ONU denuncia massacre no Haiti: 70 mortos em ataque de gangue

Crianças no Haiti - Pixabay

A crise de violência no Haiti atingiu um novo nível de brutalidade após um ataque da gangue Gran Grif, que resultou na morte de ao menos 70 pessoas, incluindo três bebês. O massacre ocorreu na cidade de Pont-Sondé, onde homens armados varreram a região disparando indiscriminadamente. A ONU condenou o ataque, classificando-o como um “crime odioso” contra uma população indefesa. O episódio agrava a situação já crítica no país, que enfrenta uma crise humanitária sem precedentes.

Crescimento das Gangues no Haiti e Impacto na População

A violência no Haiti não é um fenômeno recente, mas a expansão das gangues tem atingido proporções alarmantes nos últimos anos. A gangue Gran Grif, responsável pelo ataque em Pont-Sondé, é apenas uma entre diversas facções que se consolidaram em meio à fragilidade do governo haitiano e à falta de recursos de segurança. A impunidade, somada ao controle que esses grupos exercem sobre vastas áreas do país, permitiu que gangues como a Gran Grif se tornassem forças paramilitares capazes de desafiar abertamente o Estado.

O impacto sobre as comunidades tem sido devastador. No massacre em Pont-Sondé, dezenas de casas foram incendiadas e veículos destruídos, forçando os moradores a fugir em massa. Muitos não têm para onde ir, agravando a já existente crise de deslocamento interno. Os 70 mortos, entre eles três bebês, são o reflexo de uma violência que não poupa ninguém – crianças, idosos, homens e mulheres têm se tornado alvos fáceis. Além das mortes, 16 pessoas ficaram gravemente feridas no ataque, incluindo dois membros de gangues que trocavam tiros com a polícia local.

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A resposta das autoridades haitianas tem sido limitada, em grande parte devido à falta de equipamentos, treinamento e efetivo policial para enfrentar as gangues que dominam amplas regiões do país. A Polícia Nacional do Haiti, embora tenha tentado intervir, sofre com um número reduzido de agentes e o crescente controle das gangues sobre áreas urbanas e rurais, como a região de Artibonite, conhecida por ser o celeiro agrícola do país.

A Crise Humanitária no Haiti e a Ação Internacional

A violência desenfreada das gangues no Haiti é apenas um dos elementos que contribuem para uma das crises humanitárias mais graves do hemisfério ocidental. A insegurança alimentar no país afeta metade da população, com a região de Artibonite, onde ocorreu o massacre, sendo um exemplo da degradação socioeconômica. Antes um importante produtor de arroz, a região agora luta contra a fome, agravada pela violência que destrói plantações e afasta os agricultores.

De acordo com a ONU, mais de 700 mil pessoas estão atualmente deslocadas internamente devido ao conflito, um número que quase dobrou nos últimos seis meses. A insegurança constante também afeta o acesso a bens essenciais, deixando milhares de famílias sem meios de subsistência. Essa situação crítica levou a ONU a enviar uma missão de apoio ao Haiti, com o objetivo de fortalecer as forças de segurança locais. No entanto, os recursos fornecidos até agora são apenas uma fração do que havia sido prometido, o que limita a capacidade de ação das forças haitianas.

A proposta do governo haitiano para que essa missão seja convertida em uma operação formal de manutenção da paz da ONU enfrenta resistência no Conselho de Segurança. Rússia e China bloquearam a proposta, gerando impasses diplomáticos que retardam qualquer avanço significativo na estabilização do país. Enquanto isso, a ONU estima que, somente em 2024, mais de 3.600 pessoas já perderam a vida em decorrência do conflito – uma média de 13 mortos por dia.

O Brasil e o Haiti: Relações Históricas e Apoio na Crise

O Brasil tem uma longa história de envolvimento com o Haiti, especialmente por meio de sua participação nas missões de paz das Nações Unidas no país, a exemplo da MINUSTAH, entre 2004 e 2017. Naquela época, as forças brasileiras desempenharam um papel crucial na tentativa de estabilizar o Haiti após períodos de intensa violência e instabilidade política. Esse vínculo histórico mantém o Brasil como um ator relevante nas discussões sobre o futuro do Haiti.

Em resposta ao massacre em Pont-Sondé, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro emitiu uma nota expressando suas condolências às famílias das vítimas e reafirmando o compromisso do Brasil em apoiar o Haiti a retomar o caminho da paz e do desenvolvimento. A diplomacia brasileira tem mantido o diálogo com parceiros internacionais na busca de soluções para a crise haitiana, ainda que com a limitada capacidade de ação que o contexto permite.

Embora o Brasil não esteja diretamente envolvido com a atual missão da ONU no Haiti, o país tem condições de desempenhar um papel mais ativo na resposta à crise, seja por meio de ações humanitárias, do incentivo a parcerias internacionais ou mesmo pela facilitação de negociações no âmbito da ONU. A necessidade de uma ação mais coordenada e robusta é urgente, dado o colapso social, econômico e de segurança que o Haiti enfrenta.

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