Divulgação. Jaqueline Cristina Rocha Lopes, primeira comandante mulher na Norsul.

A cidade de Tupã fica no Oeste de São Paulo a mais de 500 quilômetros de distância, em linha reta, da praia mais próxima. Mesmo assim tão longe do mar, em terra firme e nascida numa cidade tranquila de se viver, na qual ondas e navios só existiam na tela de TV, Jaqueline Cristina Rocha Lopes tinha um sonho na vida. A menina que desde cedo sempre se mostrou determinada em tudo aquilo que fazia, teve como sua maior inspiradora a própria mãe que sempre a incentivou a seguir a carreira profissional como oficial da Marinha Mercante.

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O desejo de estar em contato com a natureza e vencer os seus próprios desafios se uniram a coragem para descobrir o mundo através das rotas marítimas. Se era para acreditar em destino, Jaqueline nasceu em março e é do signo de peixes. Em 2004, graduou-se em Ciências Náuticas pela Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante – EFOMM. Como aluna se destacou no curso, tendo sido premiada e reconhecida pela sua dedicação, sua disciplina e conceito militar. Mas será que existiram dúvidas sobre sua escolha profissional? “Ao entrar pela primeira vez em uma embarcação mercante eu tive a certeza da minha opção pela náutica e sabia que iria me tornar uma oficial”, responde a comandante.

A chegada na Norsul aconteceu cedo, ainda na sua formação. “Quando eu era ainda aluna da EFOMM, tive que optar por uma empresa de navegação para embarcar e cumprir o período de instrução no mar, na época eu já havia decidido por embarcar em navio graneleiro e, dentre as opções apresentadas, rotas das embarcações e direito de escolha, optei pela Norsul por desejar navegar não somente na costa brasileira como também os demais mares. Após a escolha comecei a pesquisar mais sobre a Norsul e seus projetos e me encantei”, comenta Jaqueline.

O período de instrução inicial, já embarcada, também foi um sucesso. Jaqueline ficou seis meses no “NORSUL Amazonas” no qual a experiência serviu como uma primeira grande escola no mar onde adquiriu conhecimentos e pode aplicar na prática, conceitos e teorias do período de graduação. Mas como foi embarcar nesse ambiente tradicionalmente ocupado por homens e até hoje sem tantas mulheres a bordo? “Foi preciso ter coragem para superar os desafios diários. Eu sempre respeitei os meus próprios valores e, principalmente, o espaço de cada um. Tinha ciência de que meu crescimento profissional seria um processo gradual, em busca de condições de igualdade e direitos de ascensão de carreira. Sempre mostrando competência e buscando meus méritos”.

Na fase de conclusão de curso de formação de Oficial da Marinha Mercante, etapa final, era necessário embarcar novamente para completar o Programa de Estágio – PREST em navios da Marinha Mercante. “Decidida sobre qual segmento eu seguiria, ou seja, navios graneleiros, novamente optei pela Norsul com foco para trabalhar no projeto dos inovadores Comboios Oceânicos, constituídos por empurradores e barcaças. Assim embarquei novamente no NORSUL Amazonas e concluí o PREST no NORSUL Crateus” diz Jaqueline, com brilho no olhar e certa dose de saudade deste período.

Dos tempos de estágio para os dias atuais, construindo uma carreira capaz de inspirar muitas outras mulheres, Jaqueline tornou-se a primeira comandante mulher na Norsul. Uma trajetória que foi sempre de muito esforço e determinação. Jaqueline foi Oficial de Náutica no Empurrador Oceânico NORSUL Abrolhos, depois subiu ao posto de Imediato, posição que é considerada como o “braço direito” do capitão do navio, e após sete anos ganhando experiência na costa brasileira, conquistou sua posição com capitã, comandando a tripulação do Empurrador Oceânico NORSUL Belmonte e operando nas viagens da rota entre a costa do Espírito Santo e da Bahia. Um posto que ocupou por oito anos.

Em 2019, Jaqueline foi mais uma vez promovida, desta vez em terra firme, atuando em terminais portuários, para liderar a Gerência de Tráfego, área responsável por coordenar o tráfego das embarcações e comboios oceânicos da companhia. Uma função executiva, que não a deixou longe do mar e lhe deu autoridade gerencial sobre parte de frota da companhia.

Ao olhar para sua própria história a Comandante Jaqueline comenta: “Foram vários momentos difíceis, mas outros tantos de alegria, a cada missão, a cada partida e chegada ao destino com a certeza de uma navegação de forma a garantir a segurança da vida humana no mar”. E complementa com um recado especial que pode simbolizar muito bem o Dia Internacional da Mulher: “Seja feliz. Faça o que gosta. Acredite no seu sonho. O mundo precisa da força e da sutileza que existe dentro de uma mulher”.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).