Ao longo dos últimos 40 anos, o Brasil mantém presença contínua na Antártica, desenvolvendo pesquisa científica diversificada e preservando o meio ambiente no local. A cada mês de outubro, um novo grupo de pesquisadores e militares desembarca no continente gelado. Entre outubro de 2022 e abril de 2023, período de início e fim do verão antártico, serão cerca de 130 pesquisadores, distribuídos em 23 projetos científicos nas áreas de oceanografia, física, química, biologia, climatologia, meteorologia, ornitologia, arquitetura, psicologia, arqueologia, geologia e atmosfera. Além de 17 militares da Marinha do Brasil, que ficarão pelo período de um ano. Todos são preparados para vivenciar situações peculiares da região, recebendo instruções sobre uso de vestimentas, proteção, segurança, cuidados com a saúde, vida a bordo dos navios, deslocamento em botes e embarque em aeronave.

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A seleção dos militares da Marinha que compõem o Grupo-Base ocorre praticamente dois anos antes da efetiva chegada deles à Antártica, seguindo critérios rigorosos. O grupo responsável por gerenciar a Estação Antártica Comandante Ferraz e apoiar na logística e segurança dos pesquisadores passa por diversos exames laboratoriais, avaliações médicas e psicológicas. Após essa seleção, os candidatos participam da primeira fase, em julho, com duração de oito dias, ocasião em que vivenciam situações bem próximas às que irão se deparar na Antártica. Ao final desse processo seletivo, passam para a próxima fase os que melhor se adaptaram à simulação das condições inóspitas e complexas.

Concomitantemente à segunda fase de preparação dos militares, acontece, em agosto, o Treinamento Pré-Antártico (TPA) para os pesquisadores, também com duração de oito dias, no Centro de Avaliação da Ilha da Marambaia (CADIM), no Rio de Janeiro. Eles realizam o treinamento e têm até três anos para desembarcar na Antártica. Antes de chegarem a essa etapa, os projetos são aprovados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com o aval do  Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

“O TPA realizado com os pesquisadores acontece junto com a segunda fase de seleção dos militares que irão compor o Grupo-Base no ano que vem, justamente para estimularmos a interação entre eles. Nesse período, eles participam juntos da maior parte das atividades. O processo para os militares começou com 78 candidatos. Agora temos 46 e, após essa segunda fase, serão escolhidos os 17 que passarão um ano lá. O mais importante disso tudo é proporcionar o apoio à pesquisa. Essa é a grande relevância da nossa presença na Antártica”, disse o coordenador do processo de seleção para o Grupo-Base e do Treinamento Pré-Antártico, Capitão de Mar e Guerra Luiz Filipe Queijo Correia.

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No CADIM os candidatos aprendem técnicas de sobrevivência no mar

O Suboficial (Mergulhador) Handson Oliveira de Azevedo está participando pela segunda vez do processo seletivo. Para ele, que esteve na Antártica em 2019, atuar no continente branco é um misto de satisfação pessoal e profissional. “Quem já foi para aquele continente quer voltar. Quero passar todo o conhecimento que obtive lá para os meus pares e para os pesquisadores. Os pontos chaves, os lugares e principalmente a segurança de já conhecer aquele local porque o grupo-base está lá para prover a segurança das pesquisas. Mas cada seleção é única. Estou na expectativa para ser um dos selecionados”, ressaltou.

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A proatividade dos candidatos é um dos fatores decisivos no treinamento

Segundo a pesquisadora Maria Clara Laydner, aluna do 8º período da graduação em Ciências Biológicas, na Universidade de Brasília, e integrante do projeto Bryontar, um dos selecionados pelo MCTI, a interação está sendo melhor do que esperava. “Estou achando o pessoal bem profissional. Estou muito mais segura para coletar o material que preciso, realizar minha pesquisa e ter um bom convívio. Minha única apreensão era em relação ao balanço do navio durante a travessia para chegar lá, pois vamos enfrentar as águas do Drake, mas os coordenadores aqui estão nos passando muita confiança”, afirmou.

