Margem Oriental: nova aposta do Brasil na soberania marítima

Mapa das zonas econômicas exclusivas do Brasil.
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Uma nova etapa da expansão marítima brasileira está em curso. A Margem Oriental Meridional, uma faixa submarina remota e profunda, pode se tornar parte da Amazônia Azul, caso a ONU aprove a solicitação do Brasil. A missão exige mais do que diplomacia: requer evidências geológicas robustas para provar que o território submerso pertence historicamente ao país — e a recompensa pode vir em forma de minerais estratégicos.

A engenharia geológica da soberania

Para transformar a Margem Oriental Meridional em território nacional, o Brasil precisa mais do que interesse político: precisa de provas científicas robustas. O pleito submetido à Comissão de Limites da Plataforma Continental da ONU (CLPC) baseia-se em estudos geofísicos e paleogeográficos conduzidos por cientistas da Marinha, Petrobras e universidades como a USP.

O critério é técnico: o país deve demonstrar que as rochas da região submersa são uma extensão natural do seu continente geológico. Isso envolve análises de amostras de rocha, perfis sísmicos, relevo submarino e dados de satélite. No caso da Elevação do Rio Grande, estrutura central da área pleiteada, os estudos indicam que ela foi uma ilha vulcânica tropical entre 5 e 30 milhões de anos atrás, conectada à margem continental brasileira.

Essa base científica foi decisiva para que o Brasil conseguisse, no passado, a extensão de sua plataforma na chamada Margem Equatorial. Agora, o desafio é repetir o sucesso em uma área ainda mais ambiciosa.

A geopolítica do fundo do mar

A disputa por áreas submersas no Atlântico Sul não é apenas uma questão científica. Há também um intenso jogo geopolítico e estratégico. Apesar de estar fora de águas territoriais estrangeiras, a Margem Oriental Meridional atrai olhares de potências extrarregionais interessadas em seus recursos — principalmente os metais raros essenciais para indústrias de alta tecnologia.

Com o avanço do conceito de “mar como fronteira estratégica”, países como Estados Unidos, China e França acompanham de perto a movimentação brasileira. A garantia de soberania sobre essa imensa área submarina fortalece não só o papel do Brasil na região, mas também sua influência em fóruns internacionais sobre clima, energia e segurança.

Além disso, o Brasil precisa evitar o risco de que a região vire um espaço de exploração predatória por empresas estrangeiras, o que reforça a importância de uma atuação firme no campo diplomático e jurídico internacional.

Amazônia Azul em expansão

O termo Amazônia Azul não é apenas uma metáfora: trata-se de uma política de Estado. Desde 2004, o Brasil vem buscando o reconhecimento de áreas além das 200 milhas náuticas previstas na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Com a Margem Oriental Meridional, o país poderá adicionar mais 1,55 milhão de km² ao seu território marítimo.

A importância desse avanço vai muito além do mapa. Trata-se de consolidar a soberania nacional sobre recursos estratégicos, incluindo petróleo, gás e, especialmente, metais críticos como cobalto, nióbio, manganês e titânio. Esses elementos são indispensáveis para tecnologias verdes, baterias, semicondutores e equipamentos militares.

Por outro lado, a anexação trará também responsabilidades. Será necessário reforçar a vigilância ambiental e militar em áreas até então inexploradas, garantindo que o desenvolvimento seja sustentável e seguro. A Margem Oriental pode ser uma nova fronteira — científica, econômica e geopolítica — para o Brasil no século XXI.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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