Imagem: UCB

Por Tenente-Coronel Fernando Casagrande Esteves

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“A Comunicação Social não é uma atividade isolada, desencadeada somente em situações de crise. Ao contrário, é um conjunto permanente de práticas de comunicação organizacional, visando ao fortalecimento dos laços de interação entre a organização e seus públicos de interesse, bem como à consolidação e à preservação de uma imagem pública favorável.” (Revista VerdeOliva nº 238, outubro de 2017)

De acordo com a definição constante no Glossário das Forças Armadas, o Poder Nacional é definido como “capacidade que tem a Nação para alcançar e manter os Objetivos Nacionais, em conformidade com a Vontade Nacional. Manifesta-se em cinco expressões: a política, a econômica, a psicossocial, a militar e a científico-tecnológica.” Todas consideram, em maior ou menor grau, conforme a conjuntura vigente, o planejamento de estratégias de comunicação sólidas, eficientes e assertivas.

A ideia de que as comunicações estratégicas constituem uma valiosa ferramenta na consecução dos objetivos nacionais redunda, dentre outros conceitos, do pressuposto de que o Estado tem o dever fundamental de agir legitimamente perante os cenários interno e externo e de explicitar tal legitimidade à sociedade que lhe assegura a necessária liberdade de ação.

Até o final da 2ª Guerra Mundial, o principal objetivo das nações beligerantes era maximizar o número de baixas, eliminar os poderes militar e político inimigos e conquistar o domínio territorial.

Nas últimas décadas, os Estados passaram a dar importância não somente aos custos políticos e econômicos, mas também aos efeitos morais e sociais que eram divulgados por meio dos meios de comunicação, posicionando a opinião pública contra ou a favor do uso da força. Dentro desse contexto, atualmente, o objetivo é ganhar a guerra no mais curto espaço de tempo, com o mínimo de baixas civis, usando armas de precisão, com informação controlada quanto a imagens e opiniões e com alta tecnologia que assegure um mínimo de danos colaterais.

As guerras do Vietnã, na década de 70, e do Golfo Pérsico, em 1991 e 2003, marcaram uma forte mudança na natureza das guerras modernas, na medida em que apresentaram um novo protagonista no campo de batalha: os meios de comunicação como arma estratégica para posicionar a opinião pública nacional e internacional e dar legitimidade às ações estatais de natureza diplomática, econômica ou bélica.

A dimensão informacional se equiparou em importância às outras dimensões do ambiente operacional, motivada principalmente pelos avanços tecnológicos que ampliaram a capacidade de se exercer influência sobre o público. O controle da narrativa passou a exercer papel fundamental na guerra pela influência, em que se busca que o público-alvo libere comportamentos previamente analisados e que favoreçam o emissor da mensagem.

Um exemplo marcante é a “Doutrina das Três Guerras” chinesa de San Zhanque consiste em influenciar a opinião pública, nacional e internacional, com o intuito de obter a maior base de apoio possível para a condução das suas operações militares e não militares, ao mesmo tempo em que tenta antecipar-se e atacar a justificativa do seu adversário a fim de deslegitimar suas ações. Observa-se a aplicação dessa doutrina nas questões de soberania envolvendo a província de Taiwan e também na repressão aos Uigures, que são muçulmanos habitantes da região autônoma de Xinjiang no noroeste da China.

Verifica-se, portanto, que a elaboração de estratégias de comunicação não se aplica tão somente a contendas entre atores estatais, senão no amplo espectro dos conflitos, como nas operações contra insurgência e de pacificação, por exemplo. Em qualquer cenário, a opinião pública será o centro de gravidade do ambiente informacional e não pode, sob nenhuma circunstância, ser relegada a segundo plano no levantamento das hipóteses de conflito, sejam elas quais forem.

Nesse sentido, o Exército Brasileiro elaborou a Diretriz de Comunicação Estratégica em consonância com a Política de Informação do Exército, com vistas a alinhar, sincronizar e integrar a Comunicação Estratégica aos Objetivos Estratégicos, impondo a combinação das práticas tradicionais de comunicação social com as relações institucionais e com o emprego das mídias digitais. Após estudos prospectivos e diagnósticos, foi elaborado um conjunto de ações e estratégias que potencializaram a capacidade de “comunicar o Exército”, com abrangência e assertividade, em qualquer cenário que se apresente, sempre com o mais alto nível de planejamento.

A capacitação dos recursos humanos tem recebido atenção especial, e cadernos de instrução enviados aos corpos de tropa orientam a proposta de comunicação que deve chegar à “ponta da linha”. O soldado de hoje deve estar mais bem preparado para lidar com os desafios da informação, pois todos são vetores de comunicação em todas as situações, na paz ou na guerra, dentro ou fora dos aquartelamentos.

O Sistema de Comunicação Social do Exército (SISCOMSEx) percorre todos os escalões da Força, difundindo as diretrizes do seu comandante de forma eficaz e uniforme, levando ao público interno informações e ordens oportunas e precisas e contribuindo para a coesão dos homens e das mulheres que integram a instituição.

No ambiente operacional volátil, incerto, complexo e ambíguo dos dias atuais, não se pode prescindir das capacidades comunicacionais adquiridas, e em constante evolução, sob pena de preparar o Exército de hoje para a guerra de ontem, colhendo efeitos finais não desejados diante da credibilidade e da reputação conquistadas ao longo de tantos anos de simbiose com o povo brasileiro.

Marcelo Barros, com informações do Exército Brasileiro
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Assessoria de Comunicação (UNIALPHAVILLE), MBA em Jornalismo Digital (UNIALPHAVILLE), Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).