Marinha do Brasil e a Segurança Marítima das Rotas do Agro: vulnerabilidades e dependências

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Os grãos que mantêm o agronegócio brasileiro no topo das exportações mundiais – sobretudo soja e milho – deixam o país por corredores aquaviários que se estendem de Santos e Paranaguá ao Arco Norte, onde Itaqui (MA), Barcarena (PA) e Itacoatiara (AM) ganham fatias cada vez maiores do mercado. Em janeiro de 2025, mais de 45 % do milho e 18 % da soja embarcaram nesses portos amazônicos, reflexo dos investimentos em hidrovias e terminais fluviais.
O avanço logístico, porém, expõe vulnerabilidades críticas. A rota amazônica convive com os “piratas de rio”, cujos assaltos elevaram custos do frete e seguros em até 10 %, além de traumatizar tripulações e atrasar embarques. Para conter ilícitos, a Marinha do Brasil lançou a operação Navegue Seguro 2025, realizando mais de 4 mil abordagens a embarcações nos rios do Pará, Maranhão, Piauí e Amapá – um esforço de presença, fiscalização e dissuasão.
Rotas estratégicas, meios navais e sistemas de vigilância
O agronegócio brasileiro exportou cerca de 36% do milho em 2023 via portos do Arco Norte (MA, PA, AM), superando a participação de Santos como maior rota de escoamento. Esse corredor aproveita hidrovias como Madeira, TocantinsAraguaia e Solimões-Amazonas para transportar grãos até terminais fluviais e oceânicos.
Para garantir segurança e navegação, a Marinha do Brasil patrulha essas rotas com navios-patrulha e barcaças próprias, realiza anualmente o exercício Ribeirex (com foco na retomada de áreas ribeirinhas ocupadas por organizações paramilitares), e fiscaliza dragagens e balizamento. A expansão do sistema de monitoramento SisGAAz, que une radares costeiros, satélites e drones, seria essencial para cobrir essa região além da Amazônia Azul, incluindo os rios, lagos e igarapés pelo Brasil, mas enfrenta atrasos preocupantes por restrições orçamentárias
Riscos aos produtores e à cadeia logística
Problemas como ausência de infraestrutura de armazéns, congestionamento nos portos por falta de estrutura e falta de embarcações apropriadas elevam os custos logísticos — que representam até 30% do custo da soja. Além disso, a insegurança fluvial gerou aumento de até 10% no seguro e frete, com barcaças fluviais se tornando alvo de ataques.
A desproteção das hidrovias leva pequenos produtores a evitar rotas vulneráveis, sobrecarregando terminais e gerando filas e atraso de navios. Embora o governo tenha lançado a Secretaria Nacional de Hidrovias para desenvolver infraestrutura, o acompanhamento e fiscalização continua limitado.
Defesa da Amazônia Azul e desafios orçamentários
Com a ampliação recente em 360 mil km² de plataforma continental reconhecida pela ONU, o Brasil amplia sua responsabilidade geoestratégica. No entanto, cortes nos recursos da Marinha — com orçamento reduzido em cerca de 60% na última década — ameaçam operações essenciais como patrulhas costeiras, renovação de frota e expansão do SisGAAz.
O país precisaria mobilizar cerca de R$ 6 bilhões por ano nos próximos cinco anos para garantir cobertura naval, ampliar os navios-patrulha da classe Tamandaré e implementar estações de radar na Amazônia. Do contrário, a segurança marítima das rotas que transportam o ouro agropecuário brasileiro continuará vulnerável a crimesdiversos, acidentes ambientais e pressões externas.
Historicamente enfrentamos um gargalo logístico generalizado, iniciando pelas estradas ruins, falta de uma malha ferroviária e atualmente chegando nas hidrovias sem nenhuma infraestrutura. Um país com a vocação marítima como o Brasil, tem como obrigação investir nesse segmento, para tornar nossas exportações mais competitivas e obter o retorno em mais investimentos e ampliação da malha fluvial.
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