Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Edwaldo Costa – Enviado especial embarcado no Navio Hidroceanográfico Faroleiro “Almirante Graça Aranha”

Desconhecida por muitos brasileiros e pesquisadores, a Ilha de Martin Vaz é o território mais a leste do Brasil. Está localizada a 1.200 km de Vitória (ES) e a 1.550 km do Rio de Janeiro (RJ), na ponta de uma cadeia de montanhas vulcânicas submersas – Cadeia Vitória-Trindade -, localizada em uma região de interesse para o País, devido a sua localização estratégica e às suas riquezas, ainda pouco exploradas, principalmente nas áreas científica e ambiental. 

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O repórter da Agência Marinha de Notícias, Primeiro-Tenente Edwaldo Costa, acompanhou, com exclusividade, o primeiro acampamento científico da história na Ilha de Martin Vaz. A viagem teve duração de 31 dias, sendo quatro desses destinados à travessia, realizada a bordo do Navio Hidroceanográfico “Almirante Graça Aranha”. O navio desatracou da cidade de Niterói (RJ) e suspendeu para essa expedição com 117 pessoas a bordo, entre militares e pesquisadores.

Expedição inédita

O Capitão de Mar e Guerra Rodrigo Otoch Chaves, Vice-Secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), explica que a Marinha do Brasil (MB), por intermédio da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM),  coordena ações  de pesquisas científicas nas ilhas oceânicas, contribuindo para a Política Nacional de Recursos do Mar. E destaca que a expedição foi a primeira que pesquisadores e militares pernoitaram na desabitada Ilha de Martin Vaz. “Por tratar-se de um lugar de difícil acesso, com cerca de 180 metros de altura, a logística envolveu o navio, o helicóptero e o auxílio dos Fuzileiros Navais para a montagem do acampamento e técnicas de montanhismo”.

A viagem a Martin Vaz envolveu pesquisas realizadas pela Marinha do Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade Federal do Rio Grande (FURG), nas áreas de meteorologia, oceanografia, geofísica, geologia, história e meio ambiente.

O Comandante do navio, Capitão de Fragata Marcelo de Abreu Souza, lembra que a parceria entre a Marinha do Brasil e a comunidade científica é de longa data e tem colaborado com o desenvolvimento do País. 

“Para dar continuidade ao ganho de conhecimento para os trabalhos futuros, não pode haver medição de esforços das instituições envolvidas para a consecução de expedições científicas como essa, pois estão em jogo a preservação ambiental, a pesquisa, o desenvolvimento da ciência e tecnologia e a garantia da nossa soberania. Isso exige um trabalho contínuo e a presença constante nos lugares mais extremos e inóspitos do nosso território. Prova disso são as ações de Pesquisas Científicas nas Ilhas da Trindade e de Martin Vaz, o Programa Antártico Brasileiro, o Programa Nacional de Boias, dentre outros”, comenta o Comandante Abreu.

O Navio Hidroceanográfico Faroleiro “Almirante Graça Aranha”

O navio foi incorporado à MB em 1976 para apoiar a construção e a manutenção de sinais náuticos ao longo da costa brasileira. Em 2010, recebeu equipamentos científicos e passou a executar levantamentos hidroceanográficos, coletando dados ambientais de meteorologia, oceanografia, geológicos e outros. 

O navio também conta com oficinas de carpintaria, metalurgia, elétrica, eletrônica, enfermaria, dois laboratórios, cozinha ampla, dois porões com uma capacidade de carga de 200 toneladas e um convoo com hangar para transporte de aeronaves a longas distâncias. Por sua versatilidade, pode-se dizer que este realmente é um navio multitarefas.

Segundo o Imediato do navio, Capitão de Fragata Felipe Tangari, é importante observar a preocupação com a segurança dos embarcados. “Além da questão da navegação e das pesquisas, temos uma grande preocupação com os embarcados, principalmente os civis. Nossa responsabilidade é muito grande mas temos experiência e militares preparados”, afirmou. 

Pesquisas científicas

O graduando de oceanografia da UERJ, Luan Schimidel Ramos de Oliveira, aproveitou o trajeto para atualizar o banco de dados de temperatura da camada superficial do oceano na região. “Com os resultados coletados, após 48 lançamentos de um equipamento chamado de XBT, é possível aprender mais sobre a variabilidade da circulação oceânica regional como, por exemplo: as relações da intensidade da corrente do Brasil ao sul da cadeia submarina Vitória-Trindade. 

O pesquisador integra o projeto MOVAR (Monitoramento da Variabilidade Regional do transporte de calor e volume na camada superficial do oceano Atlântico Sul entre o Rio de Janeiro e a Ilha da Trindade).

A chegada à Ilha Martin Vaz

No dia 17 de março, às 17h, os tripulantes do Navio Hidroceanográfico “Almirante Graça Aranha” avistam do alto-mar, a cerca de 20, a silhueta da famosa Ilha da Trindade. Na madrugada do dia 17 para o dia 18 de março, o navio permaneceu navegando entre as duas Ilhas, que distam 49 km uma da outra. Às 8h do dia 18, a aeronave decolou do navio, com material e pessoal, para o estabelecimento do primeiro acampamento científico em Martin Vaz. 

