Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Glicoproteômica do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) está trabalhando para desenvolver um teste de diagnóstico para a detecção da rabdomiólise. Trata-se de uma condição grave, associada à atividade física extenuante, que pode levar o paciente a óbito se não for detectada precocemente.

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A rabdomiólise é caracterizada pela destruição dos tecidos musculares. Com a ruptura desses tecidos, são liberadas diversas proteínas para a corrente sanguínea, que rapidamente se espalham por diversos órgãos e podem levar a lesão renal aguda, bem como complicações como arritmia cardíaca e síndrome compartimental (inflamação dos membros inferiores do corpo humano).

O grupo é coordenado pelo professor Giuseppe Palmisano e pela pesquisadora Andréia Carneiro da Silva,farmacêutica bioquímica, Capitão de Corveta na Marinha do Brasil. Eles foram responsáveis pela descoberta dos biomarcadores da rabdomiólise, resultando em um artigo publicado na revista Journal of Proteomics e uma patente registrada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

“Descobrimos que, ao contrário do que se imaginava anteriormente, somente a cor da urina, geralmente cor de ‘coca-cola’, não é suficiente para dar o diagnóstico e que as complicações da doença podem acontecer também em urinas de cores claras. Portanto, é preciso avaliar os níveis de proteínas específicas da rabdomiólise. Proteínas essas que nós identificamos no laboratório por meio da espectrometria de massas com amostras coletadas antes e após o exercício durante três anos”, explica Palmisano.

Com base nessa descoberta, o projeto foi aprovado pelo Conselho de Ciência e Tecnologia da Marinha (CONCITEM) e na 20ª Reunião de Projetos de Interesse para a Defesa Nacional (20ª REPID), tornando-se assim estratégico no âmbito do Ministério da Defesa.  “Queremos oferecer para a saúde pública e para os laboratórios um teste de diagnóstico que seja capaz de salvar essas vidas. Isso nos colocará na vanguarda internacional”, afirma Palmisano.

Para isso, os biomarcadores estão sendo validados em um público mais amplo de militares da Marinha do Brasil. Após a conclusão dessa etapa será possível desenvolver um teste rápido que seja capaz de utilizar essa proteína para detectar a doença mesmo em condições adversas, como nos locais de treinamento. “Atualmente, estamos testando os biomarcadores em uma coorte maior de fuzileiros navais. Essa etapa de validação nos permitirá passar para a próxima fase. O objetivo final é desenvolver um teste de diagnóstico rápido para detectar rabdomiólise na urina em locais com baixa infraestrutura”, afirma Palmisano.

Em um estudo de caso ainda não publicado de um militar que evoluiu para lesão renal aguda após um episódio de rabdomiólise, encontrou-se as mesmas proteínas identificadas pelo grupo. E o militar, ao iniciar o tratamento de forma precoce, recuperou-se da doença.

Os pesquisadores também buscam avaliar se as proteínas identificadas podem ser eficazes para diagnosticar outras formas de rabdomiólise. “Vivemos um surto de rabdomiólise por intoxicação na região norte. É recorrente vermos casos levando à lesão renal aguda devido ao consumo de peixes amazônicos. Veremos se nosso conhecimento é aplicável nesses casos”, explica Carneiro da Silva.

Diagnóstico precoce – Comum entre militares, estivadores e canavieiros, devido também às altas temperaturas em que ocorrem suas atividades, a rabdomiólise é de difícil diagnóstico, o que gera uma subnotificação. Além disso, os sintomas clínicos aparecem, muitas vezes, depois que as complicações já se instauraram.

“Em geral quando o militar chega no hospital já é tarde. Isso ocorre porque geralmente ele só apresenta o sintoma clínico no dia seguinte à atividade física, o que não é suficiente para evitar o agravamento da doença. Além disso, muitos dos treinamentos acontecem em locais de difícil acesso a atendimentos de saúde, como na floresta amazônica”, detalha a farmacêutica. “Caso houvesse uma forma de identificação precoce, seria preciso apenas uma hidratação intravenosa no indivíduo, em campo, para sanar o problema”, acrescenta.

Estudos também apontam casos da doença entre praticantes de crossfit, modalidade de exercícios físicos de alta intensidade que tem se popularizado nas academias.

Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).