Crise no AUKUS: EUA podem reduzir número de submarinos para Austrália

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O ambicioso programa AUKUS, que prevê o fornecimento de submarinos de propulsão nuclear para a Marinha australiana, entrou oficialmente em crise. A decisão do presidente Donald Trump de determinar uma revisão urgente do acordo expôs um problema que já vinha sendo apontado nos bastidores: a indústria naval americana não consegue produzir os submarinos da classe Virginia nem para atender a própria demanda da US Navy, colocando em risco a entrega prevista de 3 a 5 unidades para a Austrália.
Gargalo industrial nos estaleiros americanos e impacto no cronograma do AUKUS
A raiz da crise atual está na incapacidade da indústria de construção naval dos EUA de acompanhar a crescente demanda por submarinos de ataque da classe Virginia. Atualmente, os dois principais estaleiros responsáveis pela produção – a General Dynamics Electric Boat, em Connecticut, e a Huntington Ingalls Newport News Shipbuilding, na Virgínia – enfrentam sérios desafios.
Problemas como escassez de mão de obra especializada, atrasos no fornecimento de componentes críticos e dificuldades logísticas vêm afetando o ritmo de produção. Segundo dados recentes, a capacidade industrial americana está entregando pouco mais de um submarino Virginia por ano, quando o ideal seria produzir duas unidades anuais para atender apenas a demanda da própria US Navy.
Diante desse cenário, especialistas apontam que o fornecimento de 3 a 5 submarinos para a Austrália, como previsto na primeira fase do AUKUS, pode ser revisto para um número menor ou sofrer um atraso de vários anos. Além disso, o cronograma de desenvolvimento da futura classe SSN-AUKUS, projetada especificamente para os parceiros do pacto, pode acabar empurrado para além dos anos 2040, ampliando ainda mais a lacuna de capacidade da Marinha australiana.
Repercussão política e diplomática na Austrália após a revisão de Trump
A decisão de Trump de revisar o programa caiu como uma bomba no meio político australiano. O primeiro-ministro Anthony Albanese tentou minimizar o impacto, afirmando que a Austrália está cumprindo suas obrigações financeiras e estratégicas dentro do pacto. No entanto, fontes próximas ao governo já admitem preocupação com a falta de garantias concretas por parte de Washington.
A oposição australiana, liderada pelo Partido Liberal, aumentou o tom crítico e passou a exigir maior transparência sobre os custos e os riscos do programa. Há também vozes dentro da sociedade civil questionando a dependência militar em relação aos Estados Unidos, especialmente diante de um governo Trump conhecido por decisões unilaterais e de curto prazo.
O tema ganhou ainda mais visibilidade com a publicação de um relatório de analistas de defesa, alertando para o risco de a Austrália investir bilhões em um projeto que pode não se concretizar no formato original. A pressão popular por uma revisão independente do AUKUS, conduzida por órgãos australianos, cresce a cada dia.
Riscos estratégicos e cenários futuros para a defesa australiana
Com a possibilidade real de redução no número de submarinos ou de atraso nas entregas, a Austrália começa a avaliar alternativas. Entre as opções consideradas estão a compra emergencial de submarinos convencionais de países como Japão ou Coreia do Sul, além de estudos para uma nova extensão da vida útil dos já desgastados submarinos da classe Collins.
Outro cenário discutido nos bastidores é a reformulação do próprio AUKUS, com foco inicial em tecnologias avançadas de guerra cibernética, sistemas de vigilância e cooperação em inteligência, adiando a parte submarina do acordo para uma segunda fase, a partir da década de 2040.
O impacto geopolítico dessa crise é significativo. Uma Austrália fragilizada no campo naval afeta diretamente a estratégia de contenção da China no Indo-Pacífico, justamente quando Pequim amplia sua frota de submarinos de ataque e realiza exercícios militares cada vez mais ousados na região.
Por fim, há um risco claro para a credibilidade internacional do próprio AUKUS. Caso os EUA reduzam unilateralmente o fornecimento de submarinos, o pacto poderá ser visto como um acordo instável e vulnerável a mudanças de governo em Washington, o que enfraquece não apenas a Austrália, mas também o Reino Unido, terceiro parceiro do programa.
Enquanto o Pentágono finaliza a revisão solicitada por Trump, a Austrália aguarda com atenção o relatório final, que deve ser divulgado até o final de agosto de 2025. Até lá, o clima é de incerteza e apreensão.
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