Saliente Nordestino: chave da defesa brasileira no Atlântico Sul

Mapa entre América do Sul e África.
Por Wikimapia contributors + own work - Edited Wikimapia data, CC BY-SA 3.0
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A geografia deu ao Brasil uma vantagem estratégica: o Saliente Nordestino, vértice atlântico que aproxima o país da África e controla um dos eixos marítimos mais importantes do hemisfério sul. Mas será que essa posição está sendo defendida à altura de seu valor? Um artigo inédito revela como o Nordeste brasileiro segue sendo vital para a Defesa Nacional, e por que o país precisa olhar com mais atenção para sua esquina atlântica.

De trampolim à sentinela: o papel histórico e geopolítico do Saliente Nordestino

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Saliente Nordestino foi chamado de “Trampolim da Vitória”: uma posição estratégica que encurtava a distância entre os EUA e o Norte da África, facilitando o fluxo de tropas e suprimentos aliados. A Base Aérea de Natal tornou-se o maior aeródromo militar aliado fora dos Estados Unidos. Esse protagonismo não foi apenas episódico — ele firmou o Nordeste como ponto de conexão entre o hemisfério ocidental e teatros globais de operação.

Além do papel logístico, o Saliente abrigou a Quarta Esquadra dos EUA e foi palco de ações contra submarinos do Eixo, em uma demonstração de como a geografia da região permite o controle das Linhas de Comunicação Marítima (LCM) e a projeção de poder sobre o Atlântico Sul. Hoje, em tempos de paz, essa capacidade de vigilância e dissuasão permanece fundamental, especialmente diante do aumento da competição estratégica no Atlântico e da relevância dos corredores marítimos internacionais.

Amazônia Azul e espaço aéreo: a dimensão contemporânea da defesa no Nordeste

O valor atual do Saliente Nordestino vai além do seu passado. Com sua projeção sobre o Atlântico, ele permite ao Brasil controlar uma parte significativa da Amazônia Azul — a imensa zona econômica exclusiva (ZEE) do país, rica em petróleo, biodiversidade e conectada ao mundo por cabos submarinos críticos. A partir de bases no SN, é possível monitorar fluxos marítimos, proteger infraestruturas sensíveis e acompanhar lançamentos orbitais.

No campo aeroespacial, instalações como o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (RN) e o radar “Sabrina” colocam o SN no centro da vigilância sobre o Atlântico Equatorial. A região também abriga hubs de comunicação digital, como os cabos ópticos que ligam Fortaleza à África. Esses ativos fazem do SN um território estratégico para a segurança marítima, digital e espacial, exigindo vigilância permanente.

Presença militar e propostas de fortalecimento: o que falta ao SN?

Apesar de sua importância, o Saliente Nordestino ainda carece de uma presença militar robusta e integrada. A Marinha atua por meio do 3º Distrito Naval, mas com meios limitados. O Exército e a Força Aérea mantêm unidades relevantes, porém com foco disperso. Faltam, por exemplo, baterias de mísseis costeiros, esquadras permanentes no Nordeste e sistemas de vigilância plenamente operacionais como o SISGAAz.

Um conjunto de propostas estratégicas começa a tomar forma: instalação de radares OTH, drones de patrulha oceânica, presença naval mais frequente, uso de navios não tripulados e maior integração entre Forças. Também se discute o fortalecimento da cooperação internacional no Atlântico Sul, com exercícios conjuntos e centros de monitoramento em parceria com países africanos.

O Saliente Nordestino, como sintetiza o estudo que será lançado em breve, é ao mesmo tempo fortaleza e vulnerabilidade: o que torna sua defesa uma prioridade nacional. Quem domina o Saliente Nordestino, domina o Atlântico Sul — e quem o protege, garante o futuro estratégico do Brasil no oceano que conecta continentes, recursos e desafios do século XXI.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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