Erro estratégico: Brasil perde venda de Guaranis para Argentina, que escolhe Stryker dos EUA

Veículos militares blindados em movimentação no deserto.
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Um movimento que poderia consolidar a indústria de defesa brasileira acabou se tornando um tiro no pé: a Argentina optou pelos blindados Stryker dos EUA após o Brasil vetar o financiamento para a venda de 156 Guaranis. A escolha evidencia como decisões políticas e financeiras impactam diretamente o cenário geopolítico sul-americano, enfraquecendo o papel do Brasil na região.

Impacto técnico e econômico da perda do contrato para a indústria de defesa brasileira

A não realização do contrato entre Brasil e Argentina para a venda de 156 blindados Guarani 6×6 teve reflexos profundos na indústria de defesa brasileira. A principal afetada foi a Iveco Defense Vehicles, localizada em Sete Lagoas (MG), que se preparava para um aumento significativo de produção, com geração de empregos e investimentos em tecnologia e infraestrutura.

Além da Iveco, toda a cadeia produtiva envolvida na fabricação de componentes e sistemas para os Guarani sofreu impacto: pequenas e médias empresas fornecedoras, prestadoras de serviços e até universidades ligadas a programas de desenvolvimento de defesa perderam uma oportunidade concreta de expansão. O Brasil deixou de reforçar seu protagonismo industrial e tecnológico no setor de defesa na América do Sul.

Consequências geopolíticas do fortalecimento dos EUA no entorno estratégico do Brasil

Veículo militar blindado verde em estrada pavimentada.
Por U.S. Army – Wikimedia

A decisão argentina de comprar Stryker M1126 dos Estados Unidos vai além do aspecto comercial. Trata-se de uma escolha que altera o equilíbrio geopolítico da região, ampliando a influência norte-americana no entorno estratégico brasileiro. A Argentina, ao alinhar sua política de defesa com Washington, reforça laços militares e de segurança que impactam diretamente a autonomia regional do Brasil.

Esse fortalecimento dos EUA no Cone Sul reduz o espaço para iniciativas de defesa integradas exclusivamente latino-americanas. O Brasil, ao não viabilizar o financiamento do contrato via BNDES, abriu espaço para que um parceiro tradicional, como a Argentina, buscasse alternativas fora da região, enfraquecendo a liderança brasileira no setor.

Histórico de negociações e os bastidores da decisão argentina

O processo começou em janeiro de 2023, com a assinatura de um memorando entre Brasil e Argentina para a venda dos Guaranis, incluindo transferência de tecnologia e produção parcial em solo argentino. No entanto, a crise econômica argentina e o alto risco de inadimplência levaram o Ministério da Fazenda e o Ministério das Relações Exteriores brasileiros a vetarem o financiamento via BNDES.

Mesmo com o interesse inicial da Argentina e com a proximidade técnica entre os exércitos dos dois países, as negociações foram paralisadas em 2023. Em contrapartida, os Estados Unidos ofereceram condições de financiamento altamente vantajosas via o programa Foreign Military Sales (FMS), levando à assinatura de um novo acordo em julho de 2025.

O episódio revela como fatores financeiros e políticos, aliados à falta de uma estratégia coordenada entre governo e indústria, podem levar à perda de negócios importantes para o Brasil, enfraquecendo tanto sua base industrial quanto seu peso geopolítico na região.

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