PEC das Praias: Senado retoma na calada da noite debate sobre terrenos de Marinha

Recifes no litoral norte de Maceió
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A polêmica em torno da PEC das Praias retorna ao Senado nesta quarta-feira (4), quando a Comissão de Constituição e Justiça debaterá a transferência de terrenos de marinha para seus ocupantes. Entre promessas de desenvolvimento econômico e alertas sobre impactos ambientais, a proposta tem gerado intenso embate entre políticos, especialistas e personalidades públicas.

O que é a PEC das Praias e suas principais propostas

A PEC das Praias, em discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, propõe a transferência da posse de terrenos de marinha – hoje de domínio da União – para seus ocupantes, sejam eles particulares, estados ou municípios. Os terrenos de marinha, estabelecidos em 1831, abrangem uma faixa de 33 metros a partir da linha de preamar média, essencial para a proteção da soberania nacional.

A principal justificativa dos defensores da proposta é a regularização fundiária dessas áreas, que atualmente geram arrecadação por meio de taxas como foro e laudêmio. A PEC prevê a extinção dessas cobranças, permitindo aos ocupantes adquirir a propriedade plena do imóvel. Para moradores de baixa renda, como comunidades tradicionais e favelas, o texto propõe a transferência gratuita da posse, embora faltem detalhes sobre o processo.

Enquanto a PEC promete simplificar o modelo atual, críticas apontam para lacunas no texto, como a ausência de prazos claros e mecanismos de proteção ambiental. Apesar de manter sob domínio da União as áreas desocupadas ou destinadas a serviços públicos, há temor de que a medida facilite a especulação imobiliária e o afrouxamento de legislações ambientais.

Os argumentos a favor e contra a PEC das Praias

Os defensores da PEC destacam o potencial econômico e a desburocratização que a medida pode trazer. Segundo o relator da proposta, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a mudança eliminaria cobranças que ele considera “absurdas” e aumentaria a arrecadação da União. Hoje, apenas 564 mil imóveis em terrenos de marinha estão regularizados, gerando R$ 1,1 bilhão em 2023. Estudos indicam que o valor poderia ser até cinco vezes maior se todas as áreas fossem oficializadas.

Por outro lado, críticos como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apontam riscos ambientais significativos. Terrenos de marinha frequentemente abrigam ecossistemas frágeis, como manguezais e restingas, essenciais para a biodiversidade. Especialistas alertam que, fora do controle federal, essas áreas poderiam ser mais suscetíveis a desmatamento e grandes empreendimentos imobiliários. Além disso, há receios de que a privatização disfarçada prejudique o acesso público às praias.

A PEC das Praias também levanta questionamentos sobre os impactos na soberania nacional e no uso estratégico de terrenos de marinha pelas forças de segurança. Historicamente, essas áreas foram reservadas para garantir a defesa do território, funcionando como zonas de proteção estratégica para operações militares e de segurança pública. Com a transferência da posse plena para particulares, críticos apontam que pode haver restrições ao acesso e uso desses terrenos por órgãos como a Marinha e as Forças Armadas, dificultando o planejamento de ações em cenários de emergência ou defesa. Além disso, a fragmentação da posse pode comprometer a capacidade do Estado de gerenciar essas áreas de forma unificada e estratégica.

Impactos possíveis: ambiente, economia e comunidades tradicionais

A aprovação da PEC pode gerar transformações profundas nas áreas costeiras brasileiras. Do ponto de vista ambiental, há risco de degradação de ecossistemas vulneráveis, como dunas e mangues. Ambientalistas afirmam que as regras municipais, mais flexíveis que as federais, poderiam facilitar empreendimentos que ameaçam essas regiões.

Para comunidades de baixa renda que habitam terrenos de marinha, como ribeirinhos e moradores de favelas, o texto prevê a transferência gratuita dos imóveis. No entanto, a falta de clareza sobre os critérios de elegibilidade levanta preocupações sobre insegurança jurídica e possíveis remoções. Muitos temem que a regularização fundiária beneficie prioritariamente grandes empreendimentos, deixando populações vulneráveis desamparadas.

Por outro lado, os defensores da PEC argumentam que a medida traria maior valorização econômica e impulsionaria o turismo, especialmente em áreas urbanizadas. Com a possibilidade de adquirir a posse plena dos terrenos, moradores e investidores teriam maior segurança para realizar melhorias e atrair negócios, aumentando a arrecadação local e nacional.

A decisão do Senado será determinante para o futuro dessas áreas, marcando um ponto de inflexão entre desenvolvimento e preservação. A sociedade, atenta às implicações da PEC das Praias, continuará dividida entre os benefícios econômicos prometidos e os riscos sociais e ambientais que ela representa.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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