1. Introdução

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A Amazônia se reveste de alto valor estratégico, fato que é facilmente percebido pelo interesse de autoridades e pelos meios de comunicação em todo o mundo. Segundo Bertha Becker (2010), o Brasil detém a maior parcela da floresta amazônica, que é um dos três grandes ecossistemas do planeta ainda não explorados, assim como a Antártica e o fundo dos oceanos.

O Exército Brasileiro, instituição de Estado destinada à defesa da pátria, à garantia da soberania nacional e à cooperação com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social, considera a Amazônia uma área estratégica prioritária. Em vista dessa realidade, realiza atividades e operações militares na região voltadas para promover a integração nacional, bem como reduzir as vulnerabilidades existentes na Amazônia brasileira.

O desenvolvimento da Amazônia foi tema abordado por diversos geopolíticos brasileiros, os quais propuseram inúmeras formas de integrar a região ao restante do país, além de ideias inovadoras para gerar desenvolvimento e manter a soberania nacional. Diante disso. Este artigo tem por finalidade analisar a importância do Exército Brasileiro para a geopolítica da Amazônia, a luz dos pressupostos geopolíticos de Therezinha de Castro e do General Meira Mattos.

 

2. A geopolítica da Amazônia

A cobiça internacional pela Amazônia foi apontada por Therezinha de Castro logo após o término da guerra fria. Na visão dela, o término do confronto bipolar gerou  condições para que a sociedade internacional reivindicasse a internacionalização da Amazônia, representando dessa forma a geopolítica do confronto, transferida para o eixo Norte-Sul (CASTRO, 2013).

A autora defende a ocupação efetiva, ordenada e inteligente dessa enorme área geopolítica carente do poder estatal, como forma de neutralizar as investidas estrangeiras contrárias ao desenvolvimento da Amazônia. Na mesma direção, a Política Nacional de Defesa (PND, 2016) destaca a Amazônia brasileira como uma das prioridades do ponto de vista da Defesa, em virtude de seus recursos minerais, potencial hidro energético e a exuberante biodiversidade. Neste sentido, o Exército Brasileiro atribui grande importância à região, privilegiando a estratégia da presença, com o efetivo de cerca de trinta e três mil militares, distribuídos em quatro Comandos Militares de Área presentes na Amazônia Legal (JUNIOR, 2020).

Segundo Castro (2013), a política de integração e valorização da região se baseia na geoestratégia do quadrinômio: colonização, integração, exploração e vigilância. Para tanto, Castro (2013) propõe o direcionamento de fluxos migratórios para áreas despovoadas, incorporando e explorando a área geopolítica neutra, aumentando dessa forma a vigilância nas zonas despovoadas e fronteiras desguarnecidas. Sobre esse tema, a PND (2016) estabelece que as fronteiras, por sua permeabilidade, requerem constante vigilância, atuação coordenada e cooperação entre os países amazônicos. Para atender esta necessidade de vigilância, o Exército Brasileiro possui atualmente vinte e três Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) e um Destacamento Especial de Fronteira (ARANTES, 2021), os quais são responsáveis por vigiar os mais de onze mil quilômetros de fronteira terrestre na região amazônica, garantindo a soberania e a integridade territorial.

Ademais, a Lei Complementar (LC) Nº 97/99 (BRASIL, 1999), confere poder de polícia ao Exército Brasileiro para atuar na faixa de fronteira. Tal amparo legal permite às Forças Armadas atuar por meio de ações preventivas e repressivas contra crimes transnacionais e fronteiriços, realizando patrulhamentos, revistas de pessoas, de veículos, de embarcações e de aeronaves e prisões em flagrante delito. Como forma de ampliar a capacidade de vigilância da fronteira, o Exército Brasileiro tem feito ações no sentido de implementar o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) na região amazônica. Este sistema de sensoriamento, quando plenamente instalado, ampliará a capacidade de monitoramento, fornecendo informações precisas acerca de atividades ilícitas na fronteiras terrestres do país e ampliando a efetividade das operações na faixa de fronteira.

Para Meira Mattos (2002), a integração da Amazônia é o grande desafio para a projeção do Brasil no cenário mundial. A região representa três importantes papeis: a ampliação do poder nacional, por meio da exploração racional dos recursos naturais disponíveis; capacidade de integração do país ao altiplano boliviano, países andinos e ao oceano Pacífico e; condição de solucionar questões climáticas, ambientais, energéticas, alimentares e de escassez hídrica (BÔAS, 2013). No mesmo diapasão, a concepção política de defesa é pautada pela promoção da integração da região amazônica brasileira (PND, 2016).

Alinhado com a Política Nacional de Defesa, o Exército Brasileiro tem feito ações no sentido de integrar a região amazônica com o restante do país. O exemplo mais notório repousa nos Batalhões de Engenharia de Construção (BEC), que tem sido empregados para auxiliar na construção, pavimentação e manutenção dos principais eixos de transporte da região Amazônica, a exemplo da rodovia BR 319, que liga Porto Velho a Manaus.

Outro empreendimento feito pelo Exército Brasileiro e que está alinhado com os pressupostos geopolíticos de Meira Mattos é a reativação do comando Militar do Norte. Segundo Mattos (2002), devem ser realizados duas abordagens na região amazônica: uma direcionada para a Amazônia oriental, projetando-se para a foz do rio Amazonas e para o segmento nordeste do oceano Atlântico e; uma segunda voltada para a Amazônia ocidental, convergindo os interesses para a cidade de Manaus, pólo vivificador das regiões fronteiriças (DE MEDEIROS, 2016). Alinhado a este pensamento, o Exército Brasileiro atualmente possui dois Comandos Militares de Área: o Comando Militar da Amazônia, sediado em Manaus, responsável pela segurança e vigilância da fronteira ocidental; e o Comando Militar do Norte, com sede em Belém, responsável pelo espaço estratégico da foz do rio Amazonas.

