D. Os homens do fim do mundo: o verdadeiro dr. Fantástico e o sonho da arma total.(trad. José Viegas Filho). São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 344.

[2] BARROS, Fernando de Souza. “O Manifesto Russell-Einstein e as Conferências Pugwash”. Física na Escola, v. 6, n. 1. 2005. p. 16.

Por Me. Cláudio Fernandes

FERNANDES, Cláudio. “O que foi o Projeto Manhattan?”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-projeto-manhattan.htm. Acesso em 23 de outubro de 2020.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).