Segundo o Chefe do Destacamento Aéreo Embarcado, Capitão de Corveta (Fuzileiro Naval) Thiago Bonard Franco Gurgel, a missão inédita foi desafiadora.  “Dessa vez, nossa operação aérea  logística foi com voos sobre o mar e regiões montanhosas, que naturalmente apresentam características de vento irregular, e o pouso em terreno acidentado”.

Estratégica na geografia do Brasil, Martin Vaz é a ilha brasileira mais distante da costa. Tem formato alongado com cerca de 500 metros de diâmetro, vegetação rasteira e piso irregular, algumas áreas são bem íngremes. No local não há presença humana, apenas caranguejos e aves nativas e migratórias.

Pesquisas inéditas

No chão rochoso da Ilha Martin Vaz, Bruno de Andrade Linhares, 27 anos, capturou, anilhou e soltou aves marinhas. O pesquisador participa do programa de conservação de Trindade, “Recuperação do Ecossistema Terrestre da Ilha da Trindade” (RETER-Trindade), da FURG, que visa evitar a extinção de espécies ameaçadas.

“A expedição amplia o leque de pesquisa no Atlântico Sul. Agora, além da Ilha da Trindade, foi possível atuar na Ilha Martin Vaz. Aqui encontramos atobás-mascarados (Sula dactylatra), noivinhas (Xolmis velatus), viuvinhas (Colonia colonus), trinta-réis-das-rocas (Onychoprion fuscatus), petrel-de-trindade (Pterodroma arminjoniana) e fragatas-grandes (Fregata minor). Depois do anilhamento e medição, todas foram soltas para continuar vivendo no habitat delas”, comenta Bruno. 

Segundo o pesquisador Lucas Guimarães Pereira Monteiro, da UERJ, pesquisas em Martin Vaz são raras devido à dificuldade de acesso ao local. “Se não fosse a Marinha do Brasil eu não teria a mínima condição de acampar e executar a pesquisa, que consiste em estudar as rochas vulcânicas da Ilha, que tem cerca de um milhão de anos e representa o último vulcanismo existente na Plataforma Brasileira. Aqui temos Haunyita, um mineral raro, existente apenas aqui e na Itália. Também consegui encontrar uma brecha vulcânica na base da Ilha que não havia sido mapeada. Vou levá-la para o continente para análises laboratoriais. Com isso, será possível saber a química, a fonte e a idade exata”, explica Monteiro. 

Durante a estada na ilha, os militares da Marinha do Brasil aproveitaram para realizar a troca do mastro da bandeira nacional e também realizar o “marco testemunho”. “Nessa Expedição, os tripulantes do navio realizaram, com meios e equipamentos da Marinha, rastreio e o estabelecimento do marco testemunho em Martin Vaz, para futura homologação do marco geodésico pelo IBGE. Os produtos cartográficos, que incluam a área de Martin Vaz, serão mais precisos. Vão passar muito mais confiança para os navegantes”, afirmou o Chefe do Departamento de Operações, Capitão de Corveta Gomes de Oliveira.

A obtenção de uma posição precisa é de suma importância para a melhoria dos produtos gerados pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), além de contribuir para o enriquecimento do banco nacional de dados oceanográficos e para o banco de dados do IBGE. Além do apoio à comunidade científica, rastreio e estabelecimento do marco testemunho, também houve a troca do mastro do pavilhão nacional, reafirmando a capacidade logística e de soberania na fronteira mais a leste do Brasil. 

As pesquisas continuam na Ilha da Trindade

O geólogo Lucas Monteiro e o biólogo marinho Bruno Linhares vão  permanecer pesquisando na Ilha da Trindade até junho de 2022. O Chefe do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), Capitão de Corveta (T) Jone Dantas de Brito, disse que por causa da pandemia a presença dos pesquisadores estava interrompida, mas a Marinha continuou contribuindo com as atividades armazenando dados. 

“Ficamos felizes com o retorno dos pesquisadores à Ilha da Trindade. Por mantermos uma tripulação, permanentemente, o Brasil tem o direito de estabelecer, ao redor dessa Ilha, um Mar Territorial, uma Zona Contígua e uma  Zona Econômica Exclusiva. Nessas áreas somente o nosso País tem o direito de soberania para exploração e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas, do leito e do subsolo marinho. Para garantir esse direito para as futuras gerações,  pesquisadores e militares, de ontem e de hoje, se revezam com dedicação e entusiasmo, para  evoluir a pesquisa e a investigação científicas marinhas na região e para manter a nossa bandeira hasteada, na distante fronteira Leste, onde o sol nasce primeiro no Brasil”, ressalta o Capitão de Corveta Jone.

Agência Marinha

Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).