Passageiros do Diamond Princess, navio impedido de deixar o porto de Yokohama, no Japão, por ter pessoas infectadas com o coronavírus a bordo Foto: Athit Perawongmetha / Reuters

Os navios, sejam porta-aviões ou cruzeiros, historicamente têm sido locais ideais para a propagação de epidemias, da peste negra, do século 14, ao novo coronavírus, atualmente. O cruzeiro Diamond Princess, que ficou em quarentena no Japão durante duas semanas em fevereiro, é um dos exemplos mais marcantes.

A Covid-19, que já deixou mais de 100 mil mortos em todo o mundo, segue avançando em embarcações civis ou militares, onde existem milhares de humanos em espaços confinados. No Brasil, o navio de luxo Costa Fascinosa está atracado em Santos (SP) desde o fim de março e, desde então, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, sete pessoas já foram diagnosticados com o novo coronavírus. Como um novo caso suspeito foi identificado no último dia 7, a quarentena foi reiniciada e deve vigorar até o dia 22.

Outro exemplo recente é o Zaandam, que partiu de Buenos Aires, na Argentina, com direção a Fort Lauderdale, nos EUA, com 1.800 passageiros a bordo, quatro deles brasileiros.

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— As infecções sempre foram uma parte importante da medicina marítima. No século 19, os médicos marítimos eram principalmente higienistas — disse à AFP Jean-Pierre Auffray, presidente da associação francesa de medicina marítima.

No livro “Epidemia e Paz, 1918”, o historiador americano Alfred Cosby lembra que, por estarem isolados em alto-mar na maior parte das vezes, o pior lugar para a disseminação de uma doença é um local confinado e distante de qualquer ajuda, como um navio nestas condições.

Apesar das diferenças entre as embarcações, o modo de contágio é semelhante. As infecções podem ocorrer através da utilização de muitos equipamentos em comum e o contato frequente, seja na pista de dança de um cruzeiro ou na ponte de uma fragata.

Uma vez que a doença está a bordo, a única solução é isolar os doentes, mas nem sempre é possível. O isolamento é mais fácil em navios militares porque “os chefes estão acostumados a medidas restritivas”, segundo um artigo do Instituto Naval Americano (USNI) publicado em 2006.

Em um cruzeiro com milhares de aposentados, a tarefa é mais difícil. Foi o que aconteceu no Diamond Princess, onde mais de 700 casos da Covid-19 foram confirmados entre 3.700 pessoas a bordo.

Disseminação

Outra preocupação é a disseminação de uma epidemia em terra, razão pela qual as autoridades frequentemente proíbem o desembarque. Este foi o caso do cruzeiro Zaandam, que passou semanas na costa da América do Sul, em março.

No caso do Westerdam, que atracou no Camboja em fevereiro e teve o desembarque de passageiros autorizado pelo governo local. No entanto, falhas no controle do diagnóstico da doença permitiram que pessoas infectadas passassem despercebidas e viajassem na sequência para outros países.

Ao longo da história, os navios em quarentena ficavam afastados dos portos. “A ética não era a mesma, a quarentena consistia em dizer ‘morra no seu barco e não venha nos contaminar'”, lembra Auffray. Outro problema para navios militares é se manterem operacionais.

Durante a ‘gripe espanhola’ de 1918, o cruzeiro americano USS Pittsburgh ficou sem condições de defesa, caso “um navio alemão aparecesse”, diz a USNI. Como lembra Auffray, “na história militar, muitas vezes foram as infecções que inclinaram a balança”.

Com informações do jornal O Globo