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Nesta última semana, tive a oportunidade de visitar Varsóvia e, ao explorar os Equipamentos Culturais da cidade, locais repletos de história viva, aprendi e pude retornar ao Brasil inspirada com lições de liderança, resiliência e estratégia da nação polonesa que resistiu ao domínio estrangeiro e às imposições do totalitarismo. Em meio à devastação da Segunda Guerra Mundial, os poloneses travaram uma batalha própria pelo direito de existir.
O Levante de Varsóvia começou em 1º de agosto de 1944 e durou 63 dias.
Eles não conquistaram vitórias militares significativas e, durante esse período, foram brutalmente esmagados e o país devastado. Contudo, o espírito indomável daquele povo ecoa pelas ruas e na reconstrução do país, especialmente nos bairros de Stare Miasto e Nowe Miasto, que foram totalmente destruídos. É impossível não se emocionar ao ver os cartazes de obras que dizem: “Estamos reconstruindo o que nunca deveria ter sido destruído.”
E me perguntei: quantas vezes nossa inspiração é desafiada ou posta à prova? Os dias em Varsóvia me fizeram refletir sobre como essa história de reconstrução pode servir como um exemplo valioso para nossas trajetórias profissionais, pessoais e acadêmicas.
Para quem não conhecia os detalhes da história da Polônia na Segunda Guerra Mundial, visitar os monumentos, museus e ruas da cidade é uma oportunidade de se conectar com as emoções de união, valores e determinação de um povo com características únicas. O “jeito polonês” de ver e agir é diferente, e é preciso observá-lo atentamente ao chegar na cidade. São anos de história que marcam uma nação orgulhosa de contar sua trajetória, repleta de séculos de conflitos e batalhas, bem diferente das coloridas praças com petúnias e rosas durante o “suave” verão europeu. E a mensagem do Museu Militar da Polônia é clara: nosso exército possui mais de mil anos. É uma mensagem que impacta e nos convida a olhar nossa própria história: os caminhos percorridos, as lutas, os aliados, e, se necessário, em como reconstruir.
A viagem a Varsóvia começa com o filme “Kanal”, do diretor polonês Andrzej Wajda, que conta a história de combatentes poloneses que fogem pelos esgotos na tentativa de sobreviver às batalhas e aos bombardeios da capital, que aparece destruída pelos alemães. É dramático, sombrio e anti-heroico.
Ao chegar na Polônia, a Sereia de Varsóvia (Warsaw Mermaid), símbolo e brasão da capital, é onipresente, surpreendendo pela sua representação poderosa. Diferente das sereias tradicionalmente retratadas de forma romântica e sensual, a Sereia de Varsóvia possui espada e escudo, símbolo de luta e proteção. Essa figura marcante é vista em diversos locais, do aeroporto a monumentos pela cidade, transportes, restaurantes e cafés.
O Museu Militar (Polish Army Museum), o Museu de Katyn (Katyn Museum), o Museu da História dos Judeus Poloneses (Polin Museum of the History of Polish Jews), o Museu Nacional (The National Museum in Warsaw), o Palácio Real (The Royal Castle in Warsaw), o Museu da História Polonesa (Muzeum Historii Polski) e tantos outros museus e espaços culturais recontam histórias que, para os poloneses, são profundamente familiares, mas que para um brasileiro podem não ser tão claras. Essas histórias nos lembram da necessidade de força para manter nossas escolhas e nosso modo de vida, mesmo que isso exija luta. O direito de viver à sua própria maneira demanda espírito e paixão, como nos ensina o Museu do Levante (The Warsaw Rising Museum), que com um simbólico muro que atravessa seus três andares reforça a mensagem: apesar dos limites físicos impostos pelos tiros recebidos, nós pulsamos! Vivemos!
Essa experiência não é apenas individual, mas coletiva. Talvez essa seja a principal mensagem por trás de todo o simbolismo, luta, paixão e resiliência. Embora cada um de nós siga uma jornada pessoal, isso não nos impede de avançar juntos, lado a lado, em prol de valores comuns e humanos. Assim como as músicas de Frédéric Chopin, celebradas em seu Museu em Varsóvia (Museum of Fryderyk Chopin in Warsaw) e em vários concertos e apresentações pela cidade, e as contribuições de Nicolau Copérnico (Planetarium Centrum Nauki Kopernik e Nicolas Copernicus Monument) com sua revolução na astronomia e a concepção do Sistema Solar, mostram que cada indivíduo pode impactar e enriquecer a sociedade. Esses incríveis poloneses, junto com Marie Curie, não só elevaram nossa compreensão e cultura, mas também exemplificaram a força de suas reconstruções, lutas e resiliências, tanto pessoais quanto profissionais.
Por fim, gostaria de compartilhar uma experiência interativa do Museu do Levante. O museu oferece um vídeo que, por meio de inteligência artificial, mapeia o rosto dos visitantes. Utilizando a leitura facial, o sistema recupera informações de um combatente do passado, lembrando-nos que qualquer um de nós poderia ter sido aquele que lutou pela liberdade, pelo direito de viver à sua maneira e pela dignidade de seu povo.
¹Essa newsletter contou com o olhar atento do Dr Marcos Valle Machado da Silva. Que entre atividades profissionais e acadêmicas, concede-me tempo, a maior das moedas, em companhia a cidade, em leituras e filmes sobre a Polônia e, na inspiração e incentivo na produção desse texto. Obrigada!
Referências:
Fotografias e vídeo: acervo pessoal, 2024.
The Story of ‘Syrenka’ – the Warsaw Mermaid. In your pocket. Essential City Guides, 2024. Link disponível em: https://www.inyourpocket.com/warsaw/the-story-of-syrenka-the-warsaw-mermaid_71466f
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