Imagem: Fonte: Global Construction Review/Reprodução

Por Luciana Penante

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A China planeja colocar em funcionamento dois reatores nucleares China Fast Reactor 600 (CFR-600), que produzem plutônio e urânio, a partir de 2023. Eles estão sendo construídos na ilha de Changbiao, na província de Fujian, pela China National Nuclear Corporation – CNNC.

Os reatores do tipo “breeder” – que geram mais combustível do que usam em sua reação nuclear – estão atraindo atenção internacional e alguma preocupação, conforme relatório divulgado pela rede de notícias Al Jazeera.

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Localização da ilha de Changbiao, que abrigará os dois novos reatores nucleares.
Fonte: Al Jazeera/Reprodução

O que vem levantando dúvidas na comunidade científica é o fato de que a maioria das usinas nucleares tenta usar o máximo possível de seu combustível – e não produzir mais. Os reatores reprodutores fazem o oposto e caíram em desuso já no início da história das usinas nucleares. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha abandonaram seus programas de desenvolvimento desse tipo de reator há muitos anos.

A China, por sua vez, investiu em reatores rápidos – que usam mais urânio – razão pela qual os cientistas nucleares também se afastaram dele décadas atrás, devido ao alto custo do combustível. A China investe na pesquisa e desenvolvimento de reatores de nêutrons rápidos desde 1964.

Conheça o CFR-600

Os reatores CFR-600 são reatores reprodutores rápidos que utilizam nêutrons resfriados a sódio – em vez de usar água, como a maioria das usinas nucleares em funcionamento. Eles são resfriados por sódio líquido – com faixa de temperatura muito mais ampla e menos interatividade do que a água. Nêutrons rápidos têm mais energia natural do que os nêutrons térmicos alternativos, que devem ser mantidos em um meio com temperatura controlada para agir. Reatores rápidos não requerem esse meio.

Dentro do CFR-600 é usado um combustível chamado óxido misto (MOX), que é feito de plutônio de resíduos nucleares e urânio empobrecido. O processo foi iniciado pela China em 2003, com o projeto do reator China Experimental Fast Reactor (CEFR). Cada um dos dois reatores CFR-600 produzirá 1500 MWt e 600 MWe de energia.

Os reatores regeneradores diferem do grande portfólio chinês de reatores leves e refrigerados a água – o tipo tradicional utilizado na maioria das usinas nucleares do mundo.

Especulação internacional

A Al Jazeera revelou em seu relatório, publicado em 19 de maio, que um pequeno grupo de especialistas em energia nuclear está preocupado com a pouca transparência da China a respeito dos novos reatores nucleares.

Especialistas do Nonproliferation Policy Education Center (NPEC) afirmam que com a quantidade de plutônio que os reatores rápidos produzirão, a China, se quiser, pode ter 1.270 ogivas nucleares até 2030 – quantidade próxima a que os Estados Unidos têm em seu arsenal intercontinental de mísseis.

Os especialistas dizem que a China tornou seu programa nuclear cada vez menos transparente. Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul relatam frequentemente o estado de seu plutônio “civil” (não utilizado em armamentos) à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A China fez essa declaração pela última vez em 2017.

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Planta de unidade de reprocessamento e instalação de MOX em construção. Imagem de satélite de março de 2020.
Fonte: Maxar Technologies and Google Earth/Reprodução

Dois ex-Secretários de Estado Assistentes dos Estados Unidos para Segurança Internacional e Não Proliferação escreveram o novo documento e exortam os governos mundiais a confrontar o governo chinês sobre o que os reatores significam para o programa de armas da China. Segundo eles, o país oriental deveria buscar uma alternativa melhor ao invés de produzir toneladas adicionais do material mais perigoso do mundo.

Não é possível saber ainda se a China quer grandes quantidades de plutônio para competir com outras potências mundiais ou para ter uma moeda de troca persuasiva, caso seja necessário. O fato é que o plutônio produzido pelos reatores pode ser simplesmente reprocessado para utilização como fonte de combustível para outros reatores nucleares, ao invés de produzir armas.

Cientistas devem continuar questionando o uso dos reatores reprodutores em um momento em que diversos países constroem usinas nucleares como forma de trabalhar em direção à neutralidade de emissão de carbono.

Em 2017, o presidente da CNNC, Wang Shoujun, descreveu o projeto de criação de reatores rápidos como de grande importância nacional para a ciência e tecnologia nuclear. Ele disse que a realização do ciclo fechado do combustível promove o desenvolvimento sustentável da energia nuclear na China – e o desenvolvimento da economia local.

Fonte: TecMundo