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As constantes notícias sobre vazamentos de dados e fraudes na internet – um caso recente, envolvendo 227 milhões de CPFs no Brasil (inclusive de pessoas já falecidas), é um dos mais alarmantes – mostram que esse tipo de crime aumenta e se agrava no país. São vários os alvos, mas tem chamado a atenção como a área de saúde está cada vez mais na mira dos cibercriminosos.

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A constatação é de profissionais e especialistas relacionados ao próprio setor. Para o engenheiro de computação Gilberto Martinez, techlead da Mitfokus – consultoria em soluções financeiras especializada no atendimento a consultórios, clínicas e hospitais – é possível listar pelo menos três motivos que colocam médicos como vítimas prediletas de criminosos. O processo acelerado de digitalização das atividades, intensificado neste período de pandemia (de Covid-19); a sensibilidade inerente à área da saúde (lida com dados de pessoas geralmente em momento de fragilidade); e a remuneração média do profissional, em comparação com o contexto socioeconômico do país, são as três razões enumeradas pelo especialista.

Gilberto Martinez exemplifica com o caso de um dos clientes da Mitfokus, um hospital (o nome é preservado) cujo banco de dados foi atacado por hackers. Eles conseguiram rastrear os prontuários de todos os pacientes do hospital e exigiram um resgate de R$ 200 mil, a ser pago em criptomoedas. “Hoje, não se sequestram mais pessoas. Sim dados”, pontua o engenheiro de computação.

INICIATIVAS

Identificando a suscetibilidade dos profissionais e empreendimentos na área de saúde é que a Mitfokus tem desenvolvido iniciativas para levar informação, conhecimento, orientação e prevenção a cibercrimes, ressaltam os sócios Júlia Lázaro, responsável pela área administrativa e pela consultoria financeira, e Tiago Lázaro, responsável pela área comercial e CEO da empresa.

“É um problema cada vez mais recorrente e com uma dificuldade: muitas clínicas, com receio de exposição, acabam não relatando as ocorrências das quais foram vítimas. Isso impede termos uma dimensão mais precisa do quanto a área de saúde vem sendo atingida por fraudes e cibercrimes, bem como das experiências de prevenção e combate que poderiam ser compartilhadas”, assinala Júlia Lázaro.

A próprio Mitfokus escapou, pouco tempo atrás, de uma investida. Em certo dia, a empresa recebeu um telefonema de uma pessoa alegando ter se equivocado e feito uma transferência de valores na conta da consultoria. Pedia, assim, o ressarcimento.

De fato, o extrato bancário mostrava o ingresso daqueles recursos. No entanto, a equipe da Mitfokus desconfiou que era um golpe e buscou averiguar. Não deu outra: a pessoa havia feito um depósito em cheque, o que fazia os valores constarem no extrato. O cheque, contudo, não tinha fundos.

e9536b9fa91f2cf96c409a5ad950d53d mediumGilberto Martinez, techlead da Mitfokus

A constatação foi a de que, de alguma forma, houve acesso a dados bancários da consultoria. “O golpista sabia que a empresa dispunha do montante em conta, para que lhe fizesse o estorno pedido”, observa Gilberto Martinez.

“LIVE”

Em fevereiro último, a Mitfokus promoveu em seu perfil no Instagram uma “live” para debater e promover reflexão sobre o tema. O encontro envolveu o próprio Gilberto Martinez, da Mitfokus, e a cardiologista Tatiana Hirakawa, fundadora da WeDoc, plataforma digital para médicos.

“A aceleração da digitalização – como a aprovação emergencial, por causa da pandemia, da telemedicina – impôs a necessidade do uso de ferramentas, porém muitas vezes sem que os profissionais de saúde estejam preparados para tomar as precauções necessárias contra golpes”, avalia a médica e empreendedora.

Uma solução desenvolvida pela WeDoc foi a de criar um aplicativo de mensagens (como o WhatsApp) voltado exclusivamente para médicos. Isso porque uma das ocorrências mais comuns tem sido a clonagem de contas de WhatsApp, com invasão e roubo de dados. “Os médicos costumam trocar mensagens em grupos sobre diagnósticos, exames, e isso por vezes acaba vazando”, pontua.

COMO PREVENIR ATAQUES

A equipe da Mitfokus preparou algumas dicas de prevenção a ataques e roubos de dados. Confira:

  • Senhas pessoais: nunca utilizar a mesma senha para diversos serviços;
  • Em videoconferências, aplicar filtros no fundo ou retirar imagem de qualquer elemento que identifique o ambiente ou familiares;
  • Evitar instalar e atualizar aplicativos do celular fora das lojas oficiais;
  • Desconfiar sempre de links anunciando promoções milagrosas, preços fora do comum, entre outros benefícios extraordinários;
  • Há aplicativos que criptografam senhas, garantindo segurança;
  • Procurar desenvolver uma educação digital e financeira.

Para averiguar e denunciar, a recomendação é:

  • Acessar o sistema Registrato, do Banco Central, para conferir se há registro de operações financeiras com seu CPF/CNPJ que não reconheça como suas;
  • Em várias unidades da federação já há delegacias de polícia civil especializadas em cibercrimes.

SERVIÇO | A live promovida pela Mitfokus, com mais detalhes sobre o assunto, pode ser conferida em <https://www.instagram.com/mit.fokus/>.

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).