Brasil, Atlântico e África: o elo estratégico que redefine o papel do Nordeste na geopolítica naval

Mapa do Oceano Atlântico com aviões e navios
Não fique refém dos algoritmos, nos siga no Instagram, Telegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias.

O Nordeste brasileiro sempre teve sua importância reconhecida no campo histórico, cultural e econômico. No entanto, é no campo geopolítico e estratégico marítimo que a região vem ganhando protagonismo silencioso — mas fundamental — para o futuro da soberania nacional e da presença do Brasil no Atlântico Sul.

Situado no ponto mais oriental da América do Sul, o Saliente Nordestino projeta o território brasileiro diretamente em direção à costa ocidental da África, tornando o Nordeste não apenas uma região brasileira, mas um verdadeiro trampolim geopolítico intercontinental.

Uma ponte natural sobre o Atlântico Sul

A distância entre o Recife e Dacar (Senegal) é de apenas 2.900 quilômetros — mais próxima do que São Paulo está de Porto Velho. Esse dado geográfico, por si só, já explicaria por que o Nordeste é uma plataforma natural para operações militares, humanitárias e diplomáticas no eixo América do Sul–África.

Portos como os de Natal, Recife, Salvador e Fortaleza têm sido utilizados em diversas operações da Marinha do Brasil que visam reforçar a presença brasileira em águas internacionais. Um exemplo recente foi a Operação GUINEX V, realizada com países africanos de língua portuguesa, que partiu diretamente de portos nordestinos para a costa africana.

Nordeste e Amazônia Azul: a frente avançada da defesa marítima

Mapa de tráfego marítimo na costa nordeste do Brasil.
Rotas marítimas nas proximidades do saliente nordestino (Fonte: MarineTraffic.com)

O Saliente Nordestino também é peça-chave na defesa da Amazônia Azul, pois permite a projeção do poder naval a partir de bases terrestres próximas das zonas de maior interesse estratégico — como as bacias petrolíferas do pré-sal, as rotas comerciais atlânticas e as áreas sob constante monitoramento ambiental.

A presença de instalações militares no Nordeste, como o 3º Distrito Naval (com sede em Natal) e diversas Organizações Militares subordinadas em Alagoas, Paraíba, Bahia e Ceará, reflete a prioridade que a Marinha do Brasil vem dando à região. Esses distritos não apenas garantem a segurança das águas territoriais como também operam como postos avançados de prontidão para ações no exterior.

Conexões diplomáticas e cooperação Sul-Sul

O Atlântico Sul tem sido cada vez mais interpretado como um “mar de cooperação” entre América do Sul e África, sobretudo com países africanos lusófonos como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. O Brasil, por meio da Marinha, tem investido em capacitação de oficiais estrangeiros, missões navais conjuntas e intercâmbio técnico-militar.

Essas relações reforçam não apenas o prestígio internacional das Forças Armadas brasileiras, mas também abrem espaço para acordos comerciais, parcerias energéticas e projetos de integração marítima — e o Nordeste, por sua posição geográfica privilegiada, se torna o portal natural para essa interlocução entre continentes.

Potencial logístico, portuário e industrial

Além do viés militar e diplomático, o Nordeste tem condições de se tornar um hub logístico da economia do mar. Projetos como o porto de águas profundas em Suape (PE), o desenvolvimento da Base Naval de Aratu (BA), e a possível expansão da indústria naval em áreas como Salvador e Fortaleza podem consolidar a região como um eixo estratégico da cadeia logística atlântica.

Nesse contexto, a retomada de investimentos na Base Industrial de Defesa e na indústria naval nacional, com foco no Nordeste, pode gerar empregos, desenvolvimento tecnológico e maior autonomia estratégica para o país.

Conclusão: um novo olhar sobre o Nordeste brasileiro

Mais do que um polo turístico ou uma fronteira agrícola em expansão, o Nordeste precisa ser compreendido como uma âncora geopolítica do Brasil no Atlântico Sul. Sua posição estratégica, aliada ao fortalecimento da Marinha do Brasil e às conexões diplomáticas com a África, coloca a região no centro das decisões sobre defesa, comércio, segurança energética e projeção internacional.

Valorizar o Nordeste nesse novo tabuleiro geopolítico é reconhecer que a soberania brasileira começa onde o mapa aponta para o leste — e avança com os olhos voltados para o mar.

Participe no dia a dia do Defesa em Foco

Dê sugestões de matérias ou nos comunique de erros: WhatsApp 21 99459-4395

Apoio

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário!
Digite seu nome aqui