“Exijo que meu corpo seja vestido somente com camisa, ceroula e coberto com um lençol, metido em caixão forrado de baeta, tendo uma cruz na mesma fazenda, branca, e sobre ela colocada a âncora verde que me ofereceu a Escola Naval em 13 de dezembro de 1892, devendo colocar no lugar que faz cruz a haste e o cepo, um coração imitando o de Jesus, para que assim ornado signifique a âncora cruz, o emblema da fé, esperança e caridade que procurei conservar sempre como timbre de meus sentimentos. […] Como homenagem à Marinha, minha dileta carreira, em que tive a fortuna de servir à minha Pátria e prestar algum serviço à humanidade, peço que sobre a pedra que cobrir minha sepultura se escreva: Aqui jaz o Velho Marinheiro!”

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Com esta passagem do testamento de nosso Patrono, o Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré, tenho, hoje, a honra de dirigir-me mais uma vez a todos os meus comandados e aos brasileiros e brasileiras, que irmanados em forte sentimento de nacionalidade e amor à Pátria, lutam, incansavelmente, pelo ideal de um Brasil cada vez melhor, cada vez mais verdadeiramente livre e completamente soberano.

A data de 13 de dezembro, ocasião especial em que comemoramos o Dia do Marinheiro, foi escolhida não por acaso. Ela homenageia o nascimento do Almirante Tamandaré, como forma de reconhecimento por todos os seus feitos e pelos valores cultivados ao longo de uma carreira de 66 anos de bons serviços prestados ao Brasil e à Marinha.

A humildade, o caráter e o respeito ao próximo são algumas das virtudes eternizadas nas breves palavras de seu testamento, e que bem representam a dimensão alcançada por este insigne Chefe Naval, exemplo de líder militar. O amor pela Marinha e pelo Brasil, e a vocação inata pelas coisas do Mar, são características marcantes de nosso Patrono, as quais herdamos e protegemos com toda nossa alma, até os dias atuais.

Com apenas 15 anos de idade, contra a vontade de seus pais, Tamandaré ingressou na Marinha, como Voluntário da Armada. Teve seu Batismo de Fogo nas lutas pela Independência na Bahia, junto à Flotilha de Itaparica, ao lado do Tenente João das Botas, demonstrando, ainda cedo, sua coragem e disposição de lutar pela liberdade da nascente “Nação verde e amarela”.

Embarcado na Fragata Niterói, combateu os navios portugueses na Batalha Naval de 4 de maio de 1823, na Baía de Todos os Santos. Após o 2 de julho, quando a Esquadra adversária se retirou de Salvador, Tamandaré partiu em perseguição à frota inimiga, apresando vários de seus navios, atacando o comboio em fuga até a foz do Rio Tejo. De lá, retornou após ostentar, ainda em águas lusitanas, o imponente pavilhão do Brasil. Desde então, somos um País independente e cada vez mais soberano.

Com o passar das décadas, seguiram-se outros episódios marcantes na longa e vibrante carreira naval do Almirante Tamandaré, tais como a sua decisiva atuação na Guerra da Cisplatina, na pacificação de conflitos internos e nas ações como Comandante em Chefe das Forças Navais Brasileiras na Guerra da Tríplice Aliança, de 1864 até 1866.

Nesta solene data, quando trazemos ao presente um pouco da história da Invicta Marinha de Tamandaré, rendemos mais que uma homenagem àquele que assentou a pedra fundamental dessa Instituição forte e respeitada que é a Marinha do Brasil. Registramos nossa gratidão por aquele que se dedicou inteiramente ao serviço da Pátria, e que hoje, pelo exemplo legado, congrega os Marinheiros do passado e do presente, sendo inspiração para diversas gerações de nossa Força.

Atualmente, é importante refletirmos sobre o papel da Amazônia Azul e das Águas Interiores para a sobrevivência das próximas gerações de brasileiros. A cada dia que passa, nossas águas assumem condição cada vez mais estratégica para o futuro do País. São artérias por onde fluem esmagadora parte de nossa economia, que congregam reservas incalculáveis de recursos naturais e de rica biodiversidade, uma riqueza que temos o dever de proteger e a obrigação de explorar com sustentabilidade, perpetuando seu uso para os que virão.

Aliado a isso, releva destacar que a preponderância do Brasil no Atlântico Sul e a defesa dos nossos interesses no destino do Sexto Continente evidenciam, também, a necessidade de dispormos de uma Força Naval moderna, forte e preparada, capaz de fazer frente a qualquer ameaça, apta a contribuir para a manutenção de nossa posição de destaque no Concerto das Nações.

