A carreira militar possui características históricas que tornam singular este ramo profissional. No século XXI, e fundamentalmente no decorrer desse texto, a expressão “militar” abrange ambos os gêneros, sendo um importante avanço para a maioria das Forças Armadas mundiais, no contexto contemporâneo de busca pela igualdade entre homens e mulheres.  

Nos siga no Instagram, Telegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias de nossas forças armadas e indústria da defesa.

Em linhas gerais, muitos países incutem os atributos da carreira por ensinamentos transmitidos pelas escolas de formação, sendo incorporados a partir de processos sociais de longa duração, que envolvem instruções militares em variados níveis, realizadas por homens e mulheres em conjunto (Castro, 1995). Em consequência, tanto para a formação dos oficiais quanto dos sargentos, masculinos e femininos, tais estabelecimentos de ensino forjam, no(a) até então jovem aluno(a), em transição da vida civil, as características necessárias para ser denominado(a) “militar”.  

No militarismo existem valores inerentes à profissão que potencializam as suas características próprias. O culto à verdade, à probidade, à lealdade, à honra e à responsabilidade tornam o militar diferenciado, se comparado com um indivíduo comum que exerce outras atividades no ramo civil. Entretanto, esses apontamentos não tornam um militar melhor ou mais capaz que uma pessoa que não é militar, porém qualificam e moldam a sua personalidade para as situações próprias da sua atividade-fim, ou seja, estar constantemente mantendo a sua preparação para o combate. 

Como exemplo das peculiaridades da caserna, no decorrer da Segunda Guerra Mundial pesquisadores impulsionaram os estudos de “sociologia militar”, a fim de compreender como os milhões de civis mobilizados, por suas particularidades diversas, poderiam interagir com a comunidade castrense existente. Entre o final dos anos 1960 e meados da década seguinte, os estudos militares cresceram expressivamente.  

No Brasil, o estudo do militarismo, com a atenção voltada à história, à sociologia e à antropologia, encontrou na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) uma excelente amostragem para pesquisas científicas, como no trabalho elaborado pelo investigador Celso Castro (1995). No século XXI, a AMAN compreende um universo de cadetes, de ambos os gêneros, diferentemente do período da pesquisa desenvolvida pelo referido autor, em que somente os homens realizavam os seus cursos.  

Este ambiente controlado é o estabelecimento de ensino superior encarregado de formar os oficiais combatentes do exército. Ainda na linha de ensino bélico, a Escola de Sargentos das Armas, paralelamente, conduz a capacitação dos sargentos para atuarem como elo entre os oficiais e a tropa.  

No exterior, a academia estadunidense de West Point é a referência mundial de excelência de ensino para a formação militar combatente. Vale lembrar que, desde o período da formação da Força Expedicionária Brasileira para a guerra, as nossas Forças Armadas passaram a adotar, como modelo, a doutrina militar ensinada nos Estados Unidos da América. 

Outrossim, com as responsabilidades impostas pela profissão, a transição da vida civil para a militar é súbita e abrupta, com uma carreira cujo progresso, entre os postos e graduações, segue um rito padrão formatado. Se possível traçar uma analogia ilustrativa, o período de formação, na academia ou escola militar, é capaz de alterar o sentimento de autoconcepção do jovem aluno ingressante, como uma espécie de modificação do seu DNA, dissolvendo a sua identidade civil e estabelecendo uma identidade militar própria (Janowitz, 1967).  

Entre as características básicas da identidade em questão, pertinentes à carreira, de forma geral, existem capacidades e competências que influenciam, permanentemente, a vida militar de uma pessoa. Dentre elas, convém citar as seguintes: liderança, companheirismo, resistência física, camaradagem, persistência, autoaperfeiçoamento, espírito de cumprimento do dever, adaptabilidade, proatividade, rusticidade, zelo, profissionalismo, motivação, comunicação, iniciativa, criatividade e disciplina. 

As diferenças de estrutura e cultura das instituições militares, em relação ao meio civil, evidenciam o desenvolvimento de um tipo especial de vocação, além de espírito de corpo, que distinguem características fundamentais da profissão das armas, ao passo que no meio corporativo civil não necessariamente estas últimas são encontradas (Huntington, 1967). 

Em relação ao espírito de corpo, nada mais é do que uma noção de pertencimento específica em um grupo. Para tanto, a vontade e os interesses do conjunto, por vezes, prevalecem sobre os pessoais. Isto exige que o indivíduo saiba ponderar a importância da sua participação, visando os melhores e mais efetivos resultados para o todo que ele integra.  

Referente ao tipo especial de vocação, simultaneamente ao citado espírito de grupo, é relevante frisar que o ingresso na carreira militar, por norma, requer um juramento. Neste, que não reflete uma mera repetição de palavras, a pessoa assume um compromisso de dar a sua vida pela pátria. Se necessário, especialmente em situações de risco de morte, durante eventual emprego coletivo, o militar dependerá do seu companheiro mais próximo, seja em uma cobertura ou proteção, demonstrando que o seu compromisso com a pátria se estende a garantir a vida do “irmão fardado” ao lado. 

Constata-se que, para os militares bem sucedidos, a competência para o combate é uma característica profissional que depende de preparação e organização específicas. O planejamento e o direcionamento de esforços, aliados aos equipamentos e treinamentos adequados, propiciam maior efetividade em ações contra outras forças eventualmente equiparáveis. Ademais, nos confrontos bélicos contemporâneos, uma característica militar que se sobressai é a liderança, a fim de inspirar e influenciar outros na direção do cumprimento da missão.  

Igualmente, nota-se que o estudo da carreira militar é um território vasto e profundo, que possui um caráter sobretudo dinâmico, por motivo das instruções contínuas e formações em várias etapas ao longo dos anos de prestação de serviço (Castro, 1995). Desse modo, sob o culto de determinados valores, os militares desenvolvem virtudes como o respeito, incondicional, às normas e aos regulamentos, além da hierarquia e da disciplina, sendo esses os pilares da corporação no Brasil.  

Por fim, no presente, há uma contínua preocupação com a qualificação individual (autoaperfeiçoamento), virtude característica profissional que contribui para o melhor cumprimento das tarefas das Organizações Militares. Diante de todo o exposto, as peculiaridades ímpares da carreira das armas, bem como da sociedade militar, tornam a hierarquia e a disciplina os esteios fundamentais que sustentam e asseguram a estabilidade interna das Forças Armadas, potencializando o cumprimento eficaz das suas múltiplas missões no complexo cenário mundial do século XXI. 

 

REFERÊNCIAS 

CASTRO, C. O espírito militar: um estudo de antropologia social na Academia Militar das Agulhas Negras. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 

HUNTINGTON, S. The Soldier and the State. The theory and Politics of Civil-Military Relations. Cambridge: Harvard University Press, 1967. 

JANOWITZ, M. O Soldado Profissional, um estudo social e político. Rio de Janeiro: GRD, 1967.