Atraso na construção do submarino nuclear enfraquece defesa da Amazônia Azul

A seção de Qualificação permitirá aferir a capacidade, única no hemisfério sul, de construção de um submarino Convencionalmente Armado com Propulsão Nuclear
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No coração do Prosub, em Itaguaí, repousa um projeto que deveria simbolizar a soberania brasileira no século XXI: o submarino de propulsão nuclear. Mas sem orçamento adequado e com a visão estratégica eclipsada por interesses imediatistas, o que deveria estar pronto em 2034 agora se arrasta para 2040 — um atraso que ameaça diretamente a capacidade do Brasil de proteger suas riquezas no mar.

Amazônia Azul: expansão de um desafio estratégico

Com mais de 3,5 milhões de km², a Amazônia Azul representa hoje uma das áreas mais estratégicas do país — tanto em valor econômico quanto em relevância geopolítica. É nesse território marítimo que se concentram cerca de 95% do comércio exterior brasileiro, plataformas de petróleo, cabos de comunicação, biodiversidade marinha e recursos minerais ainda inexplorados.

O avanço de ameaças cibernéticas, pesqueiras predatórias, espionagem tecnológica e pressões internacionais sobre o Atlântico Sul tornam o monitoramento constante dessa área não mais uma opção, mas uma necessidade de Estado. E nesse cenário, nenhuma outra plataforma militar é tão capaz quanto um submarino de propulsão nuclear.

Submarino nuclear: o que o Brasil está perdendo

Com autonomia para permanecer submerso por longos períodos, alcance oceânico ampliado e alta capacidade de dissuasão, o Submarino Almirante Álvaro Alberto não é apenas um ativo tático — é um instrumento de projeção da soberania nacional.

Seu atraso — previsto agora para 2040 — representa mais que um descumprimento de cronograma: é um recuo na capacidade do Brasil de controlar suas próprias águas. Sem ele, a Marinha depende de meios convencionais limitados, que são detectáveis por adversários e possuem menor raio de ação.

A proteção de nossas riquezas marítimas compensaria rapidamente o investimento necessário. Mas, na contramão disso, o governo federal mantém um orçamento insuficiente para o Prosub: apenas R$ 2 bilhões por ano, quando seriam necessários pelo menos R$ 3 bilhões para manter o cronograma inicial.

Uma visão curta que ameaça o longo prazo

O Brasil, país de vocação marítima, perde tempo e capacidade operacional por falta de uma estratégia coerente de defesa. A PEC que fixaria o orçamento das Forças Armadas em 2% do PIB permanece engavetada no Congresso. O Ministério da Defesa propôs um piso de 1,5% da receita corrente líquida, mas até agora não há consenso político para avançar com nenhuma das alternativas.

Essa ausência de compromisso ameaça não apenas o Prosub, mas a integridade de toda a Esquadra brasileira, que verá 43 embarcações desativadas até 2028 sem perspectiva de reposição à altura.

Desmobilização silenciosa e risco de dependência externa

Ao adiar o submarino nuclear, o Brasil também coloca em risco décadas de investimento em infraestrutura, tecnologia e capital humano. O protótipo do reator nuclear em terra (Labgene), os laboratórios de combustível em Iperó (LEI) e o Complexo Naval de Itaguaí estão prontos para a fase decisiva, mas correm o risco de obsolescência e dispersão de equipes técnicas por falta de recursos.

O país também perde em termos de autonomia estratégica: sem o submarino nuclear, ficará cada vez mais dependente de acordos de vigilância com parceiros estrangeiros, muitos dos quais têm interesses próprios sobre o Atlântico Sul.

Não é só um submarino: é o futuro que está em jogo

Proteger a Amazônia Azul é garantir a soberania do Brasil sobre seu território mais promissor no século XXI. Adiar o submarino de propulsão nuclear não é apenas um erro técnico ou logístico — é um erro estratégico com consequências profundas.

A cada ano sem esse meio essencial, o Brasil expõe suas riquezas, sua infraestrutura crítica e sua presença internacional a riscos crescentes. A conta não é apenas financeira. É geopolítica. É histórica. E, se não houver correção de rumo, será irreversível.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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