Boeing inaugura era da navegação quântica em testes nos EUA

Foto: Sean Redigton/Boeing
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O que começou como uma promessa de laboratório agora corta os céus com precisão inédita. Em um voo de quatro horas, a Boeing demonstrou que é possível navegar com total segurança sem depender do GPS. Usando sensores quânticos desenvolvidos em parceria com a AOSense, a gigante aeroespacial norte-americana deu um passo histórico rumo à independência tecnológica em navegação aérea.

Como funciona a navegação quântica: tecnologia por trás do voo

Imagem: AOSENSE

No centro desse feito tecnológico está a Unidade de Medição Inercial (IMU) quântica, desenvolvida com base na interferometria atômica, uma técnica que utiliza o comportamento de átomos em estados controlados para medir acelerações e rotações com altíssima precisão. Ao contrário das IMUs convencionais, que acumulam erros ao longo do tempo, a versão quântica reduz essas margens a níveis mínimos, com desvios de trajetória medidos em dezenas de metros, mesmo após voos de longa duração.

A IMU quântica testada pela Boeing e pela AOSense foi integrada a um sistema completo de navegação inercial, embarcado em um avião Beechcraft 1900D, e validado em voo. O sistema operou com sucesso durante decolagem, navegação, manobras e pouso, fornecendo dados em tempo real com alta confiabilidade — e tudo isso sem qualquer dependência do GPS.

Essa inovação é viabilizada pela combinação de três sensores quânticos, cada um dedicado a um eixo do movimento do avião. A IMU registra o caminho da aeronave a partir de sua posição inicial, gerando uma “navegação autônoma” baseada apenas na física fundamental dos átomos — uma revolução silenciosa no céu.

Implicações estratégicas: autonomia em ambientes sem GPS

Foto: Jonathon Hendrickson/Boeing

Mais do que um feito tecnológico, o voo da Boeing inaugura uma nova era na geopolítica da navegação. Sistemas de posicionamento global como o GPS, embora amplamente confiáveis, são vulneráveis a interferência, bloqueio e manipulação, especialmente em cenários de conflito, onde o controle da informação é crucial.

A capacidade de operar com precisão em ambientes negados ao GPS — como zonas de guerra, regiões remotas ou áreas afetadas por ataques cibernéticos — é um ativo estratégico para aeronaves militares, drones e plataformas autônomas. A tecnologia testada pela Boeing responde a essa demanda crescente por resiliência e independência tecnológica em cenários de defesa e segurança.

Segundo Todd Citron, diretor de tecnologia da Boeing, essa é uma “abordagem inovadora ao aproveitar tecnologias quânticas para desafios operacionalmente relevantes”. A parceria com a AOSense, empresa californiana com expertise em sensores quânticos desde 2004, mostra que inovação dual — com aplicações tanto civis quanto militares — será um dos pilares da próxima geração de sistemas de navegação.

O futuro da aviação com navegação quântica

Os resultados do voo são promissores: além de garantir redução drástica nos erros de navegação, o sistema permite operar de forma independente, robusta e contínua — mesmo em locais onde o sinal de satélite é inexistente ou comprometido. Essa autonomia abre caminho para o uso em rotas comerciais transoceânicas, aeronaves não tripuladas, veículos terrestres autônomos e até exploração espacial.

A próxima etapa será realizar testes ambientais em laboratório, para avaliar como o sistema se comporta sob variações de temperatura, vibração e umidade. Os dados ajudarão a aumentar a robustez e confiabilidade do sistema, essencial para certificações e integração em aplicações comerciais e militares.

O cronograma da Boeing e da AOSense impressiona: em apenas 15 meses, a equipe transformou três sensores de eixo único de laboratório em um sistema quântico completo operando em voo. Esse ritmo acelerado de desenvolvimento sinaliza que a navegação quântica poderá deixar de ser apenas uma promessa futurista e se tornar, em breve, parte da aviação cotidiana.

Como destacou Jay Lowell, gerente de pesquisa em tecnologia quântica da Boeing: “Este teste de voo é um passo histórico. Os sensores quânticos têm grande promessa como a próxima geração de tecnologias de navegação.”

Com informações da Boeing.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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