Indústria bélica europeia corre contra o tempo para se rearmar

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O alerta vem de todas as frentes: militares, analistas e governantes concordam que a Europa precisa, urgentemente, fortalecer sua capacidade de defesa. Com a Rússia operando em ritmo acelerado de produção militar e os Estados Unidos demonstrando menos interesse em garantir a segurança europeia, os países do continente se veem diante de um desafio complexo. O problema? A indústria bélica europeia não consegue produzir armas e equipamentos na quantidade e na velocidade necessárias para sustentar sua própria defesa.
O desafio da indústria bélica europeia
A capacidade de produção militar europeia está muito aquém do necessário para garantir a segurança do continente. Enquanto a Rússia já opera em uma economia de guerra, produzindo três vezes mais armamentos que toda a Europa, os países europeus ainda enfrentam obstáculos burocráticos, falta de investimento e uma cadeia de suprimentos limitada.
A dependência de fornecedores externos também agrava a situação. Segundo o International Institute for Strategic Studies (IISS), durante os primeiros dois anos da guerra na Ucrânia, 52% dos equipamentos militares adquiridos pelos países europeus da OTAN vieram da indústria do próprio continente, mas 34% foram importados dos Estados Unidos. Quando se trata de sistemas mais avançados, como caças furtivos, mísseis de longo alcance e defesa antiaérea sofisticada, a dependência americana é praticamente total.
Para superar esses desafios, especialistas apontam a necessidade de expansão industrial e de incentivos governamentais que estimulem a produção local. O CEO da Rheinmetall, Armin Papperger, já afirmou que, se houver demanda dos governos, a empresa pode ampliar suas fábricas e aumentar significativamente sua produção de blindados e munições. Mas isso exige tempo e investimentos massivos.
Impactos econômicos e sociais da corrida armamentista europeia
O custo do rearmamento europeu é um dos principais entraves para a sua execução. Um estudo do think tank Bruegel estima que, para substituir o apoio militar dos EUA, a Europa precisaria aumentar os gastos com defesa de 2% para 3,5% do PIB, o que representaria um custo adicional de 250 bilhões de euros por ano. Essa despesa levanta preocupações sobre impactos diretos nos orçamentos nacionais.
Historicamente, a militarização é financiada com emissão de dívida e aumento de impostos, mas muitos países europeus já enfrentam dificuldades fiscais. Em Portugal, por exemplo, dobrar o orçamento de defesa exigiria cortes em áreas sensíveis, como saúde e educação, ou um aumento significativo na carga tributária.
Por outro lado, o crescimento da indústria bélica pode gerar empregos e impulsionar setores estratégicos. A Rheinmetall, por exemplo, contratou dois mil novos funcionários desde 2022 para atender à demanda crescente. O desenvolvimento de novas tecnologias militares também pode fortalecer a base industrial europeia, tornando-a menos dependente de importações no longo prazo.
Europa sem escudo americano: os desafios da autonomia militar
A incerteza sobre o compromisso dos Estados Unidos com a segurança europeia preocupa líderes do continente. A administração Biden mantém apoio à OTAN, mas a possibilidade de uma mudança política em Washington — especialmente com um eventual retorno de Donald Trump — levanta dúvidas sobre a continuidade dessa parceria.
Diante desse cenário, a Europa precisa buscar alternativas. Países como a Polônia já estão diversificando seus fornecedores e adquirindo equipamentos militares da Coreia do Sul e da Turquia. Além disso, Israel surge como um potencial parceiro para a compra de sistemas de defesa avançados, como o David’s Sling, capaz de interceptar mísseis balísticos russos.
A longo prazo, a Europa terá que investir em sua própria capacidade industrial e tecnológica para reduzir a dependência dos EUA. Isso inclui o desenvolvimento de caças furtivos de quinta geração, novos sistemas de defesa antiaérea e maior capacidade de produção de blindados e munições. O processo, no entanto, pode levar mais de uma década.
O major-general Isidro de Morais Pereira resume o desafio: “A Europa tem capacidade para desenvolver seus próprios sistemas, mas precisa agir rapidamente. Já deveríamos ter iniciado esse processo há muito tempo. Não se trata de romper com os Estados Unidos, mas de garantir uma autonomia estratégica essencial para o futuro da defesa europeia.”
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