Nesse período de dois anos o Brasil encerrou a participação histórica de 13 anos liderando o contingente das Nações Unidas no Haiti, na Minustah. Podemos considerar, e a própria ONU considera essa uma missão de sucesso, já que a estabilidade do país e as condições sociais melhoraram bastante. Nós também tivemos uma participação muito ativa e continuamos a liderar o componente militar da Unifil, que é a força de paz das Nações Unidas no Líbano, entre o Líbano e Israel. E eu podia destacar com bastante ênfase, a nossa participação na construção de capacidades, na educação e na melhoria do desempenho utilizando a nossa expertise, o nosso centro de paz e também de profissionais nossos e de equipes móveis de treinamento. Nós temos sediado cursos, ministrado cursos no exterior, participado da elaboração de manuais. Ou seja, ajudando muito a ONU a melhorar o desempenho de suas tropas no terreno.

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E para o senhor, como é que foi essa experiência aqui em Nova Iorque, trabalhando junto à ONU?

Extremamente enriquecedora. Primeiro, uma oportunidade de poder representar o meu país. E depois, trabalhar num ambiente multilateral por excelência como a ONU, que tem como grandes objetivos, nós sabemos, não só a paz e a segurança, que foi a área que eu mais trabalhei, mas também o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos. Então, em todos esses três pilhares da ONU, como são chamados, nós ajudamos bastante nisso aí porque a defesa, ela permeia, ela tem participação em todos esses três pilares. Então, procuramos diversificar bastante isso. Então, pessoalmente e profissionalmente foi uma grande experiência. E o fato de ter partilhado uma experiência, aprendermos com outros países, nos dá uma visão de um mundo melhor e nos torna mais comprometidos também.

 

Uma das áreas que o senhor atuou sempre foi na questão do incentivo de uma maior participação das mulheres nas forças de paz. Porque o senhor acredita que essa é uma questão importante, como o senhor vê a posição da ONU na promoção da paridade de gênero nas missões e o senhor acredita que ainda precisa ser feito nesse sentido?

O Brasil está alinhado com isso, porque reconhece que especificamente no cenário de operações de paz, as mulheres têm características que facilitam muito, e melhora a produtividade, o rendimento, a eficácia da missão.

A questão da igualdade de gênero é uma política, uma diretriz da ONU que veio para ficar. O Brasil está alinhado com isso, porque reconhece que especificamente no cenário de operações de paz, as mulheres têm características que facilitam muito, e melhora a produtividade, o rendimento, a eficácia da missão. A sensibilidade feminina, a capacidade de diálogo, capacidade de empatia, de perceber em outras mulheres especialmente a necessidade de melhoria das condições de vida, de melhorar o status de direitos humanos. Nas áreas de inteligência, por exemplo, do relacionamento humano. Então, essa afetividade, essa acessibilidade são importantíssimas e enriquecem muito o desempenho. O Brasil, consciente disso, tem feito um esforço muito grande para aumentar a participação feminina. Não somente em missões individuais, como integrantes de Estado Maior ou observadoras militares, e temos alguns resultados muito interessantes nisso. Agora mesmo, esse ano, o destaque de gênero das Nações Unidas foi a nossa capitão de corveta Márcia Braga, da Marinha do Brasil, que recebeu o prêmio das próprias mãos do secretário-geral António Guterres. Tivemos pela primeira vez na história uma team site, uma líder no terreno de tropas multinacionais e observadores, a tenente coronel Andréia Firmo, do exército brasileiro. Então, são exemplos, são modelos de conduta e elas estão multiplicando esse conhecimento, essa experiência, as boas práticas que elas aprenderam para outras mulheres. Então, já temos um número de voluntárias bem expressivo e nos próximos anos com certeza vamos aumentar a participação feminina. Fazemos um trabalho desde a origem, nas escolas militares, mostrando a participação, mostrando o espaço ainda a ser mais ocupado, e temos tido uma boa resposta.

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Márcia Andrade Braga foi a vencedora do Prêmio de Defensora Militar do Gênero das Nações Unidas

Como o senhor acredita que os exemplos da Márcia Braga e da Andréia Firmo podem incentivar outras mulheres a também querem se tornar boinas-azuis?

Elas são, o depoimento delas, como muitos que já assisti inclusive, com muita sinceridade, com muita franqueza, de mulher para mulher, sem esconder as dificuldades, naturalmente que têm, por exemplo, de conforto, afastamento da família, as condições, muitas vezes climáticas, a falta de infraestrutura local que é quase como uma tônica nos locais que são alvo de operações de paz, elas explicam isso muito bem, mas depois, terminam com uma mensagem que a gente vê que é sincera, de grande estímulo. De como se sentiram úteis, como fizeram a diferença. Então, isso aí tem um poder muito grande de motivar, de convencer, de arrastar pelo exemplo pessoal outras a também se voluntariarem.

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A brasileira Andréa Firmo liderou uma base de observadores militares no Saara Ocidental.

O senhor já tem 50 anos de experiência na carreira militar. Quais os seus planos agora para o futuro, após a saída aqui da ONU?

Destes 50 anos, intensamente vividos, muitas experiências ficaram. Então, eu me sinto ainda com muita vitalidade para agora partilhar essas experiências. Trabalhar não só em prol do meu país, mas também, em prol da humanidade, e várias oportunidades devem surgir aí e eu estou apto, e querendo muito, ávido a aproveitá-las e produzir mais. E essa experiência aqui dos últimos dois anos, nesse ambiente multicultural que é a ONU, certamente prepara a gente bem para isso, para enfrentar o futuro.

 

Algum outro ponto que o senhor gostaria de adicionar para podermos encerrar a nossa entrevista?

Só destacar o papel que o Brasil tem não só na área de paz e segurança mas também de desenvolvimento sustentável e direitos humanos, comprometido com a ONU, muito comprometido, independentemente de governo que entra ou que sai, isso já é uma linha, uma tônica da nossa política externa, e acreditar na ONU. Houve algumas críticas infundadas, o papel que a ONU desempenha especialmente na área humanitária e social é imprescindível, e só quem trabalha aqui percebe isso. As vezes nem todas as pessoas captam essa importância, essa relevância que tem para o contexto global. Mas é importantíssimo, temos que acreditar nisso, e nós é que fazemos a ONU. A ONU é uma organização de Estados-membros. Então, todos nós temos compromissos, todos nós temos obrigações, em busca de um mundo melhor e mais justo.

Fonte: ONU News

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).