Amazônia Azul
Imagem: Marinha do Brasil

A grandiosidade da nossa floresta tropical emprestou seu nome às nossas águas oceânicas, tão ricas, tão desconhecidas e tão vulneráveis quanto as matas amazônicas.

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O nome Amazônia Azul foi escolhido pelo comandante da Marinha, Roberto de Guimarães Carvalho, que fez um paralelo entre as riquezas existentes no nosso mar com as presentes na Amazônia.

São 3 milhões e meio de km² que abrigam espécies só existentes aqui, como corais, esponjas e peixes.

Para se ter uma ideia da dimensão desse verdadeiro tesouro, apenas o arquipélago de Abrolhos concentra a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, com cerca de 1.300 espécies registradas, entre elas o famoso coral-cérebro, só encontrado no litoral sul da Bahia.

Além da rica biodiversidade, a chamada Amazônia Azul tem uma importância econômica estratégica para o país.

Nossas belas praias atraem grande parte dos brasileiros e estrangeiros que, a cada ano, movimentam bilhões de reais na crescente indústria do turismo.

Outro setor dependente das nossas águas é o comércio exterior. Noventa e cinco porcento das transações nacionais com outros países ocorrem por via marítima.

O comandante da Marinha Flávio Giacomazi destaca, ainda, outras grandes fontes de riqueza presentes na costa brasileira.

“Nós temos aí uma série de recursos naturais importantes para o país, haja vista inclusive toda a nossa exploração de petróleo que é feita pela própria Petrobras, onde o Brasil está se tornando aos poucos autossuficiente em petróleo. Grande parte do petróleo brasileiro é extraído desse espaço geográfico que chamamos de Amazônia Azul, tanto é que temos muito petróleo agora nessas descobertas das camadas pré-sal. Parte dessa camada pré-sal, desse óleo que existe, está dentro da Amazônia Azul”

Mas assim como a floresta amazônica, o nosso mar é marcado por surpresas. Uma delas, descoberta por pesquisadores que participaram de um projeto de mapeamento dos recursos vivos da costa brasileira, chamado Revizee, quebrou a ideia corrente de que as nossas águas seriam uma fonte quase que inesgotável de alimentos, como explica o analista ambiental do Ibama, José Dias.

“O panorama geral confirmado com o Revizee é de que nossos mares são mares de águas quentes e de baixa produtividade, com exceção do extremo sul, em função da corrente das Malvinas, e do norte em função da deságua do rio Amazonas. Portanto, nossas potencialidades são limitadas, não dando portanto para comparar com outros países, como é comum falar do Peru, do Chile, lá são outras realidades ambientais que favorecem uma maior produtividade”

Mesmo sem a presença de grandes cardumes, o litoral brasileiro sustenta uma indústria forte. Em 2005, foram extraídas do mar 500 mil toneladas de peixes, crustáceos e moluscos, gerando uma receita estimada em R$ 1 bilhão.

Mas assim como no resto do planeta, os mares brasileiros sofrem os efeitos da sobrepesca, nome usado quando a atividade não dá tempo para as espécies se reproduzirem e continuarem povoando as águas.

Além de buscar o uso sustentável dos recursos, um grande desafio é conhecer o que nossas águas abrigam, como observa o biólogo e oceanógrafo Frederico Brandini, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná.

“Nós podemos não ter uma biomassa pesqueira muito elevada, porque infelizmente a Terra gira no sentido que gira. Se girasse do lado contrário, nós é que seríamos ricos em peixe e a África teria mais diversidade, mais habitats de corais como nós temos. As fontes de nutrientes que vêm do fundo do mar não conseguem subir. Nós temos pouca biomassa, em contrapartida temos uma diversidade de espécies enormes que têm um valor biotecnológico talvez muito maior do que uma tonelada de sardinha. A prospecção biotecnológica marinha é uma das que mais cresce atualmente, há uma série de fármacos que são extraídos do mar e nós temos potencial de desenvolver esse tipo de pesquisa e de explorar esse tipo de recurso que nem sequer se menciona”.

Estudioso de espécies marinhas há 15 anos, o químico Roberto Berlinck, da Universidade de São Paulo, reforça o que diz Frederico Brandini, contando que as pesquisas para o desenvolvimento de fármacos a partir de organismos do mar, por exemplo, ainda engatinham.

“Estudos desse tipo, apesar de terem sido iniciados aqui no Brasil na década de 70, ficaram restrito a um número muito pequeno de pesquisadores mesmo até hoje. Isso faz com que mesmo até hoje a biodiversidade marinha ainda seja pouco conhecida para se explorar os recursos do ambiente marinho de maneira racional visando a aplicação biotecnológica, como, por exemplo, na descoberta e desenvolvimento de fármacos”.

A chamada Amazônia Azul tem cerca de 3 milhões e meio de km². Essa área pode ficar ainda maior, caso as Nações Unidas aceitem o pedido brasileiro para estender nossa plataforma continental em 900 mil km².

O possível aumento da fronteira marítima vai ampliar ainda mais nossas fontes de riqueza, mas tornará ainda maior o desafio de se conhecer e preservar esse mundo submerso.

De Brasília, Mônica Montenegro

Agência Camara