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A recente atualização das cartas náuticas do arquipélago do Marajó, promovida pela Marinha do Brasil, revela não apenas um avanço técnico no mapeamento hidrográfico da região amazônica, mas também escancara a disparidade entre a complexidade das missões atribuídas às Forças Armadas e o progressivo estrangulamento orçamentário imposto à Defesa Nacional. Como manter a soberania, garantir a segurança da navegação e proteger recursos estratégicos se falta combustível, manutenção e meios operacionais?
A importância estratégica do levantamento hidrográfico no Marajó
A Amazônia Azul, que compreende a vasta extensão de águas jurisdicionais brasileiras, possui áreas que ainda carecem de dados atualizados e seguros para navegação. O arquipélago do Marajó, com seus mais de 100 mil km² e vital importância logística para o Arco Norte, é um desses casos.
A publicação das novas cartas náuticas — incluindo a primeira carta eletrônica da região — representa um marco técnico e de soberania. O trabalho do Centro de Hidrografia e Navegação do Norte (CHN-4) proporciona:
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Maior segurança para embarcações comerciais e de passageiros, prevenindo encalhes e colisões com obstáculos submersos;
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Redução de acidentes fluviais e perdas econômicas;
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Instrumento de planejamento para ações de patrulhamento, SAR (Search and Rescue) e operações interagências;
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Base para o desenvolvimento sustentável da navegação interior e da bioeconomia amazônica.
Sem esse mapeamento, a navegação se torna um risco, e o Estado perde sua capacidade de presença e fiscalização em áreas remotas.
Marinha do Brasil: competência técnica frente à limitação de meios
Enquanto realiza um trabalho de excelência, a Marinha opera sob severas limitações. Os números são contundentes: cerca de 91% do orçamento da Defesa está comprometido com despesas obrigatórias (pessoal ativo, inativos e pensionistas), sobrando pouco para custeio, manutenção e investimento.
Consequências práticas:
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Redução de missões de patrulha e fiscalização nos rios amazônicos;
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Atrasos em atualizações cartográficas e aquisição de dados hidrográficos;
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Riscos operacionais em missões de busca e salvamento;
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Impacto direto na presença do Estado em áreas estratégicas.
Mesmo assim, o CHN-4, com apenas quatro navios e algumas lanchas hidrográficas, mantém atualizações essenciais em uma das regiões mais complexas do planeta.
Segurança da navegação é segurança nacional
A atividade hidrográfica não é apenas uma função técnica. Ela cumpre o papel constitucional da Marinha: garantir a soberania e a integridade do território nacional. Uma carta náutica atualizada salva vidas, previne acidentes ambientais, evita perdas econômicas e permite a presença do Estado em regiões vulneráveis ao tráfico de drogas, contrabando, pirataria fluvial e crimes ambientais.
Mais do que isso: essas cartas são instrumentos de soberania, pois tornam o Brasil menos dependente de dados externos e asseguram o domínio do conhecimento sobre suas próprias águas.
O paradoxo: atribuições crescentes, orçamento decrescente
O Brasil exige muito de suas Forças Armadas: vigilância costeira, apoio à saúde ribeirinha, socorro em desastres, presença em áreas remotas, além da defesa contra ameaças convencionais e emergentes.
Porém, sem recursos para treinar, abastecer, modernizar e manter meios operacionais, a capacidade de resposta das Forças Armadas se esgota. A Marinha já admite impacto em patrulhas e operações navais. A Força Aérea enfrenta escassez de combustível. O Exército restringe treinamentos e enfrenta risco de descontinuidade em programas estratégicos.
O resultado é uma corrosão silenciosa da prontidão militar — um processo que pode ter consequências irreversíveis para a segurança nacional.
O preço da negligência estratégica
A atualização das cartas náuticas do Marajó é um feito notável, mas sua continuidade está em risco se não houver investimento. A segurança da navegação é um elo vital da segurança nacional — e sua desvalorização orçamentária é uma ameaça à própria soberania.
Sem orçamento, não há Defesa.
Sem Defesa, não há Nação soberana.
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