Crise no orçamento militar ameaça segurança nacional e projetos estratégicos do Brasil

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Em contraste com o reconhecimento internacional da ampliação do território marítimo brasileiro pela ONU, a Marinha do Brasil projeta a perda de quase metade de seus navios até 2028. Ao mesmo tempo, a Aeronáutica vê paralisados projetos como o KC-390 e o Gripen, e o Exército enfrenta dificuldades para sustentar o Sisfron e ampliar seu efetivo com inclusão feminina. O corte de verbas chega em momento crítico para a Defesa Nacional, com risco real à capacidade dissuasória e operacional do país.
Projetos estratégicos travados: Gripen, KC-390, Sisfron e submarinos
As três Forças Armadas relatam impactos severos em seus projetos estratégicos por conta dos cortes orçamentários. A Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou que haverá atrasos na entrega dos modernos caças F-39E Gripen, fabricados em parceria com a sueca Saab, e da aeronave de transporte estratégico KC-390, da Embraer. Além disso, sete das dez aeronaves destinadas ao transporte de autoridades estão paradas, por falta de recursos para combustível e peças.
No Exército Brasileiro, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) teve seu cronograma de conclusão novamente prorrogado: agora, a previsão é para 2039, com um custo extra de R$ 4 bilhões sobre os R$ 11 bilhões originalmente estimados. O projeto é crucial para a vigilância eletrônica em áreas sensíveis de fronteira, com emprego de radares, sensores e comunicação integrada.
Já a Marinha do Brasil corre contra o tempo. Com o orçamento reduzido em 60% na última década, projeta perder até 40% de sua frota naval até 2028 se não houver injeção de recursos. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), bem como as atividades operacionais dos Fuzileiros Navais, estão ameaçados.
Efeitos colaterais: da inclusão feminina à assistência à população

A crise afeta não apenas o equipamento militar, mas também a estrutura humana e institucional das Forças Armadas. O Exército, por exemplo, se prepara para receber cerca de mil mulheres no primeiro alistamento feminino, mas teme que a falta de verba inviabilize a medida. Não há recursos suficientes para adaptar alojamentos, banheiros e instalações, o que pode reduzir o número de convocadas e comprometer a abertura de novas frentes de inclusão.
Além disso, setores de apoio à sociedade civil também estão sendo prejudicados. A FAB sinaliza dificuldades em manter serviços essenciais como transporte de órgãos para transplantes e operações de busca e salvamento. A manutenção de helicópteros, aviões e estruturas de comunicação de emergência está comprometida.
Essa redução também afeta o moral da tropa, a formação continuada, o apoio logístico e o cumprimento de missões em áreas remotas — tarefas que garantem presença estatal e segurança em regiões onde a única face visível do Estado é fardada.
Soberania em risco: Amazônia Azul e fronteiras desguarnecidas

O contingenciamento atinge as Forças Armadas em um momento de ampliação de suas atribuições geoestratégicas. Em março de 2025, o Brasil teve 360 mil km² de território marítimo reconhecidos pela ONU, ampliando ainda mais a chamada Amazônia Azul. No entanto, justamente quando o mar se torna mais relevante para a geopolítica nacional, a Marinha alerta para a perda da capacidade de patrulhamento e defesa dessa área estratégica.
Da mesma forma, as fronteiras terrestres — especialmente na Amazônia Legal — tornam-se vulneráveis com o adiamento do Sisfron, ampliando o risco de tráfico de drogas, armas e crimes ambientais. O Brasil, que historicamente sofre com a ausência de investimentos contínuos em defesa, pode ver sua capacidade de dissuasão reduzida, abrindo espaço para tensões regionais e fragilizando sua posição em organismos multilaterais.
Sem orçamento adequado, projetos plurianuais perdem ritmo, contratos internacionais se tornam incertos e a capacidade de resposta das Forças Armadas fica comprometida — justo quando o país mais precisa mostrar força, soberania e estabilidade em seu entorno estratégico.
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