Além disto, Meira Mattos aponta da necessidade de priorizar a vigilância nas regiões fronteiriças, além de manutenir uma reserva operacional terrestre. Conforme este pressuposto, o país deve dispor de uma força de dissuasão capaz de desencorajar qualquer agressor. Neste contexto, a Estratégia Nacional de Defesa (END, 2016) considera a Dissuasão como a primeira postura estratégica a ser considerada para a defesa dos interesses nacionais. Para isso, o Brasil deve dispor de meios que possibilitem a vigilância, controle e defesa do território. Atento a esta necessidade, o Exército Brasileiro constitui forças de emprego estratégico. Estas Grandes Unidades são capazes de executar grandes deslocamentos estratégicos, se organizar de forma a permitir a sustentação logística, gerando desequilíbrio estratégico, por meio da dissuasão e da ofensiva.

No que tange a cooperação, Meira Mattos cunha o conceito de Pan-Amazônia, criando uma macro unidade em torno dos espaços geográficos dos Estados nacionais que compõem a bacia amazônica (DE MEDEIROS, 2016). Esta premissa se coaduna com a concepção da Política Nacional de Defesa de privilegiar a cooperação no âmbito internacional e integração com países sul-americanos, na busca de soluções integradas para questões de interesses comuns. Neste contexto, o Exército Brasileiro contribui com a construção do ambiente de confiança mútua, participando de Reuniões Regionais de Intercâmbio Militar, eventos entre Exércitos de países amigos (sul-americanos), nos quais se realizam troca de experiências que fortalecem o controle e a segurança da faixa de fronteira.

 

3. Conclusão

A Amazônia representa o poder latente para a geopolítica brasileira, principalmente pela grande reserva de minérios e de biodiversidade a ser explotada. A despeito da pressão internacional, o Brasil busca estruturar ações que promovam o desenvolvimento da região.

A geopolítica Therezinha de Castro defende a ocupação efetiva, ordenada e inteligente, fundamentada na geoestratégia do quadrinômio. Nesse sentido, o Exército Brasileiro tem desdobrado um expressivo contingente de miliares na região amazônica, articulando suas Organizações Militares e destacando Pelotões Especiais de Fronteira, destinados a realizar a vigilância da fronteira e capazes de atuar no combate aos ilícitos ambientais e transfronteiriços, sob respaldo jurídico da LC 97/99.

O geopolítico Meira Mattos, por sua vez, ressalta a importância da região amazônica como forma de ampliar o poder nacional, da mesma forma que enfatiza a necessidade de prover forças de dissuasão para desencorajar agressões e fomentar a cooperação entre os países enquadrados na Pan-Amazônia. Nesta direção, o Exército Brasileiro mantém expressivo contingente na Amazônia, constitui forças de emprego estratégico, com mobilidade para atuar em todo território e promove intercâmbios de cooperação com países vizinhos.

Por fim, constata-se que o Exército Brasileiro tem se mostrado num relevante vetor da expressão militar do poder nacional, em prol do desenvolvimento da Amazônia. A sua atuação e forma de agir encontra alinhamento nos pressupostos dos geopolíticos analisados, bem como em conteúdos na Política Nacional de Defesa, cujas diretrizes balizam a atuação da Força Terrestre. Portanto, o lema Integrar para não Entregar permanece tão vivo, quanto os pressupostos de Meira Mattos e Therezinha de Castro.

Pedro Santoro Costa da Silva
Tenente-Coronel do Exército Brasileiro e
atualmente está realizando o CAEM na ECEME

 

 Referências Bibliográficas:

  1. ARANTES DE MORAES, C. H. A Importância dos Pelotões Especiais de Fronteira na Região Amazônica Brasileira. Revista Agulhas Negras, Vol. 5, nº 6, p. 101-112, 2021.
  2. BECKER, Bertha K. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: é possível identificar modelos para projetar cenários? Parcerias Estratégicas, Vol. 6, nº 12, p. 135-159, 2010.
  3. BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999 – Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. Brasília: Câmara dos deputados, 1999.
  4. BRASIL. Ministério da Defesa. Política Nacional de Defesa: Estratégia Nacional de Defesa. Brasília: Ministério da Defesa, 2016.
  5. BÔAS, Eduardo Dias da Costa Villas. Meira Mattos, a Amazônia e o livro. Cadernos de Estudos Estratégicos, nº 12, p. 43-75, 2013.
  6. CASTRO, Therezinha de. Amazônia-Geopolítica do confronto e Geoestratégia da integração. A Defesa Nacional, Vol. 101, nº 822, 2013.
  7. DE MEDEIROS, Rodrigo Augusto Lima. Governo da natureza (parte II): a construção de uma Amazônia geopolítica. Universitas Jus, Vol. 27, nº 1, 2016.
  8. JÚNIOR, Peixoto; DA CRUZ, Henrique Lúcio. A Geopolítica da Amazônia: os recursos naturais estratégicos e a presença do Exército Brasileiro. Trabalho de Conclusão de Curso na ECEME, 2020. Rio de Janeiro: ECEME, 2020.
  9. MEIRA MATTOS, Carlos de. Geopolítica e Modernidade – Geopolítica Brasileira. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2002.

Rio de Janeiro – RJ, 20 de dezembro de 2022.


Como citar este documento:
Silva, Pedro Santoro Costa da. A importância do Exército Brasileiro para a Geopolítica da Amazônia. Observatório Militar da Praia Vermelha. ECEME: Rio de Janeiro. 2022.

Marcelo Barros, com informações do Exército Brasileiro
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).