Internet sob controle do crime: o novo campo de ameaça à soberania do Brasil

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O domínio de redes de internet por facções criminosas em diversas cidades brasileiras inaugura uma nova e silenciosa frente de ameaça à soberania nacional. Além da coação física, os narcotraficantes agora controlam a conectividade de populações inteiras, podendo monitorar dados, identificar alvos e aplicar represálias. Quando o acesso à informação depende da autorização do crime organizado, o risco não é apenas social — é institucional, militar e estratégico.

O domínio do crime sobre redes de internet e seus mecanismos de controle

Nos últimos anos, o crime organizado deixou de atuar apenas na venda de drogas e passou a explorar setores essenciais da infraestrutura civil — entre eles, a conectividade. Em diversos municípios da Região Nordeste, como Caucaia, Caridade e São Gonçalo do Amarante, no Ceará, provedores clandestinos operam sob o comando de facções como o Comando Vermelho, impondo seu domínio sobre a internet de comunidades inteiras.

As empresas formais que se recusam a pagar taxas de “proteção” são alvo de vandalismo, incêndios criminosos, cortes de cabos e perseguições a funcionários. Em contrapartida, os serviços ilegais operam com liberdade, sem fiscalização e com forte apoio da intimidação armada. Nessas redes dominadas por facções, não há qualquer proteção de dados, controle técnico ou criptografia, tornando possível monitorar o tráfego, identificar comunicações e até rastrear quem tenta denunciar ou confrontar interesses criminosos.

Em cenários como esse, a conexão à internet deixa de ser um direito e passa a ser uma ferramenta de vigilância do crime organizado, especialmente em regiões periféricas e com pouca presença do Estado.

Risco para militares, agentes de segurança e o Estado

A gravidade da situação vai além da violação de direitos civis: trata-se de um grave risco à segurança institucional do país. Militares das Forças Armadas, policiais e agentes da inteligência que vivem em áreas dominadas — e dependem das redes locais de internet — podem ser vigiados sem saber. A simples utilização de conexões controladas por facções os torna vulneráveis a espionagem, chantagens e ameaças, além de colocar suas famílias em risco.

Relatórios de inteligência consultados por fontes ligadas à segurança pública apontam que dados básicos, como localização de dispositivos e hábitos de uso, já são utilizados por grupos criminosos para identificar e retaliar servidores públicos considerados “ameaças” à operação local. Em áreas onde o provedor ilegal é o único meio de acesso, não há anonimato, nem segurança da informação — e quem incomoda, paga o preço.

Isso representa uma violação direta à soberania digital do Estado brasileiro, pois compromete não apenas a liberdade individual, mas também a integridade das instituições de defesa e segurança que deveriam atuar de forma livre nesses territórios.

Soberania digital e omissão do poder público

Diante da escalada do narcoterrorismo digital, o silêncio do poder público é ensurdecedor. Embora ações pontuais, como a Operação Strike, tenham resultado na prisão de criminosos no Ceará, nenhuma estratégia nacional foi apresentada para proteger a infraestrutura digital em áreas vulneráveis, tampouco há políticas voltadas à retomada da conectividade segura para populações em risco.

A ausência de medidas do Governo Federal diante dessa ameaça revela um vácuo estratégico em segurança cibernética e territorial, deixando brechas que o crime aproveita para consolidar seu domínio sobre a comunicação digital de milhares de brasileiros.

Hoje, em diversas regiões do país, quem decide quem se conecta, quem navega e quem fala é o narcotráfico, operando provedores clandestinos, sequestrando antenas, extorquindo operadoras formais e usando a internet como extensão de seu poder armado. Trata-se de um Estado paralelo digital que cresce enquanto as autoridades discutem a regulação de streaming e ignoram a insegurança estrutural que mina a integridade da Nação.

Se o Brasil deseja preservar sua soberania, precisa compreender que a guerra contra o crime organizado não se dá apenas nas ruas ou nas fronteiras, mas também no espectro invisível da conectividade. E quem controla os dados, controla o território.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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