Nas últimas semanas, duas tragédias marítimas ocuparam as manchetes do mundo todo: o naufrágio de um submarino com cinco turistas perto dos destroços do Titanic, e o afundamento de um navio carregado de imigrantes africanos no Mar Mediterrâneo. A cobertura desses incidentes, no entanto, ressalta a diferença de tratamento da mídia em relação a situações que envolvem diferentes classes sociais.
Enfoque desigual na mídia
O professor Laurindo Lalo Leal Filho, jornalista aposentado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, aponta para o desequilíbrio na cobertura dessas tragédias. Ele argumenta que a mídia fornece uma quantidade abundante de informações sobre os milionários no submarino, enquanto poucos detalhes são divulgados sobre os imigrantes. Segundo ele, o fato dos incidentes terem acontecido ao mesmo tempo “evidencia o tratamento desigual que se dá quando as vítimas de um acidente são integrantes de classes sociais diferentes”.
Nos siga no Instagram, Telegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias de nossas forças armadas e indústria da defesa.
Atração do inusitado e banalização da tragédia
O professor Lalo sugere que a natureza inusitada da viagem ao Titanic naturalmente atrai a cobertura da mídia, mas ainda assim, há um desequilíbrio no tratamento dos eventos. Por outro lado, a recorrência de tragédias envolvendo imigrantes que tentam chegar à Europa, de certa forma, “banaliza” o ocorrido aos olhos da mídia e do público.
Questões estruturais na mídia
A disparidade na cobertura, argumenta o professor, está enraizada nas estruturas dos grandes meios de comunicação, que estão focados em produzir informações para as classes dominantes da sociedade. Ele ressalta a necessidade de se aprofundar em questões relacionadas aos naufrágios envolvendo imigrantes, como a responsabilidade dos países europeus e a persistente herança colonial.