O crescimento da população mundial requer um investimento cada vez maior em energia limpa e de custo acessível, como é o caso da energia nuclear. E o Brasil é um dos protagonistas globais quando o assunto é o enriquecimento de urânio e, com a participação da Marinha do Brasil, contribui para o domínio do ciclo do combustível nuclear do País. Essa iniciativa vem favorecendo a geração de energia elétrica nas Usinas Nucleares em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, beneficiando a sociedade brasileira em diversos setores. De acordo com a World Nuclear Association, o Brasil faz parte de um grupo de 13 países reconhecidos internacionalmente pelo setor nuclear como detentores de instalações para enriquecimento de urânio com diferentes capacidades industriais de produção.

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A finalização da primeira fase de Usina de Enriquecimento de Urânio, no último dia 25 de novembro, em Resende (RJ), é considerado um marco para o Setor Nuclear brasileiro já que a ampliação dela reduzirá o grau de dependência na contratação do serviço de enriquecimento isotópico no exterior para a produção de combustível das usinas nucleares nacionais. Na ocasião, foi inaugurada a 10ª cascata de ultracentrífugas da Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio, pela Indústrias Nucleares do Brasil, que é o conjunto de equipamentos capaz de gerar energia e aumentar a capacidade de produção da Usina Nuclear de Angra 1 em 70%.

O Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN /CNEN), foram os responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia de enriquecimento do urânio pelo processo da ultracentrifugação.

“Ao longo destes 22 anos, quatro módulos foram entregues, totalizando dez cascatas, em um projeto que favorece a autonomia energética brasileira, uma vez que implementa, sob a ótica comercial, uma tecnologia desenvolvida pela Marinha do Brasil. Trata-se de um modelo de grandes negócios e de desenvolvimento tecnológico que já se mostrou virtuoso. O Brasil encontra-se em posição de destaque, já que possui uma das maiores reservas de urânio do planeta, além de ser um dos poucos países que domina a tecnologia completa do ciclo do combustível nuclear”, disse o Diretor do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), Vice-Almirante Engenheiro Naval Guilherme Dionizio Alves.

O papel da Marinha do Brasil no domínio do ciclo do combustível nuclear 
A Marinha do Brasil é responsável pela fabricação, instalação e comissionamento das cascatas de ultracentrífugas. A busca pelo domínio desta tecnologia iniciou-se no final da década de 70, com uma parceria entre a MB e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), possibilitando o início do desenvolvimento da tecnologia de ultracentrifugação. Em 2000, foi assinado um contrato de fornecimento de sistemas de separação isotópica entre a MB e a INB, contemplando a fabricação e a instalação de dez cascatas para enriquecimento de urânio. A nova cascata possibilitará um aumento e contribuirá para uma maior independência do País na fabricação do combustível no momento em que a conjuntura político-estratégica do mundo tem priorizado a retomada da energia nucleoelétrica global.

Tal iniciativa vem trazendo benefícios à sociedade brasileira, contribuindo para consolidação da componente nuclear na matriz energética nacional, além do arrasto tecnológico, fruto da dualidade do Programa Nuclear da Marinha (PNM). Com base nos resultados positivos alcançados até agora, o CTMSP e a INB iniciaram as negociações para a segunda fase de implementação das cascatas, que ampliará a capacidade de enriquecimento isotópico e contribuirá para a independência do Brasil na produção dos combustíveis nucleares.

A tecnologia desenvolvida pela Marinha do Brasil para o enriquecimento de urânio servirá tanto para a geração de energia elétrica, como também para o desenvolvimento do submarino convencionalmente armado com propulsão nuclear. O Programa Nuclear da Marinha foi iniciado em 1979, em razão da necessidade estratégica do País possuir submarinos com propulsão nuclear. Concebido para utilizar tecnologia totalmente nacional e independente, o Programa foi dividido em duas vertentes: o domínio do ciclo do combustível nuclear e o desenvolvimento de uma planta nuclear embarcada. Atualmente, graças ao PNM, o Brasil domina o ciclo completo do enriquecimento do Urânio e está construindo, na cidade de Iperó (SP), no Centro Industrial Nuclear de Aramar, um Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE). De acordo com o Presidente da INB, o Capitão de Mar e Guerra (EN) Carlos Freire Moreira, a instituição irá produzir o combustível para o reator do LABGENE que simula, em terra, a planta de propulsão do submarino convencionalmente armado com propulsão nuclear.

“Concluímos mais um marco relevante para o setor nuclear brasileiro. A energia nuclear tem sido fundamental na transição energética, contribuindo para a descarbonização do planeta, por ser uma energia limpa. Inúmeros países estão refletindo e revendo suas matrizes de geração energética. Essa conclusão deve ser motivo de orgulho para os brasileiros, visto que o enriquecimento de urânio é uma tecnologia de ponta, 100% nacional, desenvolvida pela Marinha do Brasil, e esse domínio de tecnologia é uma etapa fundamental dos elementos combustíveis que alimentam atualmente as nossas Usinas Angra 1 e 2 e, em breve, Angra 3. Cabe lembrar que pouco mais de 10 países no mundo detém essa tecnologia, e o Brasil é um deles, mas com um detalhe: desses, apenas cinco incluindo o Brasil, dominam a tecnologia e têm urânio em quantidade suficiente que possibilitam a sua independência nessa área tecnológica tão sensível”, disse o Presidente da INB, Capitão de Mar e Guerra (EN) Carlos Freire Moreira.

A implantação da segunda fase, denominada Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio já foi iniciada com o projeto básico. Quando a Usina estiver concluída, o Brasil passará à condição de autossuficiência de enriquecimento de urânio. A previsão é que, até 2033, a INB seja capaz de atender, com produção totalmente nacional, as necessidades das usinas nucleares de Angra 1 e 2 e, até 2037, a demanda de Angra 3.

Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).