Cúpula do Brics aborda disputa tecnológica China-EUA

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A 16ª Cúpula do Brics, que começa nesta terça-feira (22) em Kazan, na Rússia, coloca em pauta um dos temas mais sensíveis da geopolítica atual: a disputa tecnológica entre China e Estados Unidos. Enquanto Pequim tenta contornar as sanções impostas por Washington, o bloco busca fortalecer a cooperação para enfrentar as barreiras comerciais e tecnológicas, abrindo novos caminhos para seus membros.

Disputa Tecnológica entre China e Estados Unidos

A rivalidade entre China e Estados Unidos ganhou um novo capítulo na arena tecnológica. Nos últimos anos, Washington implementou uma série de sanções econômicas e restrições comerciais para limitar o avanço da China em setores de alta tecnologia, como semicondutores, biotecnologia, inteligência artificial e redes 5G. Essas medidas incluem proibições de investimentos chineses em empresas americanas, restrições na exportação de tecnologia avançada e esforços para excluir companhias chinesas da expansão global de infraestrutura digital.

Essas ações refletem a tentativa dos EUA de manter sua posição de liderança no cenário tecnológico mundial, freando o rápido desenvolvimento chinês. Segundo José Augusto Fontoura Costa, professor de direito do comércio internacional da USP, “os Estados Unidos estão em clara guerra comercial com a China para tentar conter o desenvolvimento chinês.” Ele explica que o embate entre as duas potências se desenrola principalmente no campo das tecnologias de ponta, que são cruciais para determinar quem será o novo ator hegemônico global.

Nesse contexto, a China busca alternativas para mitigar os efeitos dessas sanções e garantir o desenvolvimento de sua economia. A cooperação tecnológica no âmbito do Brics é uma das estratégias adotadas para contornar as barreiras impostas por Washington. Para Pequim, o bloco representa uma plataforma essencial para a criação de novas parcerias econômicas e tecnológicas, visando fortalecer sua posição no mercado global.

A Importância da Cooperação Tecnológica no Brics

O fortalecimento da cooperação tecnológica entre os membros do Brics é uma prioridade que se reflete em vários setores estratégicos, desde a pesquisa científica até o desenvolvimento de infraestrutura digital. O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado pelo bloco, tem desempenhado um papel crucial no financiamento de projetos que visam a inovação e a modernização tecnológica nos países-membros. Esses investimentos são fundamentais para garantir que as nações do Brics possam competir em pé de igualdade no mercado global.

A China, como a principal economia do grupo, vê na cooperação dentro do Brics uma oportunidade para consolidar suas parcerias em áreas como energia limpa, inteligência artificial e telecomunicações. Ao compartilhar conhecimento e recursos, os países do bloco podem criar um ecossistema de inovação que beneficia a todos. “É um papel do Banco dos Brics ajudar os países a alcançarem níveis de desenvolvimento importantes”, ressalta Maria Elena Rodríguez, coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC Rio. Ela destaca que, enquanto instituições ocidentais tendem a restringir o acesso a novas tecnologias, o Brics pode atuar como um facilitador desse desenvolvimento para seus membros.

Além disso, a recente ampliação do bloco, que agora inclui países como Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Egito, indica um interesse crescente em expandir a cooperação para além dos cinco membros fundadores. Essa expansão abre novas possibilidades para a troca de tecnologia e a criação de redes de inovação que se estendem por vários continentes.

Desafios e Perspectivas para o Brasil na Cúpula do Brics

Para o Brasil, a cúpula representa uma oportunidade de reforçar sua posição estratégica no cenário internacional, mantendo o equilíbrio entre as duas maiores potências geopolíticas em disputa: China e Estados Unidos. O governo brasileiro tem se mostrado interessado em fortalecer laços com Pequim, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologias verdes e à promoção de uma nova era de industrialização sustentável.

O professor José Augusto Fontoura Costa aponta que o Brasil possui grande potencial tecnológico em áreas como agropecuária, aviação e exploração de petróleo e gás. No entanto, para que o país avance nesses setores, é essencial investir de forma consistente em ciência e tecnologia, algo que historicamente tem sido impulsionado por empresas estatais e pelo apoio governamental, como no caso da Petrobras e Embrapa. “O Brasil não é um vazio tecnológico, temos potencial, mas perdemos muito tempo sem investir adequadamente em desenvolvimento de ciência e tecnologia”, observa o especialista.

O projeto de neo-industrialização do governo federal é um exemplo de como o Brasil pretende avançar nesse campo, e a cooperação com a China pode ser uma peça-chave para alcançar esses objetivos. Segundo a professora Maria Elena Rodríguez, a parceria com Pequim pode ajudar o Brasil a se posicionar como um líder em tecnologias verdes, promovendo a reindustrialização do país de forma sustentável e eficiente. “O Brasil está se colocando bastante forte em seus processos de cooperação e fortalecimento dos países do Sul Global”, acrescenta.

No entanto, o Brasil enfrenta o desafio de manter um equilíbrio diplomático delicado. Ao mesmo tempo que busca parcerias tecnológicas com a China e o Brics, o país não pode arriscar perder seus laços com os Estados Unidos e outros países ocidentais. Essa posição intermediária requer uma diplomacia habilidosa, que permita ao Brasil aproveitar as oportunidades oferecidas por ambos os lados sem comprometer sua autonomia estratégica.

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