O ano de 2022 trouxe resultados significativos para o aprestamento de nossa Marinha. Tivemos as recentes incorporações ao setor operativo do Submarino “Riachuelo” e do Navio- Patrulha “Maracanã”, como parte do esforço empreendido por nossa Força no âmbito do Programa Estratégico de Modernização do Poder Naval para restabelecer a construção naval em nosso País. Além disso, houve as ativações do 1° Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas e do Comando de Operações Marítimas e Proteção da Amazônia Azul, que ampliaram, sobremaneira, as capacidades de monitoramento, controle, proteção e defesa dos nossos mares e rios.

Nesse bojo, nossa Marinha ainda manteve a navegação segura do Programa das Fragatas Classe “Tamandaré” e do Programa de Obtenção de Meios Hidroceanográficos, a exemplo dos inícios das construções, em Santa Catarina, da fragata que dará nome à mais nova classe de navios escolta da Marinha e, também, do Navio de Apoio Antártico “Almirante Saldanha”, no Espírito Santo, que permitirá valorizar, ainda mais, a pesquisa brasileira na Antártica, bem como outras diversas iniciativas para o aprimoramento do poder de combate do nosso Corpo de Fuzileiros Navais.

Cabe, igualmente, reconhecer a atuação da Marinha como alavanca para o crescimento científico, tecnológico e de inovação do nosso País, assertiva que se ampara nos expressivos resultados alcançados no âmbito dos Programas de Desenvolvimento de Submarinos e Nuclear da Marinha, iniciativas estratégicas que garantirão futuramente ao Brasil a capacidade de projetar e construir, em território nacional, o nosso primeiro submarino com propulsão nuclear. Além das ações no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, quais sejam a recente assinatura da Política Nacional para Assuntos Antárticos (POLANTAR), que apresentou à sociedade o posicionamento do Brasil para os assuntos correlacionados ao continente austral e, também, a continuidade dos trabalhos para, muito em breve, estabelecer a nova Política Marítima Nacional.

São ações, que por si só, ratificam o compromisso da Alta Administração Naval com o incremento da capacidade operacional e da capacitação do pessoal de nossa Força, e que contribuem para o fomento da indústria nacional e para a geração de renda e de empregos de qualidade para os brasileiros.

2022 não foi um ano como outro qualquer! Celebrar o Bicentenário da Independência do Brasil e da criação de nossa vitoriosa Esquadra, demonstrou, uma vez mais, a aderência da história de nossa Marinha à do Brasil. A cada comemoração, presenciamos o “orgulho verde e amarelo”

estampado no rosto dos milhares de cidadãos brasileiros. Para nós, homens e mulheres do Mar, é fator de motivação observar o patriotismo e o carinho que o povo tem pelo seu País e por sua Marinha.

Com a plena certeza de estarmos sempre juntos neste mesmo barco, não poderia furtar-me de enaltecer o elo que nos mantém forte, o nosso pessoal, nosso maior patrimônio!

Agradeço à minha incansável tripulação, militares e servidores civis, pela confiança ao se entregarem, ainda jovens, a essa aventura que é servir à Marinha. Agradeço por deixarem rotineiramente seus lares para encontrarem, a bordo de nossas organizações militares, uma segunda família, que os acompanha por uma jornada repleta de adversidades e alegrias a serviço da Pátria.

Parabéns Marinheiros de hoje, de ontem e de sempre, com ou sem farda, da ativa ou da reserva! Seus esforços nunca foram em vão. Assim como Tamandaré, suas ações permanecerão como inspiração para as gerações predecessoras, contribuindo para que nossa Marinha siga navegando rumo à realização dos nossos sonhos e aspirações, mantendo a soberania do Brasil e a liberdade do povo brasileiro, ao qual sempre devotamos todas as nossas ações e reflexões.

Ao reafirmar o nosso compromisso maior com a defesa do Brasil, cumprimento e registro o mais nobre reconhecimento da Marinha do Brasil aos que hoje foram, merecidamente, agraciados com a Medalha Mérito Tamandaré, cujas cerimônias estão ocorrendo nos diversos Distritos Navais e no exterior.

Tudo pela Pátria!
Viva a minha, a sua, a nossa Marinha!

ALMIR GARNIER SANTOS
Almirante de Esquadra
Comandante da Marinha

Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).