Trump, geopolítica e a fragilidade estratégica do Brasil

Não fique refém dos algoritmos, nos siga no Instagram, Telegram ou no Whatsapp e fique atualizado com as últimas notícias.

O mundo está mudando rapidamente, e o Brasil, sem uma estratégia clara, corre o risco de ser arrastado pelos ventos da geopolítica. A volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos expõe fragilidades estruturais da política externa brasileira, deixando o país mais vulnerável às imposições de uma ordem global fragmentada. Sem alianças sólidas ou um plano de longo prazo, resta-nos apenas reagir – e nem sempre a tempo.

A Nova Ordem Global e o Papel de Trump

A pax americana, que durante décadas garantiu relativa previsibilidade nas relações internacionais, está se dissolvendo diante da ascensão de novas potências e da postura agressiva de Trump. Para o presidente a diplomacia tradicional e as alianças multilaterais são fraquezas. Sua abordagem coloca os interesses americanos acima de qualquer compromisso internacional, desconsiderando acordos históricos e reconfigurando o papel dos EUA como potência global.

Nesse cenário, a geopolítica se reorganiza em um modelo de disputa entre grandes blocos, reminiscentes dos acordos da Conferência de Yalta. Enquanto a Europa e a Eurásia se tornam áreas de influência de Vladimir Putin, a China consolida seu domínio na Ásia. O que resta para os Estados Unidos? Um hemisfério ocidental sob seu total controle, sem espaço para posicionamentos independentes de países como o Brasil.

Trump não reconhece a autonomia das potências médias. Para ele, nações como o Brasil não têm o direito de estabelecer seus próprios rumos – apenas de se alinhar às decisões de Washington. Esse novo paradigma significa que a flexibilidade que o Brasil manteve nos últimos anos, equilibrando relações entre China e EUA, pode estar com os dias contados.

O Brasil e Sua Vulnerabilidade Estratégica

A fragilidade do Brasil nesse novo contexto não é obra exclusiva de Trump. Durante décadas, a política externa brasileira oscilou entre a busca por autonomia e uma postura passiva diante das grandes potências. Sem um planejamento estratégico consistente, nossa diplomacia foi sendo moldada pelas circunstâncias, sem um norte definido.

A dependência econômica brasileira amplia ainda mais essa vulnerabilidade. O país é um dos principais exportadores de commodities para a China, mas mantém laços comerciais essenciais com os Estados Unidos e a Europa. Se uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo se intensificar, o Brasil pode até ter ganhos imediatos no agronegócio, mas, no longo prazo, enfrentará um cenário de instabilidade.

Além disso, setores estratégicos como a indústria de defesa e tecnologia podem ser diretamente afetados. O Brasil tem acordos militares e tecnológicos tanto com potências ocidentais quanto com países do grupo BRICS. Se Trump adotar uma postura mais agressiva contra aqueles que mantêm relações com a China e a Rússia, o Brasil pode se ver pressionado a fazer escolhas que limitem seu desenvolvimento.

O Futuro do Brasil no Cenário Geopolítico

A pergunta inevitável é: o que o Brasil pode fazer para reduzir sua vulnerabilidade e evitar ser apenas um espectador no tabuleiro geopolítico?

Primeiramente, é essencial fortalecer alianças estratégicas que garantam maior autonomia ao país. O Brasil precisa diversificar ainda mais seus parceiros comerciais e tecnológicos, reduzindo sua dependência de um único bloco de poder. O fortalecimento de laços com a União Europeia e países emergentes pode ser uma alternativa para escapar da polarização entre China e Estados Unidos.

Além disso, o Brasil precisa desenvolver uma estratégia externa clara e consistente, baseada em seus interesses de longo prazo. Isso inclui um debate aprofundado sobre qual papel o país quer desempenhar no mundo e quais setores devem ser prioritários em sua inserção internacional.

Por fim, é necessário fortalecer a base industrial e tecnológica do país. Investimentos em inovação, defesa e infraestrutura são fundamentais para garantir que o Brasil tenha mais poder de barganha em um mundo onde a força econômica e militar definem os rumos da diplomacia.

O retorno de Trump pode ser apenas um dos sinais de que a política internacional está entrando em uma nova fase, menos previsível e mais agressiva. Se o Brasil não quiser ser apenas um espectador nesse processo, precisará agir agora para definir seu próprio caminho – antes que outros o façam por nós.

Participe no dia a dia do Defesa em Foco

Dê sugestões de matérias ou nos comunique de erros: WhatsApp 21 99459-4395

Apoio

Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário!
Digite seu nome aqui