Foto: Edmond-Dantes/Pexels

Por Daniel Viana – As mid-term elections, ou eleições de meio-mandato, ocorridas em novembro nos Estados Unidos tem importante correlação com o andamento da guerra na Ucrânia. Pressionados pelo aumento dos índices de inflação, depois da ampliação do gasto fiscal digno de guerra para enfrentar a Covid, os republicanos, agora com maioria na Câmara, ameaçam passar a observar com mais acuidade o dispêndio em auxílio à Ucrânia.

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O resultado eleitoral poderia ter sido bem pior para o presidente Joe Biden. A “onda vermelha” preconizada pelos republicanos falhou em se concretizar e, apesar de terem conquistado a Câmara, o partido elegeu menos deputados do que o projetado. Além disso, no provável cenário dos republicanos ganharem o segundo turno na Geórgia, o Senado ficará empatado com 51 senadores de cada partido. Entretanto, pela estrutura americana, isso significa que os democratas terão maioria, pois o voto de Minerva nestes casos é responsabilidade da Vice-Presidente.

É possível que o maior perdedor tenha sido o ex-presidente Donald Trump, cujos candidatos apoiados ao Senado tiveram um desempenho bem pior que o esperado. O apresentador de televisão, Emett Oz, por exemplo, perdeu uma importante batalha na Pennsylvania para o democrata John Fetterman, que recentemente sofreu um AVC.

Mas o fracasso dos Republicanos em conquistarem o Senado abriu uma oportunidade para Ron DeSantis, que obteve uma vitória expressiva na Flórida. DeSantis pode ser o primeiro de uma geração política a praticar o “Trumpismo sem Trump”. DeSantis é afeito a grandes gestos, recentemente mandou imigrantes ilegais para Marta Vineyard, reduto da elite democrata, mobilizando os eleitores republicanos. Ao mesmo tempo, DeSantis apresenta uma postura mais controlada, equilibrada e um discurso incisivo, porém mais contido.

Não obstante, discussões sobre as eleições de 2024 não devem impactar a agenda republicana na Câmara no curto-prazo. McCarthy é o favorito para o cargo de presidente (House Speaker) afirmou que os republicanos obtiveram uma maioria suficiente para promover a agenda republicana.

Uma das principais moedas de troca para o controle da agenda legislativa é a expansão do teto da dívida. Caso atrase, podemos ver novamente o governo americano incapaz de pagar suas contas como ocorreu durante os governos Obama e Trump. O fenômeno que ficou conhecido como “government shutdown” tem se tornado rotina na política americana. Para McCarthy o aumento do teto deve ter como contra-partida a redução de gastos, inclusive aqueles relacionados à Guerra da Ucrânia.

Segundo o Departamento de Estado americano, estima-se que o país já tenha dispendido cerca de US$19.3 bilhões em armamento desde o início do conflito. No dia 10 de novembro, o governo liberou mais US$400 milhões em armas, munições e equipamentos. Trata-se de transferências diretas do governo americano, não sendo necessária nenhuma contrapartida por parte da Ucrânia. Com as despesas batendo no teto da dívida pública americana, o fornecimento de armamentos decisivos para o sucesso das forças ucranianas em combate, como o obuseiro Howitzer de 155mm ou o míssil antitanque Javelin e suas respectivas munições, pode vir a ser comprometido já que os Estados Unidos tem que manter seus próprios estoques de segurança.

A despesa orçamentária se torna um desafio na medida em que o Secretário de Defesa, Lloyd J. Austin afirmou em seu discurso no Fórum de Segurança Internacional de Halifax, na Nova Escócia, em 19 de novembro, que a agressão russa à Ucrânia – definida na recém lançada Estratégia Nacional de Defesa como uma ameaça aguda, é um desafio à OTAN e seus aliados e, dessa forma, o apoio à Ucrânia se transforma em investimento na própria segurança e  desenvolvimento dos Estados Unidos. Para o Secretário Austin, a guerra no coração da Europa é a principal ameaça atual, além da  ameaça chinesa, que empurra o mundo para algo muito distante da visão americana de um sistema internacional aberto, livre e estável.