O projeto que Maria Clara faz parte, Bryoantar, coleta amostras do solo, água e ar da região Antártica para realizar estudos com DNA ambiental, com o intuito de entender os organismos presentes na localidade, bem como aqueles que estão se deslocando para a região. Assim como esse, os outros 22 projetos, cada um em sua área, investigam e analisam atributos, espécies e peculiaridades resultantes da baixa temperatura e das condições inóspitas do local, que podem ser a chave para melhorar questões a nível mundial.

Entre eles, está o Projeto Terrantar, da Universidade Federal de Viçosa, que investiga questões relativas ao impacto do aquecimento global para as regiões frias do planeta. “Nossa pesquisa foca na camada de solo congelada na superfície, que pode dar indicações do que está acontecendo em termos de mudanças climáticas. A análise do que acontece na Antártica gera informações importantes para a elaboração de possíveis cenários climáticos futuros. Lá, utilizamos acampamentos e essa experiência aqui no TPA está sendo fundamental. Já estou me familiarizando com a montagem e manutenção das barracas. É tudo muito organizado”, disse o pesquisador Teógenes Senna de Oliveira, que faz parte do projeto.

O tempo de permanência de cada pesquisador na região é, em média, de 30 dias. Os projetos se revezam no período de outubro a abril do ano seguinte, quando acaba o verão Antártico. A médio e longo prazo, as pesquisas desenvolvidas na Antártica trarão benefícios em diversos setores da sociedade, como a medicina, com a formulação de medicamentos; a agricultura, no desenvolvimento de novos pesticidas e herbicidas; e a indústria, na fabricação de produtos como anticongelantes e protetores solares, entre outros.

PROANTAR
O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) é um programa de abrangência nacional coordenado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), consolidado no âmbito das pesquisas científicas e entidades de ensino e pesquisa nacionais. Uma de suas atividades inclui o treinamento para pesquisadores, visando qualificá-los para que eles adquiram conhecimentos alinhados aos princípios do Programa e para sua atuação na região.

“É necessário ressaltar que este treinamento exige uma grande mobilização da Marinha do Brasil para que se realize, como a utilização de helicópteros, embarcação de desembarque, caminhões, e instrução na Ilha da Marambaia para que os pesquisadores sintam – o mais próximo possível – as condições que encontrarão na Antártica. A cultura antártica, as peculiaridades próprias do continente, a geopolítica da região e a história também são disseminadas aos pesquisadores”, explicou o Secretário da CIRM, Contra-Almirante Marco Antônio Linhares Soares.

Criado em 12 de janeiro de 1982, o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) tem por objetivo a promoção de pesquisa científica diversificada e de alta qualidade na região antártica, com a finalidade de compreender os fenômenos que ali ocorrem, que tenham repercussão global e, em particular, sobre o território brasileiro; e garantir ao país a condição de Membro Consultivo do Tratado da Antártica, alcançada em 1983, que assegura a plena participação do Brasil nos processos decisórios relativos ao futuro do Continente Branco.

A entrada do Brasil no Sistema do Tratado da Antártica (STA) abriu à comunidade científica nacional a oportunidade de participar em atividades que, com a pesquisa do espaço e do fundo oceânico, constituem as últimas grandes fronteiras da ciência internacional.

Anualmente, a subcomissão para o PROANTAR planeja, coordena e executa as Operações Antárticas.

A primeira Operação Antártica (OPERANTAR I) foi realizada em 1982. Em 2022 terá início a OPERANTAR XLI, que acontecerá de 09 de outubro de 2022 até o dia 13 de abril de 2023. Serão realizadas pesquisas a partir dos laboratórios da Estação Antártica Comandante Ferraz, do Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel”, do Navio Polar “Almirante Maximiano” e de acampamentos, apoiados com o emprego de botes e helicópteros. A Força Aérea Brasileira dá apoio com o transporte de pessoal e mantimentos, com, pelo menos, dez voos por ano.

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Marcelo Barros, com informações da Marinha do Brasil
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).