Segurança no mar: entenda as responsabilidades da fiscalização náutica

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O aluguel irregular de motos aquáticas nas praias da Ponta Verde e Pajuçara, em Maceió, reacendeu um debate sobre a fiscalização da segurança marítima no Brasil. No último fim de semana, flagrantes mostraram a locação de motos aquáticas para condutores sem habilitação, colocando em risco a vida de banhistas e turistas. O caso gerou questionamentos sobre de quem é a responsabilidade pela fiscalização: enquanto muitos apontaram a Marinha do Brasil (MB), a realidade mostra que a segurança no mar depende da atuação coordenada entre diferentes órgãos públicos.

A fiscalização da segurança marítima: de quem é a responsabilidade?

Diante das denúncias, muitos populares passaram a cobrar uma ação direta da MB, atribuindo a responsabilidade total sobre a fiscalização marítima à Instituição. No entanto, cabe destacar que há responsabilidades compartilhadas sobre esse tema, e a atuação da MB é restrita a Ações de Fiscalização do Tráfego Aquaviário (AFTA) relacionadas à segurança da navegação, salvaguarda da vida humana no mar e prevenção da poluição ambiental por parte de embarcações. A CPAL esclarece que a competência da MB está restrita a alguns aspectos específicos:

Habilitação dos condutores – A MB pode autuar, apreender e retirar do tráfego embarcações, caso o condutor não possua a devida habilitação.
Segurança das embarcações – Inspeções regulares garantem que equipamentos de salvatagem obrigatórios, como coletes salva-vidas e extintores de incêndio estejam a bordo.
Inscrição das embarcações – É importante destacar que todas as embarcações devem ser inscritas nas Capitanias com a apresentação da documentação pertinente. Ressalta-se que esta inscrição não se trata do Alvará ou licenciamento ambiental para o tráfego de embarcações, algo que compete às Prefeituras e órgãos ambientais, respectivamente.

Por outro lado, a fiscalização sobre pontos de aluguel de motos aquáticas e outras embarcações comerciais é uma atribuição das prefeituras/órgãos locais e não da MB. A ausência de uma regulamentação específica e de um cadastro formal das embarcações que operam no turismo náutico em Maceió contribui para a dificuldade em fiscalizar essas atividades. Para que essa fiscalização seja eficaz, é necessário que haja um esforço conjunto entre a Marinha, as Prefeituras locais e demais órgãos responsáveis, que devem atuar dentro de suas esferas de competência.

O crescimento do turismo e os desafios da segurança náutica

Nos últimos anos, o turismo náutico cresceu significativamente em Maceió, especialmente na alta temporada, quando a procura por passeios marítimos para as piscinas naturais da Pajuçara e Ponta Verde dispara. No entanto, esse aumento na demanda não foi acompanhado por uma fiscalização e regulamentação eficiente.

O Instituto do Meio Ambiente (IMA) e a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) deveriam atuar de forma integrada com a Marinha e outros órgãos fiscalizadores, mas a ausência desses agentes é frequentemente relatada por operadores e turistas. Essa lacuna no sistema de fiscalização transfere para a Marinha uma responsabilidade desproporcional, fazendo com que suas equipes precisem cobrir áreas que deveriam ser de competência municipal.

O Conselho Gestor de Passeios Turísticos tem um papel essencial nessa regulamentação, mas precisa atuar de forma mais efetiva, garantindo que as normas de segurança sejam aplicadas e cumpridas por todos os operadores do turismo.

Ações conjuntas e exemplos de fiscalização eficiente

Apesar das dificuldades, ações interagências entre a MB e demais órgãos de segurança sempre demonstram resultados positivos quando são bem coordenadas. Um exemplo recente foi a operação realizada entre a Polícia Civil e a MB que lacrou uma embarcação irregular durante um passeio noturno para as piscinas naturais de Maceíó, onde o condutor estava embriagado e não possuía habilitação. Essa ação só foi possível devido a denúncias feitas pela Associação de Jangadeiros e devido a ações de inteligência entre os órgãos envolvidos, demonstrando a importância da participação da comunidade marítima e do esforço interagências na fiscalização marítima.

É importante destacar os números apresentados pela MB em Alagoas durante a Operação “NAVEGUE SEGURO”, que consiste na intensificação das AFTA durante o período da alta temporada e que foi realizada entre dezembro e março:

✅Mais de 9.5000 embarcações inspecionadas;
✅Apreensão de mais de 45 embarcações irregulares no período do verão;
✅Mais de 300 embarcações notificadas; e
✅Ações interagências com Prefeituras como, por exemplo, Maragogi e Maceió, para fiscalização marítima nestes Municípios.

Ainda que os números sejam relevantes, o desafio, no entanto, continua sendo a falta de coordenação e uma maior participação dos órgãos responsáveis. Como reforçado pela Capitania dos Portos de Alagoas, a Marinha não tem competência para regulamentar serviços comerciais de aluguel de embarcações. Para que a fiscalização seja eficaz, é necessário que Prefeituras e órgãos locais assumam sua parte na regulamentação, credenciamento e na fiscalização das atividades turísticas no mar.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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