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500 Anos de História: O Nordeste Como Ponte Geopolítica Global

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Durante o IV Encontro da Rede Nordeste de Estudos Estratégicos e Inovação (IV ERENEEI), o Professor Gilberto Freyre Neto deu uma aula de grande nível ao falar sobre o Saliente Nordestino: Farol estratégico do Atlântico Sul. Ao longo dos últimos 500 anos, o Nordeste brasileiro consolidou-se como uma peça-chave nas rotas comerciais e estratégicas globais. Desde a época das grandes navegações, com os portugueses traçando novas rotas pelo Atlântico, até os dias atuais, essa região tornou-se um ponto de contato vital entre continentes. A história do Saliente Nordestino é repleta de momentos que moldaram a geopolítica mundial, e hoje ele continua a desempenhar um papel fundamental nas relações comerciais e de defesa, tanto no Atlântico Sul quanto além.

A Importância Estratégica do Saliente Nordestino nas Navegações

O papel do Nordeste no cenário internacional começa nas grandes navegações, quando a geografia privilegiada da região foi descoberta pelos exploradores portugueses. Durante o século XV, Portugal já visualizava a importância de contornar o continente africano para chegar às riquezas da Índia e das Índias Orientais. Nessa busca, o Saliente Nordestino, ponto mais avançado do Brasil no Atlântico Sul, se tornaria um local essencial para o apoio logístico e estratégico das expedições.

Além de servir como ponto de parada nas travessias oceânicas, o Nordeste destacou-se no apoio às trocas comerciais com a Europa e, mais tarde, como elo com a Ásia, por meio da Rota da Seda marítima. Esse intercâmbio trouxe não só riquezas, mas também uma forte influência cultural, marcando a região como uma fusão de civilizações e culturas, que se refletiu nos costumes, na gastronomia e na própria formação da identidade nordestina.

Influência Holandesa e a Ocupação de Nassau

Durante o século XVII, o Nordeste foi palco de um dos períodos mais marcantes de sua história: a ocupação holandesa. Entre 1630 e 1654, os Países Baixos, sob a liderança de Maurício de Nassau, estabeleceram um governo que transformaria a região em um importante centro de inovação científica e cultural. Nassau trouxe consigo especialistas como o botânico Georg Marcgraf e o naturalista Willem Piso, que publicaram a “História Natural do Brasil”, obra pioneira sobre a fauna e flora brasileiras.

Além das contribuições científicas, a ocupação holandesa também deixou um legado urbanístico e econômico. Recife, por exemplo, se tornou um modelo de cidade planejada, com infraestrutura avançada para a época. A influência desse período é visível até hoje, tanto na arquitetura quanto na diversidade cultural que caracteriza a região. A convivência entre colonos, indígenas e africanos, somada às contribuições europeias, ajudou a consolidar o Nordeste como um caldeirão cultural único no Brasil.

Nordeste, o Centro da Segurança Atlântica no Século XX

A posição estratégica do Nordeste foi decisiva também durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo Freire, com o avanço das forças do Eixo na Europa e no Norte da África, os Aliados precisavam de uma base de operações no Atlântico Sul para conter as ações submarinas e proteger as rotas comerciais. O Recife tornou-se, então, sede da Quarta Frota dos Estados Unidos, que desempenhou um papel crucial na guerra antissubmarino.

A presença norte-americana trouxe ao Nordeste um grande desenvolvimento em infraestrutura, com a construção de bases aéreas, hospitais e outras instalações estratégicas. A localização do Saliente Nordestino, sendo o ponto mais próximo da África, permitia uma rápida mobilização de tropas e suprimentos, reforçando a importância geopolítica da região. Além disso, a cooperação com os EUA ajudou a consolidar o Brasil como um ator relevante na segurança do Atlântico Sul, papel que o país ainda desempenha na atualidade.

O Futuro do Saliente Nordestino na Geopolítica Global

Nos dias de hoje, a relevância do Nordeste brasileiro não se limita ao passado. Freite deixa claro que avanço da tecnologia e o desenvolvimento das telecomunicações colocam a região novamente em uma posição estratégica. No século XIX, o Recife foi um dos primeiros pontos de conexão de cabos telegráficos submarinos, ligando o Brasil à Europa. Atualmente, a região continua sendo um centro vital para a interconexão de cabos de fibra ótica, que viabilizam as comunicações globais.

Além disso, o Nordeste está inserido em um contexto geopolítico que o torna uma ponte natural para o comércio com a África, continente que tem mostrado um crescimento populacional e econômico acelerado. Com as novas rotas comerciais marítimas e o interesse crescente da China em estabelecer relações com a América Latina, o Saliente Nordestino pode se tornar novamente um eixo importante nas relações internacionais, desempenhando um papel ativo no comércio global e na segurança marítima.

O futuro do Nordeste está, reforça Freire, intimamente ligado ao passado. A região que já foi um ponto de contato crucial entre impérios europeus e colônias ultramarinas pode, mais uma vez, se destacar como uma zona estratégica para o Brasil e para o mundo, promovendo o intercâmbio econômico e a cooperação entre continentes. O Saliente Nordestino, como farol do Atlântico Sul, mantém sua importância como guardião das rotas comerciais e centro de influência geopolítica.

Assista a palestra completa do primeiro dia do IV Encontro da Rede Nordeste de Estudos Estratégicos e Inovação (IV ERENEEI)

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