Marinha defende extensão marítima sobre ilha submersa estratégica

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A mais de mil quilômetros da costa do Rio Grande do Sul, uma antiga ilha vulcânica submersa volta ao centro das atenções — agora como peça-chave na estratégia marítima brasileira. A Marinha do Brasil reivindica, junto à ONU, o controle sobre a Elevação do Rio Grande, uma formação submarina rica em minerais estratégicos e localizada além da Zona Econômica Exclusiva (ZEE).
Justificativa técnica da Marinha para a reivindicação da Elevação do Rio Grande
A reivindicação brasileira sobre a Elevação do Rio Grande tem como base a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que permite aos países expandirem sua plataforma continental além das 200 milhas náuticas, desde que comprovem continuidade geológica com o território nacional.
Estudos conduzidos por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) comprovaram que o solo da Elevação possui composição idêntica à do interior de São Paulo, incluindo camadas de argila vermelha e basalto vulcânico. A partir desses dados, a Marinha do Brasil, responsável pela condução do pleito junto à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) da ONU, apresentou documentação técnica que já foi reconhecida como válida pela entidade internacional.
Desde fevereiro de 2025, o pedido está sob avaliação da CLPC, e embora não haja um prazo definido para resposta, a sinalização inicial da comissão foi positiva. A área reivindicada, conhecida como Margem Oriental-Meridional, soma 1,5 milhão de km² — uma extensão considerável, capaz de redefinir os limites marítimos brasileiros.
O valor estratégico e econômico dos minerais presentes na formação submersa
O que faz da Elevação do Rio Grande um território tão cobiçado é seu potencial mineral. Estudos apontam que a área possui altas concentrações de terras raras, um grupo de 17 elementos químicos cruciais para a transição energética, fabricação de painéis solares, turbinas eólicas, baterias de carros elétricos e tecnologias militares avançadas.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, mas enfrenta desafios no domínio da tecnologia de beneficiamento desses recursos. Isso faz com que ainda exporte grande parte das jazidas como commodities brutas, sem agregar valor. A exploração futura da Elevação, caso autorizada, pode representar uma virada nesse cenário.
Além das terras raras, a formação abriga depósitos de nódulos polimetálicos, cobalto, níquel e platina, tornando-se alvo de interesse geoeconômico não só do Brasil, mas também de potências globais que disputam áreas internacionais no leito oceânico.
A geografia e história da Elevação do Rio Grande: uma ilha tropical perdida no tempo
A Elevação do Rio Grande é uma formação geológica submersa com cerca de 500 mil km², o equivalente ao território da Espanha. Localiza-se a cerca de 1.200 km da costa gaúcha e a 5 mil metros de profundidade. Imagens captadas por veículos submarinos não tripulados (ROVs) revelaram um cânion profundo — o Rifte Cruzeiro do Sul — que corta a estrutura, com picos superiores a 4 mil metros de altura.
Os estudos indicam que a Elevação foi, no passado geológico, uma ilha vulcânica tropical coberta por vegetação e cercada por recifes. A erosão natural e a ação de sucessivas erupções levaram ao seu afundamento gradual. A composição do solo, com tapetes de argila vermelha espremidos entre camadas de basalto preto, reforça essa hipótese.
Desde 2018, uma série de expedições científicas lideradas por universidades brasileiras, como a USP, UERJ, UnB, Unisinos e UFES, vêm mapeando a região. Além do valor mineral, a Elevação é um laboratório natural para estudos em biologia marinha, geologia, direito internacional e sustentabilidade oceânica.
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